Capítulo 63

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Capítulo 63

Gretta

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      Se sentir amado é uma das melhores sensações de toda uma existência. Desde que nascemos somos amados... Seja na hora em que recebemos nosso primeiro banho, até o nosso primeiro beijo escondido no colégio. O amor é relativo e diversificado. Se você não ama o calor, não significa que todas as demais pessoas no universo terão que odiar o verão. Gostos são exatamente assim mesmo, singulares... Até porque se todos gostássemos das mesmas coisas, muitos detalhes perderiam a graça e outros tão pouco existiriam. No meu caso, quando me sinto amada, ou amo com toda as minhas forças é quando estou na companhia de uma amizade. Não importe em qual grau ela é ou esteja. Não ligo se a amizade que tenho com o senhor que entrega as cartas no bairro onde morei não é a mesma amizade que tenho com a garota que é tão louca quanto eu e divide o quarto na faculdade comigo. Amizade é amizade e tenho pra mim que se você consegue tornar o dia de alguém um pouco que seja melhor, essa pessoa já passa a ser sua amiga. Uma amizade minúscula, como um grão de areia, porém amizade. Nada se constrói sem amigos, nem mesmo um relacionamento, se você não é amiga do ou da sua parceira, significa que apenas não é para ser. E é exatamente esse sentimento que está transbordando de meu corpo nesse exato segundo. O mesmo sentimento que senti ontem quando Gregory me beijava sem pressa; Companheirismo.

        Rios de lágrimas escorrem por minhas bochechas e ao mesmo tempo que quero me permitir chorar, quero parar pois a maioria das pessoas ligam lágrimas à acontecimentos ruins... O que é de longe o que quero que elas pensem. Quando aos poucos as meninas vão me soltando, consigo limpar meus olhos, sorrindo para cada uma companheira de equipe. Elas são demais. Minha atenção só é fisgada delas quando Fiona entra em meu campo de visão uns passos à nossa frente. Respiro fundo e as garotas permanecem ao meu lado. Julie cruza seus braços em sinal de deboche e os olhos de Fiona correm todas as garotas. A situação estava me deixando nervosa. Nunca enfrentei Fiona, muito menos com um exército de lobas — segundo Julie — do meu lado do tabuleiro. É como se de repente os peões se rebelassem contra todas as outras peças, incluindo a rainha.

— O que estão fazendo? Voltem a treinar! — Fiona rosna ao perceber que o estava acontecendo em frente aos seus olhos.

— Não — a voz de Julie causa um efeito estranho em minhas entranhas; pois ao mesmo tempo que quero desesperadamente pedir para que elas obedeçam Fiona, quero gritar; "Cortem a cabeça!".

— Ah não? — Fiona pousa seus olhos azuis em cima de Julie.

— Não, queremos a Gretta de volta na equipe, porque não foi só ela que fez tudo isso — minha melhor amiga desafia a rainha do tabuleiro.

— E vocês acham que eu não sei? — Fiona reveza olhar nas demais garotas, sem nunca olhar para mim — Sei muito bem quantos buracos teve a meia, e sei que um só rato não poderia ter feito eles sozinho, porém punindo aquele rato, os demais aprendem que só se roe queijo — a mulher no seu habitual conjunto de moletom pronúncia cada palavra como se soubesse exatamente o poder que elas tem sobre mim.

— Ratos? Sério, treinadora? — Julie surpreende não só a mim, quanto as demais garotas da equipe quando não se cala perante a treinadora — 1°) já entendemos que o que fizemos foi errado, 2°) Gretta é uma das melhores ginastas da equipe, ou seja tirar ela é como tirar um pé de uma mesa e 3°) péssima comparação, tipo sério, quem usa ratos como comparativos? — a careta de Julie é impagável, assim como a de Fiona.

        Por mais nervosa que estou, me sinto orgulhosa. Pelo simples fato de que Julie realmente é uma loba quando o assunto é proteger seus amigos, essa discussão é a prova disso, pois minha melhor amiga por mais que eu saiba que ela está com medo — afinal todos tem medo de Fiona — se mostra com disciplina e sensatez, enquanto pronúncia cada palavra com firmeza.

Talvez NamoradosWhere stories live. Discover now