60° Murilo

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- Eu já pedi para você me deixar em paz, não pedi?- falo nervoso olhando pela janela do escritório.

- E eu já disse que ela, é uma criança, ela não é para você Murilo, pensa bem no que você está fazendo da sua vida.

- Sai do meu escritório, da minha empresa e se possível, some da minha vida.- ela pega a bolsa.

- Um dia você vai se dar conta dessa loucura, mas relaxa eu ainda vou estar aqui.- ela sai rebolando e fecha a porta.

 Respiro fundo e passo as mãos pelos cabelos, será que algum dia eu vou ser feliz com a minha mulher, será que um dia finalmente eu vou poder viver em paz, sem ex malucas atrás de nós? 

Meu dia passa surpreendentemente rápido, reuniões e papéis acabaram tão rápido quando meu dia, saio da minha sala e minha secretária está incrivelmente discreta hoje, é parece que a conversa da Melissa, teve algum efeito.

Apenas faço um sinal com a cabeça e sigo para o elevador, entro no meu carro, sigo trajeto para casa e começo a pensar, ano passado essa hora, se alguém me dissesse que eu estaria indo para uma casa em um condomínio de luxo e morreria de dar risada, nunca imaginei estar onde estou agora.

Passo pela portaria estaciono na garagem de casa, entro e Melissa esta sentada na bancada olhando o chão, coloco mina maleta na cadeira e ela nem se mexe, olho preocupado.

- Amor?- chego perto.- você está bem?

- Eu...- seus olho se enchem de lágrimas.- eu não sei.

- Ei, calma amor, o que aconteceu?- ela suspira.

- Ela veio, não sei como, mas descobriu onde nós moramos, ela disse que eu sou uma criança e que vê de longe o quanto eu sou dependente de você, disse que eu estou estragando minha vida toda, porque estou com um cara mais velho e já passei por várias coisas por você e que no final eu vou acabar...- não deixo ela terminar.

Saio de casa furioso, entro no carro e vou até a favela, mais precisamente na casa da Bia, é eu sei onde é, fiz a bondade de arrumar minha antiga casa para ela, por conhecerem  carro os meninos me deixam passar.

Pego minha pistola no porta-luvas, estourei o cadeado com um tiro, entrei chutando a porta, Marina estava lá, ela se assusta com a porta batendo na parede, escuto motos atrás de mim, claro Pedro chegou.

- Da próxima vez que você falar para qualquer pessoa onde eu moro, eu arrebento você.- falo encarando Marina.

- Eu não disse nada, a Mel me mandou o endereço um tempo atrás, fui passar a noite com ele, enquanto você estava preso e...

- Estou pouco me fodendo.- Bia aparece, pego ela pelo pescoço e aponto a arma na cara dela.

- O que você... está ... fazendo?- ela pergunta com dificuldade.

- Só vim te dar um aviso, fica longe dela, dos meus filhos, da minha casa, eu já pedi uma vez, agora eu estou mandando você some, evapora, rala da minha casa, da minha vida.- solto ela Marina está branca feito papel atrás de mim.

- Chega mano vamos embora.- Pedro segura meu braço.

- Não, ela vai embora daqui agora, pode arrumar suas coisas.  

- Mas ela não tem para onde ir.- Marina chora.

- Devia pensar antes de ir atrás da minha mulher.- Bia chora.

- Eu fiz um favor para ela Murilo, olha tanto que aquela garota sofreu, olha tudo o que aconteceu com uma menina de dezoito anos, eu abri os olhos dela, eu vi que ela ficou pensativa, ela vai deixar você e toda essa merda de vida.- eu ia bater nela, mas Pedro me segura.

- CHEGA, CALA SUA BOCA.- me debato nos braços do Pedro.

-Ela deveria estar curtindo a vida, bebendo até cair, ficando com pessoas da idade dela, ela devia estar estudando e transando com um namoradinho qualquer, A MENINA PERDEU UM FILHO PORRA, SERÁ QUE NINGUÉM VÊ?- Marina parece pensar, todos nós estamos pensando.

- Foi ela quem escolheu isso.- Marina se pronuncia.

- Pelo amor de Deus, quando eu e você nos envolvemos com esses dois, a tia foi para outro estado Marina, graças a Deus não sofremos nem um um por cento do que a Melissa viveu.

- Mas estão aqui de volta.- Pedro fala e a Bia ri.

- Ok, - ela levanta as mãos em rendição.- essa garota vai sofrer pra caralho lá na frente, a depressão vai corroer essa pirralha e vocês vão se lembrar de tudo o que eu falei, vocês todos vão reconhecer como eu estou certa e no final, não vai adiantar de nada, porque a merda já vai estar feita e a vida da doce Melissa já vai estar fodida.- ela sai para o quarto e eu saio de lá.

Entro no carro, ligo e vou até um bar burguês qualquer, peço dose dupla de whiskey, tiro a gravata e peço outro, fico pensando e repensando em tudo o que a maldita falou olha tanto que aquela garota sofreu, viro a dose e peço a terceira.

Eu abri os olhos dela, as palavras ecoam na minha cabeça, quando me liguei já estava bêbado e chorando, quem diria eu me prestando a esse papel ridículo, peço mais uma dose, acho que a décima ou algo assim.

Ela vai deixar você e toda essa merda de vida, eu sinceramente não faço a menor ideia do que fazer se ela desistir de tudo isso, eu... eu mudei por ela, eu tenho uma família. ou melhor NÓS temos uma família.

Essa garota vai sofrer pra caralho lá na frente, eu não vou deixar ela sofrer, tomei a última dose, levanto e vou para o carro, ligo e vou para casa, levo cerca de meia hora por conta do álcool, já se passaram das duas da manhã quando entro pela porta.

Vou até o armário pego um copo e uma garrafa de whiskey, me sento no sofá e tomo a primeira dose no copo, fico tentando esquecer tudo o que ouvi, tomo mais um gole, só que dessa vez direto da garrafa, e se ela realmente me deixar?

E se ela realmente ver que a vida dela poderia estar melhor, longe de mim, longe dos meninos e toda essa merda em que eu vivo, desse mundo bosta que eu pertenço?

Sinto eu peso no meu colo, o cheiro dela invade minhas narinas, minha garganta aperta e eu choro de novo, eu sei que a Bia tem razão, mas eu sou incapaz de deixar ela ir embora, talvez eu seja um babaca egoísta, mas eu jamais suportaria ficar sem ela.

Suas mãos delicadas, passam pelos meus braços, ela tira a garrafa da minha mão e depois o copo, cheira meu pescoço e beija minhas lágrimas pelo rosto, sussurra um EU TE AMO  e em seguida se levanta e me leva para o quarto, tira minha roupa, me ajuda no banho e deita do meu lado.

- Eu... eu sinto muito...- tento falar, mas minha voz falha.

- Shhh, dorme meu amor, amanhã, conversamos.- ela se aconchega nos meus braços e eu durmo abraçando a minha princesa. 

Melissa (Livro 2) |Pausada|Where stories live. Discover now