Capítulo 2

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— Dimitrius, eu acho que ela me viu. Não sei como... Mas ela sabia que eu estava la... —Dimitrius me observa como se estivesse me analisando ou não entendendo o que eu dizia. Houve uma longa pausa. Ele não dizia nada e eu ficava ainda mais inquieto.

— Dimitrius, você me escuta? — Insisti.

— Sim. E você se escuta? — Não entendi a pergunta. Fiquei mais confuso ainda com o olhar dele. — Ela não pode te ver. A menos que tenha força o suficiente para permitir que seja visto.

— Como assim?

— Nós somos feitos de energia e matéria. Quando desencarnamos, ainda temos energia. Ela tem força quando você a controla. Pode reter ou dividi-la conforme seu ritmo e evolução.

— Então quer dizer que eu dividi essa tal de energia quando tentei evitar o acidente?

— Sim. Seus sentimentos foram além do esperado de um desencarnado. Você nutre uma antes de tudo, uma energia por Grace. Pode dar tantos nomes quiser a isso, alguns chamam de alma penada, coisas mal assombradas. Mas são energias emanadas por um espírito inquieto. A moça não te viu, ela te sentiu.

Eu quis ter certeza do que ouvira de Dimitrius. Apesar de ainda estar chocado com o que fui acabar de fazer para salvar Grace, me sentir aliviado por ter conseguido protege-la daquela forma. Ela não podia me ver, mas sabia que eu estava ali. Eu a abracei e impedi que algo a machucasse. Ela sabia que algo a protegia.

Fiquei por longos dias com pensamentos inquietos desde o incidente. Eu não estava acompanhando Grace. Tirei um tempo para mim, para entender o que estava acontecendo e aprendendo a me controlar. Assisti reuniões e conversei bastante com outros mentores. Ajudei os novos desencarnados e fiquei um pouco no hospital, onde geralmente os desencarnados ficam logo que chegam. Assim, se sentem mais confortáveis e aceitam melhor sua nova condição. Precisei ocupar a minha mente. Busquei a Deus em tudo, e pedi que guardasse Grace na sua eterna proteção e misericórdia.

— Não está com Grace. Está se afastando? — Dimitrius me pega de surpresa durante a minha meditação em um fim de tarde.

— Só estou dando um tempo. Fiquei assustado, mas agora estou melhor.

— Como estão os seus sentimentos?

— Não sei dizer. Sinto falta dela, quero estar com ela a cada segundo, a cada instante. Não posso fazer muita coisa nessas condições. Isso me frustra.

— A paciência é uma das grandes virtudes, rapaz.

— O que quer dizer?

— Que você está fazendo a pergunta errada para si mesmo.

— Pergunta errada? — Tento chegar a uma conclusão, mas me sinto perdido e concluo que Dimitrius não estava falando a mesma língua. — Não estou questionando nada.

— Você diz que sente falta da moça, que quer estar com ela. Inevitavelmente está questionando como resolver isto. Como estar com Grace em forma humana?

— Eu sou desencarnado, isto eu já sei. Não me cobro pela minha condição. Já aceitei isto.

Dimitrius se senta ao meu lado acariciando a grama. Ele ajeita os óculos e me olha nos olhos.

— Veja essa grama. Ela está linda, verde e macia. Se espalhou por toda a terra, protegendo-a do sol. A terra recebe suas raízes, ajudando-a crescer e cobrir-se toda. — Eu o observando apontando para a terra a frente, fazendo gestos atentos — O amor é isso. Você recebe as sementes e floresce. Se corresponde com a troca.

— Onde quer chegar com isso? Grace e eu não podemos ficar juntos, então meus sentimentos não poderão ser correspondidos.

Dimitrius fica em silêncio, num suspiro profundo e calmo. Eu respiro fundo tentando acompanha-lo.

A Última Lágrima do ParaísoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum