Prólogo

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- Sete horas moçada, simbora pra casa que hoje o dia foi puxado
Agora, sentada na carroceria da caminhonete eu via os homens terminando de enlonar o caminhão que amanhã levaria a soja para o secador. Época de colheita não tinha horário de terminar o serviço. As vezes chegava em casa e nem jantava, só queria minha cama, mas para falar a verdade, não troco essa vida por nada.
- Lia, os guri acabaram de chegar com as máquina- Olho para o lado e encontro Zé vindo até mim.
José Miguel era um amigo maravilhoso, desde que vim morar para o Mato Grosso, ele sempre esteve comigo. Quem diria que o cara em quem dei um soco ao conhecer num bar ia ser meu melhor amigo nestes bandas.
- Ta bão Zé, agora senta aqui que eu tenho que proziá com a turmada.
- Shiii, lá vem bomba- Zé adorava me atormenta, mais já conhecia as palhaçadas dessa criatura. - O que foi? Tá com uma cara meio estranha, não que tua cara seja bonita, mais agora...
Enquanto eu ria dei uns tapa no braço do Zé, as vezes ele tirava o dia pra me irrita, hoje era um desses. Eu até que me achava ajeitadinha, não uma Paolla Oliveira da vida, mais também não era tão ruim. Minha mãe sempre dizia que os meus olhos era o que começavam a chamar a atenção pra mim, já que tinha heterocromia e meus olhos eram uma mistura louca de azul, verde e castanho. Ela sempre dizia que os olhos eram os primeiros e que combinava certinho com o meu cabelo cacheado, meio ruiva mas que tinha as pontas um pouco loiras por conta do sol.
- Ah... pelo menos não sou um moreno que não faz nem a barba, qual foi a última vez que tu tomou banho? No Natal?- eu ria da cara que Zé fazia, ele odiava que falassem da barba dele. Não sei como conseguia ficar com aquela barbona enorme, mas confesso que era uma das coisas que chamava a atenção naquele moreno. Zé era alto, forte, não só pelo trabalho na fazenda mais também pelos treinos que fazia, ele adorava se exibir pra mulherada nas festas da cidade, e isso só me causava encrenca, porque aí eu tinha que me meter nas brigas e assegura que nada saísse dos trilhos. Ele é o típico cowboy, texana no pé, fivelona da PBR e chapéu da Pralana. Tem um cabelo de dar inveja, lisinho, que ia até os ombros. Acho que ele torra um terço do salário em produtos pra barba e cabelo.
- Engraçadinha.
- O que os dois facãoeiro tão fazendo sentado aí? Não tem serviço não? Kkk, me dá um tereré aí menina!- Pedro já chega gritando. Esse é outro que me tira do sério.
- Cuidado, é capaz de ter veneno aí dentro. Vindo da Lia não espero nada. Ontem mesmo ela me jogou no cocho de água dos bezerro, e era umas hora da madrugada. - Zé reclama
- Joguei, e jogo de novo se encher o pote, dar pt e eu ainda ter que te aturar da cidade aqui cantando desafinado e chorando. Te dar um banho era o mínimo que eu poderia fazer. - Enquanto falo, os peões vão se chegando e rindo da história. O fato é que, ontem a gente teve roda de viola,e como sempre, o Zé bebeu demais, e eu tive que trazer pro alojamento.
- Deixa a minha vida mulher, bota as proza em dia.
- Então Pedro, seu João pediu pra que levassem os caminhões amanhã de manhã no secador, e pros menino das colhedeira, ele pediu pra que já entregasse o salário, já que a maioria quer voltar pra casa. Téo, as colheitadeira é pra deixa no barracão atrás do casarão, amanhã eu começo a lavar com o Guilherme e o Caio.
-Téo e os meninos assentem concordando.
- Mais alguma coisa Lia?
- Não Pedro, era só isso mesmo. Por hoje é só.
Todos eles dizem boa noite, e parte pros caminhões e as colheitadeiras, só ficando eu e o Zé.
-Vamo ZÉ! Tenho hora pra chega em casa hoje.
-Eita pega, o que vai apronta hoje? - Zé entra na caminhonete e já liga o rádio nos modão do Tião Carreiro.
- Teu irmão tá voltando, não quero que ele chegue em casa e eu não esteja lá, faz dois meses que não vejo o Lucca.
Lucca é o irmão mais novo do José Miguel, a diferença entre eles é de um ano e pouco.
A gente se conheceu no rodeio, depois de uns dois meses que comecei a trabalha na Fazenda do Seu João. Eu não conhecia ninguém, então depois de duas semanas me adaptando ao lugar, fui até a cidade.
