TRINTA E OITO

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◇◇ ◇◇ ◇◇ Rafael ◇◇ ◇◇ ◇◇

Acordo sentindo mãos tocando meus ombros. Por um estante penso que é a Lily me acordando com suas massagens gostosas e seus beijos carinhosos. Ela sempre me acordava assim. Mas eu escuto a voz da Nina e abro os olhos.

— O quê aconteceu? — pergunta, preocupada.

Passo meus olhos ao redor e vejo que dormi com a cabeça apoiada na mesa. Ao me sentar ereto, sinto minhas costas reclamarem.

— Você disse não? — Nina pergunta com os olhos aumentados.

— O pedido nunca chegou a acontecer — ela me olha mais confusa ainda. — Eu terminei com a Lily ontem à noite.

— Você fez o quê? — grita.

Então, ela começa a me xingar de todos os nomes que ela conhece. Quando o vocabulário em inglês acaba, ela parte pro italiano. Mas, de repente, ela para e me olha.

— Aconteceu alguma coisa. Você não ia terminar com ela assim do nada. Você estava parecendo um quadrúpede de tanto que a ama — ela diz.

Não posso evitar sorri um pouco ao escutar sua comparação. Ela me olha e sorri pequeno. Nina puxa a outra cadeira pro meu lado e me abraça apertado. Tinha esquecido o quão seu abraço é reconfortante. Ela acaricia minhas costas, e tenho vontade chorar novamente.

— Quer conversar? — ela nos separa.

— Não — não posso falar nada a ninguém. Se tentarmos fazer algo contra Caleb, ele vai publicar tudo aquilo em poucos segundos.

— Está bem. Quando quiser, estarei aqui — assinto com a cabeça.

Ela pega as alianças e sorri triste para a folha.

— Você não sabe quantas vezes ela escreveu e reescreveu esse discurso. Lily estava bem nervosa. Essa foi a versão que ela mais gostou, então ela botou embaixo do prato e tentou memorizar isso, com medo de não saber o que falar na hora — nós dois sorrimos.

— É bem a cara da Lily fazer isso.

— Sim, é.

Paro um pouco e penso na ideia que venho pensando há um tempo. Acho que esse é o momento perfeito para realizar isso.

— Eu vou passar um tempo longe — digo.

Os olhos verdes iguais aos meus se voltam pra mim com rapidez.

— O quê quer dizer?

— Quero dizer que vou passar um tempo longe. Fazer uma viajem sem data de retorno.

— Mas e o time?

— Vou sair — as palavras me doem, mas não tanto quantas as que eu disse à Lily.

— Vai sair? Vai se aposentar?

— Vou. Estou jogando profissionalmente desde os meus vinte. Estou cansado. Conquistei todos os meus sonhos, profissionalmente falando, e quero focar em outros sonhos.

Mesmo que meu único sonho esteja apagado sob efeito de remédios nesse momento.

— Eu estou surpresa. Achei que você jogaria por uns dois anos ainda. Mas tudo bem. Está na hora de se aposentar, velhote — ela brinca.

Sei que Nina está tentando quebrar o gelo e o clima ruim, e eu agradeço mentalmente por isso.

— Vou falar com o treinador hoje e fazer toda aquela burocracia — anuncio.

Depois de um banho, saio em direção à nossa arena. Eu já estava planejando a ideia de me aposentar e sair das quadras. Mas não planejava para agora. Talvez no final do ano que vem. Queria aproveitar mais uma temporada, sabendo que é a minha última. Depois eu me despediria oficialmente das quadras. Mas não tive muitas opções. Pelo menos eu já estava pensando nessa ideia, então não está sendo tão ruim. Ou então seja por quê eu já fiz a pior parte, e agora nada mais parece ruim.

A Garota da Fita Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora