Namorado

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 Em uma noite de inverno há vinte anos, Londres.

O relógio antigo na parede marcava exatas oito horas. A noite estava um pouco mais fria do que o esperado para aquela sexta-feira. Aziraphale olhava seu reflexo no espelho enquanto fechava um dos botões de seu terno. Foi até a escrivaninha no canto de seu quarto, ao lado da cama, e pegou sua gravata tartan, voltando até o espelho para ajustá-la em volta de seu pescoço. Estava inegavelmente bonito. Decidiu que esperaria por Crowley em sua livraria, no andar inferior. O lugar tinha livros espalhados por todos os lados, era sua bagunça organizada, ele sabia onde estava cada coisa.

Crowley dirigia imprudentemente pelas ruas movimentadas, desviando de outros carros e ignorando xingamentos de outros motoristas. Batia os dedos finos no volante e cantarolava a canção que tocava no rádio do automóvel. Estava ansioso. Com um milagre demoníaco, de alguma forma os três carros da sua frente decidiram que precisariam fazer uma curva para a direita, liberando o caminho para que ele passasse. Já estava perto. Apenas três ruas e ele chegaria lá. Ele acelerou o carro. Desviou de um último pedestre, virou à esquerda e já podia ver a livraria. Freou o carro quase em cima na calçada e desceu.

— Anjo? — Ele chamou pelo amigo após entrar na livraria.

— Estou aqui. Já vou. — A voz veio dos fundos, entre as prateleiras, onde ele sabia que tinha um aconchegante sofá.

Aziraphale se apressou em remover os óculos do rosto e colocar o livro de volta em seu lugar na prateleira. Fechou os botões do terno novamente enquanto caminhava para onde o amigo estava.

— Boa noite, querido. — Ele se aproximou e beijou a bochecha do ruivo.

Crowley sentiu sua bochecha enrubescer.

— Podemos ir? Está pronto?— O demônio perguntou, já virando para abrir a porta para que os dois saíssem.

Logo os dois estavam dentro do carro. Crowley colocou uma de seus CDs para tocar e Aziraphale, com a liberdade que já tinha, abaixou um pouco o volume, recebendo um olhar indignado por parte do outro.

— Devagar, por favor. — Ele disse assim que o carro começou a se mover. — Aliás, você está bonito.

— Eu sempre vou devagar. — Crowley resmungou mal-humorado, ignorando a última parte do comentário do anjo.

O anjo não se deixou abalar pelo humor do amigo, ele o conhecia bem demais e sabia que era só drama para não aceitar elogios. E Crowley estava realmente muito bonito, usava um requintado terno na cor preta, combinando perfeitamente com seus cabelos ruivos. Aziraphale mantinha um sorriso no rosto como se soubesse de algo que quisesse muito contar para alguém. Ele havia feito Crowley corar mais uma vez. Estava ficando bom nisso. Por Deus, ele estava tentando muito se controlar para não fazer um comentário sobre ter deixado o ruivo sem jeito.

O silêncio dentro do carro não os incomodava, era comum que passassem longos períodos juntos sem que precisassem ficar conversando. Às vezes o demônio ia até a livraria apenas para ficar lá enquanto Aziraphale preparava um chá ou lia um livro. Apesar de toda a amizade entre eles e de sempre (ou quase sempre) contarem o que estava acontecendo, algo estava mudando e eles não conversaram sobre isso. Bochechas coradas e trocas de sorrisos estavam de tornando cada vez mais frequentes.

Crowley era o mais afetado com toda a situação.

Demônios não deveriam sentir aquilo, ainda mais por um anjo.

Ele pensava se Aziraphale ainda ficaria ao seu lado se tivesse certeza de seus sentimentos. Sentia-se sufocado por todas essas novas sensações. Às vezes, quando estava conversando com Aziraphale ele acaba se aproximando até demais sem querer, era como se seu corpo reagisse sozinho e ele fosse puxado em sua direção. Não estava sabendo lidar com isso.

Fix youWhere stories live. Discover now