Capítulo I

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Matthew on

-ACORDEM SEUS PIRRALHOS IMUNDOS!-grita o homem demônio- VOCÊS TÊM UM NAVIO INTEIRO PARA LIMPAR!

Cerro os punhos irritado. Seguir ordens nunca foi meu forte. Sobretudo quando se é escravo em um navio de piratas sequelados.

-Calminha aí, grandão-escuto a voz da única pessoa que me traz paz em tanta desgraça

-Oi, pequena-digo me virando e me deparando com aquela que me faz rir desde que chegou aqui

Eu tenho 12 enquanto ela tem 10. Não sei o nome de verdade de absolutamente ninguém dentro deste navio e obviamente eles não sabem o meu.

Tudo isso baseado no conceito de que não somos ninguém, somos apenas ferramentas. Não há individualidade, não há identidade para pessoas como nós que somos submetidos à ordens de um capitão egoísta e ultrapassado.

Estou aqui há 7 anos, graças ao meu pai que me trocou por uma garrafa de rum e alguns cigarros. Excelente pai, não é mesmo?

Desde os 5 anos sendo criado por marujos bêbados e um capitão imbecil que não dá as caras e não se preocupa com sua tripulação.

Foi então que em uma noite ela foi simplesmente jogada porta a dentro. Uma garotinha de 6 anos, cabelos negros como a noite e olhos azuis como o mar. 

O convés, repleto de crianças e até mesmo idosos na mesma situação que nós, ficaram assustados com a presença de uma garotinha naquele meio.

E então, quando um senhor foi ajudá-la a se levantar, ela o chutou bem no meio das pernas e gritou alto e claro: NÃO ME ENCOSTEM, SEUS IMBECIS

Eu, que não ria há anos, não contive uma estrondosa risada ao ver o pobre senhor se contorcendo na frente de uma garotinha de meio metro.

Óbvio que ela me olhou com um olhar mortal e depois disso viramos melhores amigos.

-Preparada para mais um dia de limpeza?-indago e ela revira os olhos

-Eu fico com a proa dessa vez-fala sorridente

-Nem a pau!-falo irritado- e se o idiota do capitão aparecer na poupa e decidir falar: "SEU IDIOTA, LIMPE O CHÃO ATÉ QUE POSSA VER MEU ROSTO NELE"-falo imitando a voz do homem que odeio e a garota começa a rir

-Aí você limpa o chão e o presenteia com um espelho-fala dando de ombros e essa é minha vez de rir

A pequena era inteligente e tinha uma língua afiada para uma garotinha de 10 anos. Com cabelos cacheados e negros e olhos azuis poderia até passar por uma nobre, mas com essa furia e determinação? Ela nunca ficaria sentada sem fazer nada.

-Eu fiz algo para você-falo antes que me esqueça

-Você? Fazendo algo pelos outros? Achei que só roubasse carteiras por aí quando atracamos-pontua cruzando os braços e eu reviro os olhos

-Eu roubo desde os 6 anos, pequena, não me venha com esse papo. Sou o melhor ladrão que esse mundo já viu-pontuo orgulhoso

A vida não era fácil para nós, pobres. Todos aqueles que nasciam fora dos palácios das ilhas eram simplesmente esquecidos e tratados como lixo.

Meu pai nunca me quis e minha mãe morreu no parto. O que restou foi eu e um bêbado que que me usava para aplicar golpes.

E quando isso não foi suficiente ele me jogou para trabalhar em um barco em troca de bebida e cigarro.

Todos nós que estávamos neste convés, amontoados e dormindo no chão com a presença apenas de um cobertor rasgado e pequeno, não tínhamos outra escolha a não ser trabalhar involuntariamente.

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