Capítulo IV

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Quando não estava participando dos eventos que a família organizava ou comparecia, desde que terminou os estudos, Evangeline passava o tempo em casa, estudando piano, ou pintando.

Quando tocava piano ou pintava uma nova tela era como se nada mais no mundo existisse. Sentia como se sua alma sobrevoasse os céus, livre e desimpedida.

Sua mãe e irmã não entendiam muito bem como ela podia gostar de passar tanto tempo praticando, mas ela não se importava. Era um sentimento único que só ela compreendia.

Um dia, quando estava lendo o jornal que sempre roubava escondido do escritório do seu pai, ela leu um anúncio que a deixou em êxtase. Dizia:

"Academia de Artes Londrina aceita novos estudantes

A Escola de Arte Londrina, que tem se tornado uma referência no ensino de artes plásticas, música, ballet e literatura, está aberta para a matrícula de novos estudantes.

Para se candidatar os interessados devem enviar uma demonstração da sua expressão artística, seja uma tela de pintura, —para os estudantes de artes plásticas, —, um poema ou texto não maior que duas páginas — para os aspirantes da literatura, —, uma composição musical original — para os musicistas, —, todos estes sob o pagamento de uma taxa de 200$ libras e para os dançarinos de ballet, será necessária uma audição, à qual os estudantes deverão se candidatar, mediante pagamento de uma taxa de inscrição de 300$ libras.

O processo se estenderá até o mês de janeiro do ano posterior, (1854), e as cartas de aprovação ou rejeição serão encaminhadas pelo correio.

Abaixo encontra-se o formulário para preenchimento.".

Havia na página seguinte uma folha que deveria ser recortada e enviada junto com a obra de inscrição. No mesmo momento, Evangeline se enche de esperança. Era aquilo que ela vinha esperando há tanto tempo: uma chance de estudar artes e se tornar uma grande compositora. Já tinha diversas composições no piano, só precisava encaminhar a melhor delas (restava escolher qual era).

Mas de qualquer modo, a noite de natal era no dia seguinte, e a oportunidade de se candidatar era como um presente chegado em hora certa.

Depois disso, ela espera ansiosíssima para que seu pai chegue em casa. Ele entra pela porta à noite, com um olhar exausto e a pisada densa.

Ao passar pela porta, desata sua gravata e retira o paletó, respirando aliviado. Sua esposa Célia se aproxima dele e pega o seu paletó e gravata, eficiente, e entrega à criada dando ordens para que os guardasse.

— Sente-se, querido. Como foi o dia hoje?

Ela convida, mostrando o sofá da sala. Ele desaba, deixando o corpo gordo afundar o acolchoado do móvel.

Polly estava sentada em uma poltrona ali perto, tricotando à luz do abajur. E Evangeline, que estava no seu quarto, aguardando atentamente o som dele passando pela porta, dispara pelo corredor e aparece na sala de estar, com os olhos brilhando de expectativa.

— Boa noite pai, como foi o trabalho hoje?

Ela pergunta, tentando conter a excitação, unindo as mãos detrás dos quadris, onde segurava o jornal com a notícia.

Polly a observa com um pequeno sorrisinho doce, pois já sabia do que a irmã pretendia fazer. Ela contara assim que soubera.

— Cansativo, como sempre — suspira o pai, pesadamente. — mas um homem deve fazer o que é preciso para sustentar sua família.

— Fico feliz que as coisas estejam indo bem, pai. — ela responde, educada — na verdade, tenho algo a tratar com o senhor..

O pai se remexe no sofá, inquieto. Estava desconfortável pelo dia de trabalho e a última coisa que queria era ouvir as tagarelices da filha.

A Irmã da NoivaWhere stories live. Discover now