QUATORZE

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  ◇◇  ◇◇  ◇◇ Rafael ◇◇  ◇◇  ◇◇

Encosto a cabeça na parede atrás de mim e fecho os olhos. Já faz duas horas que estou aqui. Lily ainda não abriu a porta. Mas eu vou continuar aqui até que ela se sinta pronta.

— Nada? — Mila pergunta se sentando ao meu lado.

Nego com a cabeça. Ela me entrega uma caneca com chá quente. Agradeço e me sorvo de um gole. Mila não fala nada. Ela tenta falar com a Lily, mas recebe o silêncio novamente. Ela suspira e desce as escadas me deixando sozinho.

— Eu ainda estou aqui, a propósito. Estou te esperando, leve o tempo que quiser. Tenho um chá e joguinhos no meu celular, posso ficar aqui por um bom tempo — sorrio mesmo sabendo que ela não vai ver e que é um momento inapropriado para piadas.

Escuto um barulho vindo lá de dentro e me aprumo no chão. São passos. Seus passos leves se sobressaem pelo silêncio do ambiente. Me sinto aliviado apenas por saber que ela está realmente ali.

— Lily? Quer conversar agora? — silêncio por alguns minutos.

Então eu escuto o som de uma fechadura sendo aberta e me levanto do chão em um pulo. A porta branca se abre e a imagem que vejo é de partir o coração. Lily usa o conjunto dos X-Men que eu dei a ela como piada, enquanto veste uma calça também de moletom e meias coloridas. A pele branca está vermelha e os olhos inchados tentam esconder o dourado bonito. Ela funga. Entro no quarto rapidamente, com medo dela mudar de ideia e fechar a porta de novo.

Tomo ela em meus braços e a aperto contra mim. O quarto, como sempre, está congelando. Ela ama o frio. Não consigo soltá-la. Abraçado a ela, caminho até a cama.

— Você quer terminar? — sou obrigado a me separar dela ao escutar suas palavras.

— Como é?

— Você quer terminar?

— É claro que não. Você não escutou nada que eu disse?

— Talvez agora você tenha uma ideia real de como será ter um relacionamento comigo. Vai ser isso, Rafael. Ter notícias nossas espalhadas por sites de fofoca, dizendo que você namora uma garota doente. Eu lembro do dia que você disse que eu era a única a me intitular como garota doente, mas isso foi quando eu era anônima. Agora, todos sabem quem eu sou, e eles odeiam quem eu sou. Porque eu tenho uma doença.

— Isso vai passar. Talvez tenha sido o modo como a notícia saiu, nós. . .

— Não, não vai passar. Porque o câncer não passa. Eu vou sempre ter câncer e eles sempre vão odiar e comentar isso. E você é uma figura pública. Tem uma imagem a manter e uma reputação a zelar. E eu estrago tudo isso. Talvez ficarmos juntos não seja a melhor opção.

— Como é? Você quer terminar? — pergunto com o coração batendo forte.

Ela assente desviando o olhar.

— Não acredito nisso. Em nada disso.

— Mas deveria. Eu quero terminar.

— Não.

— Não?

— Não.

— Não pode fazer isso.

— Sério? Acabei de fazer. Nós não vamos terminar.

— Vamos sim. Na verdade, já terminamos. Tchau.

— Tem certeza disso? Porque você nunca mais vai me sentir. Nunca mais me terá. Nunca mais me verá. É isso que quer?

— S-Sim.

A Garota da Fita Vermelha Место, где живут истории. Откройте их для себя