Capítulo 26 - Sonhos e Pesadelos

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Azriel estava mais uma vez sentado no canto do quarto escuro. Sua cabeça pesava para frente, a franja caindo no rosto enquanto ele sentia as sombras rodopiando em volta dele. Ele já não conseguia sentir frio — tinha se acostumado com o chão gelado e nenhuma fonte de calor para se aquecer. Suas mãos ainda enfaixadas traçavam linhas sem rumo no carpete. Ele desejava que sua mãe lhe salvasse, lhe envolvesse em seus braços e fugisse consigo. Era somente uma criança, mas já tinha visto e sentido tanta coisa. 

Seu estômago rugia de fome, mas ele não se lembrava quando seria a próxima refeição. Não se lembrava quando tinha comido pela última vez, também. Com o tempo, as sombras tinham se tornado sua única companhia. Elas lhe sussurravam diversas coisas sem sentido, avisos do que estava acontecendo do lado de fora da cela fria, mas Azriel não fazia ideia de como decifrá-los. Ele não tinha intenção nenhuma de decifrá-los. 

Sabia que, daquele jeito, não viveria muito. Quando Azriel ouviu as risadas de seus irmãos no corredor, ele levantou a cabeça no mesmo instante. Seu estômago embrulhou ao ouvir a fechadura ser destrancada, seus irmãos entrando no quarto com um lampião na frente...

Azriel acordou com uma pontada de dor no abdômen. Ele suspirou quando percebeu que estava sonhando mais uma vez, virando-se para o lado oposto à porta. Observou o lado da cama onde Aaliyah costumava dormir, e a imaginou ali. Imaginou como ele passaria os dedos suavemente pelos cachos de seu cabelo, ou como beijaria sua testa e em seguida sussurraria "bom dia".

Com um suspiro, Azriel se virou mais uma vez de barriga para cima. 

Bom dia, morceguinho, sussurraram as sombras. 

Ele fechou seus olhos por mais alguns minutos antes de se levantar. Mesmo durante o banho quente, continuou sentindo as dores como ondas no mar. Iam e voltavam. Ele as ignorou, se vestindo numa de suas armaduras. O dia seria ocupado: Azriel ajudaria na reconstrução de Velaris, assim como Aaliyah.

Rhysand não estava permitindo ninguém perto de si. Ele e Feyre se isolaram completamente, necessitando do apoio um do outro. Azriel entendia o porquê, não podia culpar seu irmão, apesar de que ainda sim se preocupava com ambos.

Enquanto Azriel terminava de comer o pão amanteigado, percebeu que as suas sombras já não repetiam as mesmas frases de antes. Ele ergueu o olhar para a escuridão no canto da sala. 

— Não têm mais nenhuma profecia pra mim?

O futuro mudou, mestre.

Azriel inspirou profundamente antes de virar a caneca de café na boca e sair do apartamento. Ele ainda sentia as pontadas de dor, mas as ignorava conforme voava até o local onde se encontraria com sua parceira, Cassian e Elain.

Quando pousou, não sentiu sua parceira em volta, muito menos as sombras do colar que ele lhe havia dado. Ele passou os olhos pela multidão de voluntários, encontrando seus amigos mas não sua parceira. Elain sorriu para o encantador de sombras, com um aceno gentil acompanhando.

— Bom dia. 

— Bom dia, Elain. Como está Feyre?

— Péssima, mas recuperando — Elain suspirou, passando sua trança por cima do ombro. — Eu estava esperando o momento em que ela fosse revelar a gravidez... 

Azriel olhou para ela por cima do ombro.

— Você sabia?

— Eu tive uma visão. 

Ele se perguntou por que Elain não contou a ninguém sobre sua visão, mas de certa forma, podia entender porque. Elain tinha sido dada um magia que é útil, mas também pode invadir a privacidade de alguém, como nesse caso. Se Feyre ainda não havia contado, havia um motivo e Elain estava o respeitando.

Corte de Sombras e LiberdadeWhere stories live. Discover now