i will escape death for you

02/05

Música: 20 Min - Lil Uzi Vert

02/05 - Ele

Aproveito o raro momento de paz em que estou de volta à suíte do meu hotel em Los Angeles e me jogo na cama. Nos meus headphones está tocando "20 Min" do Lil Uzi Vert, um dos meus rappers favoritos. A vida sempre fica melhor com um pouco de música.

Eu tinha acordado hoje disposto a sair para jantar com uns amigos que moram aqui, mas o longo dia de trabalho — lotado de reuniões e conversas intermináveis  — me sugou toda a energia. Se eu estivesse em casa, isso certamente significaria uma ida à cozinha para preparar minha especialidade: Les Pâtes de Merde (o título é cortesia da minha irmã). Nada como um espaguete rápido e sem gosto para encher o estômago. Mas aqui, enfurnado mais uma vez em uma suíte impessoal de hotel, tenho à disposição um menu completo para o serviço de quarto. Ligo para a recepção e peço um sanduíche com fritas.

Abro o WhatsApp e respondo todo mundo que preciso responder, desde as mensagens mais idiotas (como os memes sobre mim que Penélope acha na internet e faz questão de me mandar) até as realmente importantes (como as notícias sobre os contratos de filmagem que Bruno enviou).

Respiro fundo e encosto a cabeça no travesseiro. Não posso adiar isto para sempre.

Volto a instalar o Twitter e o Instagram no celular e clico nos aplicativos com dedos nervosos, já esperando as inevitáveis notícias.

Mas não há nada. Nenhuma novidade sobre mim. Nenhuma foto recente. Nenhum vídeo. Nenhuma matéria com o título "Mathieu Clermont está solteiro pra cacete", como eu esperava encontrar.

Ela não abriu a boca.

Eu fico dividido entre alívio e um sentimento estranho que não consigo nomear num primeiro instante... algo como decepção. Se por um lado estou grato por ela não ter espalhado para o mundo a nossa conversa, por outro sinto como se isso significasse que eu não importo para aquela garota, que não sou memorável o suficiente para ela, por mais absurda e despropositada e até mesmo egocêntrica que essa ideia possa parecer. É algo que não tenho o direito de sentir, sei disso, mas ainda assim não consigo evitar me sentir do jeito que sinto. Talvez eu tenha dado importância demais àquela conversa no bistrô. Quero dizer, porra, ela nem se lembrou de que já tinha falado comigo naquele restaurante no final de março. Lá estava ela, bebendo café e frustrada com a página em branco no laptop, completamente alheia àquela noite em Budapeste, completamente alheia a mim, enquanto eu tinha anotado as suas palavras no diário.

Deus, espero que isso não soe pretensioso, mas eu queria fazer a diferença para ela, nem que fosse uma diferença microscópica, mas eu queria ajudá-la de alguma forma, ajudá-la do mesmo jeito que ela me ajudou naquela noite. E o pior é que nem sei se consegui fazer isso. Talvez não — eu me lembro de como terminamos aquela conversa no Babette de modo abrupto e desajeitado, de como ela parecia querer se livrar da minha presença e não sabia como fazer aquilo educadamente. A possibilidade de ter falhado com ela é assombrosa; odeio me sentir em dívida com alguém.

Se eu contasse sobre esse novo encontro ao Nick (graças a Deus tive algum bom senso desta vez e não contei), ele com certeza me chamaria de lerdo novamente. "Se você estava tão preocupado assim em ser útil, por que não pediu o número dela para perguntar depois?", eu o imagino dizendo para mim com uma expressão impaciente no rosto. Eu não queria ser mal-interpretado, Nick. Não queria que ela pensasse que eu estava dando em cima dela ou algo assim, nada disso, minhas intenções nunca foram essas.

Bom, agora já era, de qualquer forma. Não é como se eu fosse encontrá-la de novo no futuro. Talvez eu só devesse esquecer a coisa toda e seguir com a minha vida. Aumento o som e canto a letra para mim mesmo, tentando esvaziar meus pensamentos.