A cidade é pequena, interiorana, era dia de festa na Igreja, então a cidade estava movimentada. Logo que cheguei já vi um bar country, e como não tinha o que fazer fui la. Naquele dia conheci a Raquel, ela é dona do bar e um amor de pessoa, sempre quando posso, vou até lá dar uma ajudinha. Conheci a Raquel, o Pedro, o Caio e toda a piazada da Fazenda, eles ainda não acreditavam que uma mulher trabalhasse igualmente como eles, e as vezes, até mais. Ali a gente riu, dançou, jogou truco, tomo cerveja e assim foi até as três da manhã. Logo quando tava saindo o Zé, bêbado como tava, achou que eu era a ex dele, e foi tentar pegar na minha mão, foi aí que o estrago foi feito, porque eu nem esperei ele entender quem era pra socar a cara dele. Depois eu fiquei mal, porque havia me assustado e ajudei ele a levanta, aí foi amizade pra toda a vida.
No outro dia a gente se encontrou na fazenda e assim foi. Um tempo depois, ele com os guri me convidaram para ir até a festa na cidade. Foi então que conheci o Lucca, ele era peão de rodeio. E foi num piscar de olhos que me encantei com ele. Um moreno de olho azul, todo trajado, com um sorriso lindo e uma voz grossa maravilhosa. Assim como o Zé, Lucca era barbudo e sempre estava com o corpo em dia.
A gente foi se conhecendo, gostando da companhia um do outro e até que resolvemos juntar os trapos. Meus pais adoram o Lucca, mas depois que a gente casou, ele ficou mais dois anos sendo peão e decidiu apenas trabalhar com os Tenório, levando o gado pra todo canto do país, mal parava em casa, então quando voltava eu queria matar a saudade.
- Eeeeita parece então que hoje meu sobrinho é concebido
- Eu até iria te xingar, mais não posso até porque ele já foi concebido- Falo animada. Eu ainda nem acreditava que estava grávida. Hoje de manhã, quando fui até o consultório, Rafael me parabenizou e eu fiquei em choque. Eu sabia que minhas regras estavam atrasadas, estava me sentindo enjoada e até mesmo dormia muito, mas achei que era anemia ou algo do tipo. Mal me aguento de alegria, sabia que Lucca estava voltando, então queria fazer uma surpresa pra ele, estava de onze semanas, minha barriga nem havia crescido, mas eu sentia que tinha um pedacinho meu e dele que crescia em meu ventre.
- QUE? VOCE TA GRAVIDA? EU VOU SER TIO? POSSO SER O PADRINHO, MINHA NOSSA SENHORA, E SE FOR UMA MENINA? IGUAL A VOCE ? MEU IRMÃO VAI TER UM INFARTO! EU PRECISO DE UM 38 URGENTE!
Eu ria da mistura de felicidade e desespero do meu amigo e cunhado. Até parecia que era ele quem ia ter um filho.
- Calma Zé. Eu ainda nem descobri o sexo do bebê e tu já tá maluco.
- Mas é que eu jamais esperava uma noticia dessas ... para esse carro, para esse carro agora!
- Endoido é? Porque...
- Para Julia o carro agora! - Sem muito o que entender e o que fazer parei na estrada. Mal parei e o maluco do meu amigo meu enrolou num abraço de urso me parabenizando. Ele tava feliz por demais da conta.
Rindo e agradecendo por cada palavra dita eu me soltei do urso e voltei a ligar o carro, ainda ouvindo dele, que agora em diante eu deveria me cuidar mais, e que iria conversar com o seu João para que tivesse uma folga a mais durante a semana.
Depois de deixar o Zé no alojamento, ouvindo ele me azucrinar dizendo que meu filho deveria nascer e ser criado por ele, por conta da mãe ser encapetada de mais, me dirigi até minha casa.
Ela ficava há um uns dois quilômetros da Fazenda, Dona Joaquina antes de morrer, deixou um pedacinho de chão pra mim, e metade da fazenda do Seu João. Eles eram irmãos,e como ela não tinha filhos, encasqueto que eu deveria herdar. Ela era maravilhosa, nos conhecemos quando ainda fazia estágio da faculdade, e morava no Paraná, foi um elo inquebrável, sempre quando ia pro trabalho, chegava até sua casa pra tomar um chimarrão, as vezes levava ela pra minha casa, as vezes, dormia por lá. Quando ela adoeceu eu fiz questão de cuidar dela, era como se ela fosse da minha família. Foi somente quando morreu que descobri ser herdeira da metade da fazenda. Claro que me assustei, mais conversei com seu João e lhe ajudaria com as terras se me deixasse trabalhar como agronoma, o tempo passou, fui ficando, me adaptando,me tornei capataz e apenas assino os papéis que são necessários pro andamento da fazenda.
