66° Murilo

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- Gosto assim, quando elas nem olham para você.- eu ri com o comentário da Mel.

- Postura de gente da pista.- ela sorrio.- e então o que vamos pedir?- falo olhando para ela.

- Eu quero uma salada caesar, peixe ao molho com camarão e uma taça de Sauvignon Blanc.- ela fala posturada olhando para garçom.

- E o senhor?- o cara me olha.

- Vou querer salada caesar, file mignon ao molho madeira e uma taça de .- o cara sorri e logo depois sai.

- E aí como foi sua manhã?- ela pergunta virando o visor do celular para baixo.

- Só papéis e mais papéis.- respondo entediado.

- Isso te deixa entediado, não é?- eu sorri fraco.

- Demais, mas eu não mudaria por nada no mundo.- ela me encara e pega na minha mão.

- Fez isso por mim, não foi?- ela suspira.

- Por nós, por nossos filhos também.- eu suspiro e nossos pratos com salada chegam.- eu sempre vou fazer escolhas por nós, não importa se for me deixar entediado.- ela põe o garfo na boca e logo depois toma um gole de vinho.- e você, fez o que de manhã?

- Contratei uma menina nova, ela vai para as viagens comigo.- eu me ajeito na cadeira e termino minha salada.

- E você já sabe quando vai?- ela me encara.

- Em duas semanas.- engulo seco.

- E como você quer fazer isso?- termino meu vinho.

- Fazer o que?- nosso segundo prato é servido.

- Me traz uma taça de Pinot Nour, combina melhor com carne.- eu peço e o garçom concorda.

Está sabendo legal sobre vinhos em ladrão.

- Eu quero outra de Sauvignon Blanc.- ela pediu e logo volta a ficar séria, o garçom sai e logo volta com nossas taças.

- Como que a gente fica quando você for, nós vamos ser amigos, só vamos trabalhar para a mesma empresa, você vai como minha noiva, quero saber como vai ser nesse tempo que vamos ficar longe.

- Eu não sei, eu não quero falar disso, eu ainda estou aqui eu ainda sou sua noiva.- eu respiro fundo e tomo um gole do vinho.

Terminamos de comer, a vibe boa que estava entre a gente se foi num passe de mágica, saímos do restaurante e fomos para o escritório de novo.

(3 semanas depois.)

Uma semana sem a Melissa, uma semana sem minha amiga, namorada, noiva e mãe dos meus filhos, pode parecer exagero mas tá foda.

Principalmente por que ela terminou comigo antes de ir, ela disse que se ela voltar vamos começar do zero, como se fossemos duas pessoas estranhas.

Agora o único contato que eu tenho é com uma assistente dela e uma vez por mês vou vê-la por uma televisão, faremos vídeo conferência para acompanhar o progresso da filial.

- Eu me sinto estranho, parece que eu estou doente, meu corpo todo reage a ausência dela, eu tenho vontade de pegar um avião e ir ver onde ela está ou então com quem ela está, eu sinto que vou enlouquecer.- falo andando de um lado para o outro sendo observado pela minha psicóloga.

- Isso é normal acontecer, vocês tiveram uma relação intensa.- eu respiro fundo.

- Eu sei que parece loucura, mas ela é a minha droga entende, eu preciso dela, é como se eu estivesse em uma fissura.- ela anota mais alguma coisa.

- Nós podemos ter mais algumas sessões e podemos trabalhar isso na sua mente, podemos te ajudar a enxergar que ela foi para o bem dela, ela precisa evoluir, precisa viver de acordo com a idade dela.

- E eu?- olho para ela puto.

- Você segue sua vida.- eu suspiro.- você cresceu em uma família conturbada Murilo, você viu por diversas vezes seu pai agredindo sua mãe, viu sua mãe com uma dependência muito grande dele, além disso você não recebia a atenção necessária, logo depois você foi morar com o seu padrinho, entrou em um ambiente totalmente diferente, viu amor, carinho e companheirismo entre ele e a esposa dele.

- Então eu sou carente por isso?- eu ri irônico.

- Você tem a necessidade de ser tudo o que seu pai mão foi, tem a necessidade de ter a família de sangue que você não teve, é como se você quisesse mesmo que inconscientemente ter a família que seu padrinho tinha, eu não conheço seu padrinho mas sei que você admira ele.

- Ele é meu espelho.- sento me lembrando da minha infância com o tio dado.

- Então você me mostrou uma foto antiga da família em que você cresceu, eu pude ver ali como você é parecido com seu padrinho, não fisicamente, mas o seu estilo de roupa, tatuagens, corte de cabelo...

- E onde entra a Melissa?- encaro ela confuso.

- É simples,- ela ri.- ela é a cópia da mãe anos atrás.- eu fico em silêncio só absorvendo a informação.

- Mas eu nunca olhei para tia Dan desse jeito, tipo igual eu olho a Melissa, nunca tive maldade nenhuma!- eu falo ainda processando tudo.

- Mas sempre teve a família dela como referência, não estou dizendo que é errado Murilo, na verdade todos nós temos alguém como referência, você tem seu padrinho, tem também a família dele como referência.

- Eu...- suspirei.- sei lá.

- Nosso tempo acabou, na próxima semana voltaremos ao assunto ok?- eu me levanto.

- Tá.- caminho até a porta e saio, minha cabeça a milhão, um monte de coisa a se pensar.

Volto para casa, um silêncio infernal, os meninos estão passando uns dias de férias com a Dandara, decidi voltar para a favela, mais uns dias ali naquela casa onde tudo me lembra ela me deixar bem pior do que eu estou.

No Instagram só dá Melissa, todo santo dia alguém fala dela, da última vez que olhei o filho da puta tinha escrito "Tudo se repete por aqui, nossa menina deixou o nosso pedaço de mal caminho de novo, pra quem não se lembra, nas antigas ela deixou ele para curtir uns cariocas, depois de anos voltou iludiu nosso pedaço de mal caminho e agora está curtindo os Franceses, isso mesmo minha Maria fuzil, nosso colírio da capricho está SOLTEIRO, que vença a melhor."

Tem que ter muita paciência para não matar esse bando de fofoqueiro de um caralho, estou pensando até em fazer ioga.

Tomo meu banho, troco de roupa, acendo um Beck para relaxar, viajo nas minhas brisas e volto para o quarto, deito e durmo na esperança de amanhã ser um dia bem melhor.

Melissa (Livro 2) |Pausada|Where stories live. Discover now