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Taissa

Aproveitei que estávamos no avião para estudar a pasta com informações acerca do Evan que me iriam ser úteis para as perguntas da entrevista de segunda feira. Não podíamos errar, mas, ao contrário de mim, o Evan estava muito relaxado enquanto lia um dos manuscritos da empresa e bebia um café.

– Acho que o neste momento o mais inteligente seria estares a estudar os documentos com informação a meu respeito. Não podemos falhar na segunda feira. – Comentei, farta de ser ignorada. Ele continuou sem me responder. Nem sequer desviou os olhos do que estava a ler. – Tens apenas quatro dias para decorar isto tudo sobre mim.

Ele bufou e olhou para mim pela primeira vez.

– Quatro dias é o suficiente. Vais dizer-me que já sabes tudo o que está aí na lista? – Perguntou, erguendo uma sobrancelha. Odeio que me subestimem.

– Claro! Não sei se reparaste, mas não quero ir presa.

– Eu sou alérgico a quê? – Boa, ele queria testar-me.

– Pinhões. – Respondi rapidamente. Eu realmente tinha estudado bem aquela lista de questões. – E aparentemente a emoções humanas.

Ele ergueu uma sobrancelha.

– É curioso conhecer esse teu lado todo corajoso. Ainda há uns dias ficavas toda nervosa só por me ir entregar a agenda.

Ele estava certo, mas eu não me manifestei, rolando apenas os olhos e mudando de assunto.

– Temos que acertar só a resposta a algumas das perguntas. – Falei. – Por exemplo, em que casa ficamos? Na minha ou na tua?

– Isso nem se pergunta. Ficamos na minha. – Ele respondeu, como se fosse obvio.

E porque não na minha?

– É simples. Porque eu moro em Central Park West, e tu deves morar numa casinha minúscula cheia de pilhas de livros clássicos e decorações com séculos de idade.

Senti as minhas bochechas vermelhas, mas não consegui decidir se estava envergonhada ou irritada. Aquele homem de facto tirava-me do sério.

Ele apenas riu, meio convencido e tirou-me os papéis da mão. Os olhos dele correram a primeira página.

– Eu tenho alguma cicatriz? – Interrogou novamente e eu bufei, rolando os olhos.

– Tens algumas nas costas. – Respondi sem hesitar. – E tenho quase a certeza de que tens uma tatuagem. – Ele ergueu uma sobrancelha, quase como se me interrogasse como é que eu sabia. – O teu dermatologista ligou uma vez por causa de uma consulta para remoção de uma tatuagem a laser. Como desmarcaste presumo que ainda a tenhas. – Expliquei, sentindo-me vitoriosa.

– Uau.  Se esse não fosse o teu trabalho eu diria que estava surpreendido.

– Obrigada, Evan! Não precisas de me elogiar assim tanto. – Ironizei, rolando os olhos. – O que tens tatuado? E as cicatrizes, como conseguiste? Algum acidente?

Ele ficou tenso ao meu lado e eu mordi o lábio, nervosa e um pouco arrependida por ter perguntado.

– Algum caracter chinês estranho de que envergonhes? – Brinquei, tentando descontraí-lo.

– Isso não faz parte da lista de perguntas. Vadia intrometida. – Ele murmurou, irritado.

– Desculpa? – Irritei-me. Não queria acreditar no que ele me tinha chamado.

– Tu ouviste-me.

Ele passou o resto do voo a olhar pela janela e eu evitei também o contacto visual com ele. Fiquei extremamente magoada com o que tinha ouvido. Se não fosse o acordo que tínhamos feito, eu teria desistido ali mesmo da porcaria da farsa.

Ele apenas se pronunciou no momento da aterragem.

– Taissa… Desculpa, ok? Saiu-me assim. Não foi por mal.

Eu mal o olhei. Apenas encolhi os ombros.

– Que seja. Só quero que isto acabe rápido. – Desabafei, fria. Olhei para o lado e engoli o choro enquanto brinquei com o anel de “noivado” que eu tinha recebido naquela manhã.

Quando saí do avião fiquei finalmente um pouco feliz por ver a minha mãe e a minha avó à minha espera no aeroporto. Rapidamente corri para elas.

– Taissa! – A minha mão exclamou, abraçando-me.- Filha! Que saudades!

Abracei rapidamente a minha avó, que me encheu de beijos. Ela era uma senhora muito carinhosa e eu amava-a muito.

– Minha netinha linda! Como estás, meu amor?

– Estou feliz por vos ver! O pai?

– Ele ficou em casa! O James soube que vinhas e está lá em casa para te ver! – O James era o meu melhor amigo. Desde pequeno que éramos muito próximos. Fiquei feliz por saber que o veria dentro de instantes. – E o teu namorado onde está?

Olhei para trás, vendo que ele vinha já na nossa direção. Apontei apenas para ele e a minha mãe sorriu.

– Desculpa demorar, querida. Eu fui buscar as malas. – Ele desculpou-se.

– Esta é a minha mãe, Vera. – A minha mãe ia abraçá-lo, mas ele estendeu apenas a mão. Olhei-o indignada por isso. – E esta é a minha avó, Mary. – A minha avó, ao contrário da minha mãe, não lhe deu escolha e abraçou-o, fazendo carinho nos cabelos. Ele ficou visivelmente incomodado com isso, e mais uma vez só queria gritar com ele e chorar ao mesmo tempo.

Não me importava que ele me humilhasse, mas não queria que elas se sentissem humilhadas.

A minha mãe deu-nos boleia no seu carro, uma antiga carrinha, tão ou mais velha do que eu, mas que ela e eu adorávamos. Era a nossa carrinha de estimação e eu não a trocava por nada. O Evan, por outro lado, não parecia nada confortável.

– Estou muito feliz por teres arranjado um homem, Taissa! – Disse a minha avó, olhando divertida para o Evan. – Vocês são um casal muito bonito! O mais engraçado é que, apesar de tudo, se amam! Não ias acreditar se eu te dissesse que a Taissa escondeu o vosso namoro durante todo este tempo. Quando ela nos falava de ti era só por causa do trabalho. Acreditas que ela te apelidava de Satanás e coisas assim do género?

Encolhi-me no meu banco, vendo o Evan olhar para mim com um olhar meio sério.

– Que fofinha! – Ele ironizou. – Foi muito amável por nos dar boleia até ao hotel, Sra. Farmiga!

– Ora essa, querido! Mas vocês não vão passar estes dias num hotel. São família! – O Evan estava confuso, e visivelmente atrapalhado, assim como eu.

– Exato, meu filho. – Continuou a minha avó. – Cancelamos a reserva. Já arrumamos o vosso quarto e tudo lá em casa!

– Ótimo. – Murmurou o Evan, olhando furioso para mim.

Corei e apenas olhei pela janela. Só esperava que ele deixasse de ser tão preconceituoso quanto a tudo. Quando o vi arregalar levemente os olhos ao ver que estávamos a ir pelas ruas dos bairros mais pobres, tive a certeza de que aquele fim de semana seria um pesadelo.

A Proposta - Evan PetersDonde viven las historias. Descúbrelo ahora