Capítulo 1

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Mais uma manhã gloriosa. O bosque já se enchia de crianças, e os mais velhos as assistiam com um sorriso sincero e acolhedor. Eu andava de um lado para o outro, ainda não estava familiarizado com aquilo tudo. Eles me pedem para ficar calmo, e eu me apavoro todo sempre que ouço isso.

Cheguei a poucos dias, e na verdade já perdi a noção do tempo. Já não me lembro de tanta coisa, sequer me lembro de como consegui chegar aqui.

— Tudo ao seu tempo! — Diz um senhor que mais parecia um anjo do que um simples desencarnado.

— O que faço aqui?

— Você está no descanso divino. Veio no seu momento, e agora é hora de colher os frutos da sabedoria de sua vida anterior recém-deixada. — Ele sorri.

Todas as manhãs eu sou levado para uma espécie de templo, onde fazem preces, me ouvem. É como um aconselhamento espiritual. Por alguma razão eu pedir toda a memória da vida que deixei. Em poucos dias fui designado para ajudar os recém desencarnados, acolhê-los. Eu ainda não estava pronto para visitar o lugar onde eu chamava de trevas quando ainda estava na vida terrena. Aqui nós chamamos de umbral. Há o vale dos suicidas e outros tantos, que abrigam os que não conseguem alcançar a benção divina de estar no céu. Como é o céu? Parece um lugar como outro qualquer, só que com mais verdes, mais alegria, mais animais livres e pessoas solidárias. Imagina um lugar perfeito para viver! Este é o lugar.

Não sei dizer se encontrei entes queridos, fui recebido por um senhor com mantas brancas e com olhares ternos. Eu estava todo sujo de sangue e completamente perdido. Não sabia onde eu estava, não sentia dor nenhuma, e dizem que isso é raro quando se deixa a vida terrena daquela forma tão dolorosa.

A cada dia que passava eu adquiria mais sabedoria e conhecia Deus através de todas as coisas, sentia-o em tudo e não queria mais sair deste lugar. Eu sinto o meu espírito livre e acho que de alguma forma eu estava preso em algum lugar antes de chegar aqui. Eu me sinto completamente aliviado.

— Como nós falamos há algum tempo, você poderia ser designado para cuidar de alguém na terra. — O senhor de barba branca e de óculos finos se aproxima com as mãos para trás e atento enquanto me dirige a palavra.

— Como um anjo? — Perguntei, curioso.

— Mais ou menos isso, como um anjo. É assim que costumam nos chamar na terra, não é?

— Por que irei agora? Não acha que é cedo ainda?

— Já se passaram algum tempo, e o Criador deseja que você realize essa tarefa.

— Tudo bem. Só não sei como fazer isso. Preciso de algum treinamento, algum preparo? — Ele ri, como se eu tivesse dito alguma piada.

— No seu caso não precisa de nada. É apenas parte da sua evolução.

E então, fui enviado à Terra pouco tempo depois, sem muitas instruções, o que certamente me deixou inseguro. A passagem do meu "novo lar" para a Terra era como se jogar de um abismo, porém, você sente que está em um foguete na velocidade da luz com direito a mil cores flutuantes ao seu redor, e quando menos percebe, está pisando em um chão massivo, ouvindo barulhos de carros, e as tantas vozes que caminham lado a lado ou à frente.

Não sei dizer quanto tempo se passaram até chegar, mas sinto que foram apenas dois minutos. No paraíso não sentimos o tempo passar, o relógio não existe. Temos a lua e o sol, e a natureza é o nosso chamado. Não sinto fome nem sede. Não sinto dores nem cansaço ou sequer necessidades físicas. A maior parte do tempo eu fico no bosque lendo ou meditando. E então sou permitido a visitar a terra e acompanhar os encarnados. Tudo parece normal. As pessoas não me veem, não sentem a minha presença, sempre passam direto. Eu sou invisível.

A Última Lágrima do ParaísoWhere stories live. Discover now