1° Melissa

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(Indicação de música, Mc Hariel- Maçã verde.)

S

abe o que me atrai em você samuka? - jogo o lençol em cima da minha bunda e viro de bruços encostando o queixo no peito dele.

O que? - ele acende um baseado e traga.

O sigilo que tu faz de tudo que acontece aqui.- pego o baseado dele e puxo e prendo.

O sigilo é a alma do negócio Mel.- eu ri.

Então tu não tem medo do meu pai? - ele nega e me passa o baseado de novo.

Chuck? - ele ri.-cara gente boa po, se pá ele até já sabe, tu que tá aí achando que ele é besta.

Pode ser.- até que faz sentido, meu pai não se mete na minha vida, mas sabe de muita coisa. - preciso ir, vou passar na minha vó.

Levanto e tomo uma ducha, pelo meu corpo as marcas do sexo violento que eu tive, sorri lembrando de como eu e o Samuel nos entendemos na cama.

Não ele não é meu namorado, ele é só um dos traficantes daqui e meu melhor amigo, mas enfim deixa eu me apresentar né.

Prazer Melissa, tenho 18 anos e moro com meu pai no Rio, me mudei pra cá com 14 anos, depois de uma invasão no morro do meu padrasto lá em São Paulo.

Um traficante foda de lá queria acabar com ele e cogitou a possibilidade de me sequestrar, aí minha mãe ficou maluca, nem dormia de noite, então meu pai, meu tio e meu avô foram me buscar com mais uns caras aí.

Na época era assustador, mas ao mesmo tempo era muito legal, me sentia uma princesa, aliás eles sempre me trataram assim, sério hoje com 18 anos acho que tudo isso não passa de exagero, mas vai tentar ser a filha única no meio de três marmanjos.

Bora, te deixo na Bru e vou pra boca, os mlk disse que hoje seu tio tá puto.- olhei no cel e vi a data.

Ele sempre fica assim nessa data.- Samuel suspirou.

Um ano da morte do chefe, acho que esse morro nunca vai se recuperar sabia? - ele pega minha mão e saímos, ele me deixou na minha avó e saiu.

E aí gatinha.- Guto me beija.

E aí tio. - ele ri.

Já te falei pra não me chamar assim, tenho mesma idade que tu po.

Se reclamar começo a pedir bênção.- dei risada junto com ele.

Tô saindo, vou rodar por aí.- ele pega a chave da moto.

Você tá bem? - ele olha pro nada, fica um tempo pensando e depois chacoalha a cabeça.

Não, mas vou ficar.- ele sai, eu subo pro quarto e vejo a Bru chorando abraçada a enorme camisa do GM.

Oi.- ela me olha e chora mais ainda, eu abraço ela, pra ser sincera, se eu podesse pegaria pra mim toda dor que ela tá sentindo, essa mulher é uma puta fortaleza, mas quando desaba da dó.

Fiquei a tarde toda com ela, de noite quando fui pra casa, a favela estava toda quieta, ninguém na rua, a única luz dali era dos postes espalhados pelo morro.

Tá fazendo o que na rua essa hora? - a voz grossa do meu tio ecoa na rua.

Oi tuim. - suspirei.- torrada, alemão. - eles balançaram a cabeça.

E a resposta?

Tava com a vó tio.- ele suspira.

Alemão leva ela, depois volta pra ronda.- alemão ajeita o fuzil nas costas e para do meu lado.

Ela precisa de vocês tio, ela tá muito mal.- vejo os olhos dele encheram d'água.

Eu sei, vou pra lá quando terminar aqui.

Alemão me deixa em casa, subo pro quarto e durmo.

(...)

Ei, bom dia princesa do pai.- abro os olhos e sorri.

Bom dia pai.

Sabe que dia é hoje? - sentei na cama e suspirei.

O dia que sai o resultado das provas que eu fiz.- ele concorda.

E aí, vamos ver em qual passou? - estava tentando ao máximo não pensar em faculdades, esse era um assunto que me deixava realmente muito ansiosa.

Mas enfim o grande dia chegou, eu fiz provas na federal do Rio e na USP em São Paulo, morro de saudades da minha mãe e dos meus irmãos, mas a real é que eu já me acostumei com o rio, já me acostumei com tudo e todos aqui, e na real não queria ir embora.

Abri o notebook, fui primeiro na federal, o que eu mais queria na vida era ver meu nome naquela maldita lista, rezei do primeiro ao último nome para que o meu estivesse ali.

Minutos depois fui pro site da USP e lá estava Melissa Medeiros Alencar, meus olhos se enchem d'água e abraço meu pai.

Não quero ir pai.- ele faz in cafuné no meu cabelo.

Você não sente saudades da sua mãe, dos seus irmãos ou então dos seus tios? - ele me olhou.

Sinto, mas eu gosto daqui pai, gosto de toda essa confusão que é o Rio.- ele sorri.

Vamos fazer assim, tu vai se depois do primeiro bimestre tu não gostar tu volta e eu pago uma particular pra você.- ele seca minhas lágrimas.

Mas e você?- ele beija minha testa.

Eu me cuido, se eu precisar de ajuda eu peço pra Bruna, tem a Lara e a Laisa também.- ele me abraça forte.- parabéns minha princesa, você é meu orgulho.

Ele levanta e sai, sei que ele está tão triste quanto eu, sei que ele vai sentir tanta saudade de mim quanto eu dele.

Levanto tomo um banho longo e gelado, mais calor do que aqui no Rio, acho que só no inferno mesmo. Coloco um short e uma regata branca, deixo meus cabelos soltos, pego meu cel e desço pra sala.

Bom dia Mel. - a piranha revirou os olhos.

Tu a essa hora da manhã? Impossível digerir piranha.- a peguete do meu pai suspira de raiva e senta no sofá.

Fiquei sabendo que vai pra casa da sua mãe? - encarei ela.

Antes de ir pode ter certeza que mato você. - ela dá risada.

É simplesmente incrível como você parece sua mãe.- ela levanta.- e isso nem foi um elogio.

Some da minha casa ridícula.- fui empurrando ela pra fora.

Meu pai aparece e pergunta da figura, digo que foi embora, tomamos café rindo e falando da vida dos outros, quando ele saiu pro trabalho fui fazer as malas, sábado as onze horas da manhã meu voo decola direto para São Paulo, vulgo selva de pedra.

Melissa (Livro 2) |Pausada|Where stories live. Discover now