Chegando em casa fui correndo tomar um banho, para quando o Lucca chegasse, toda a surpresa tivesse pronta. Eu queria presenteá-lo da melhor maneira possível. Quando Lucca chegou, a casa toda tava no breu, eu estava na sacada do quarto lhe esperando, tinha deixado em cima da cama uma caixinha com um laço enorme e dentro uma botininha com uma roupinha de neném escrito "sou cowboy igual ao papai". Eu ainda não sabia o sexo, mais já tinha uma intuição que seria menino.
- Lia! Cadê você ?
- No quarto amor.
Escutei os passos se aproximando, e a porta se abrindo. A lua iluminava o espaço que estava e metade da cama. Ao acender a luz, Lucca me procurou no banheiro e quando se aproximou da cama notou a caixa. Nesse momento eu apareci na janela da sacada, esperando ansiosamente a sua reação.
Sentado na beirada da cama, Lucca abriu a caixa e ficou olhando. A falta de reação dele estava me deixando aflita. Passado uns cinco minutos ele olhou pra cima e me viu. Com os olhos cheios de água ele disse:
- Isso é verdade? Vo.. vo.. você tá grávida? - eu me aproximei dele e com a mão na barriga, acenei com a cabeça. Eu Não me aguentava de felicidade. Mal sabia eu que tudo aquilo que sentia iria desabar em tão pouco tempo.
- Lucca, fala alguma coisa. Tá me deixando nervosa.
Eu sabia que tinha sido um susto. Mais nós dois já estávamos casados a dois anos, nossa vida estava toda encaminhada, já tinha até um quartinho pro bebê, que fiz mesmo antes de estar grávida. Claro, que não havia colocado nenhum móvel ainda, mais era meu sonho ser mãe, e claro, me organizei direitinho pra esse momento. Só não entendia a reação do Lucca, ele parecia bravo, nervoso, irritado com a notícia.
- FALA ALGUMA COISA? QUE MERDA É ESSA JULIA, VOCE NAO DEVIA TA GRAVIDA. EU NÃO QUERO UM FILHO AGORA. - Lucca esbravejou, e eu fiquei assustada. Nunca ele tinha agido daquela maneira comigo. Achei que tanto para mim quanto para ele seria uma otima surpresa. Estava tudo bem com o nosso casamento, pelo menos era o que eu achava.
- Lucca, nós estamos casados a dois anos, nossa vida tá andando, eu sei que foi um baque, pra mim também foi, mais essa criança é uma benção...
- Benção? Benção pra quem? Eu tô bem com o meu trabalho, não posso largar dele pra cuidar de você. Eu já deixei de ser peão, quer mais o que ?
Eu estava irritada com essa insinuação, eu jamais o proibi de ser um peão, foi uma escolha dele deixar de ser, o apoiei em todos os momentos, ate mesmo quase deixei meu emprego pra satisfazer as vontades dele, pra acompanha-lo nos rodeios, assim ele não precisaria se deslocar pra me ver.
- Deixar se ser peão? EU NUNCA FALEI PRA VOCE DEIXAR, DEIXOU PORQUE QUIS! EU FUI A PRIMEIRA A TE APOIAR EM CONTINUAR NOS RODEIOS! EU NUNCA TE PEDI PRA DEIXAR SUA VIDA. VOCE BEM SABE QUE NUNCA ME IMPORTEI, ME APAIXONEI POR VOCE DAQUELE JEITO E NUNCA LHE MUDARIA, NEM IRIA QUERER MUDAR! FOI VOCE QUEM QUIS MUDANÇAS, VOCE ! VOCE COMECOU A SER GANANCIOSO, A CORRER ATRAS DE DINHEIRO, NAO SE IMPORTANDO COM QUEM TE AMA. - Eu estava quase chorando, mais jamais iria deixar ele ver esse meu lado. Nunca discutimos desta maneira. Ele sempre foi calmo. Mais hoje, ele estava diferente.
- Haha e pra fazer eu mudar de ideia, ficar aqui, VOCE engravidou! Eu não quero essa criança, não agora.
- Como pode dizer isso Lucca? A gente fez ele junto...
- Foi um erro.
- Um erro? - Neste momento eu já estava alterada demais, sentia meu corpo todo tremer e ficar quente, deveria ser a raiva que estava sentindo nesse momento.- Um erro Lucca? Foi um erro você casar comigo? Foi um erro você dormir comigo, a gente fazer amor? Foi um erro ? É isso que vc acha que nós somos? UNO MALEDETTO ERRO? IO SONO UN ERRO?
Lucca agora estava sentado, passava as mãos pelos cabelos de forma bruta, violenta, como se quisesse descontar nele a raiva que sentia.
Eu já não podia suportar aquilo. Era demais pra mim, não conseguia olhar para cara dele, não naquele momento. Quando passei em sua frente ele agarrou meu braço e rapidamente se levantou. Lucca era uns quinze centímetros maior que eu.
- Você não foi um erro. Eu te amo, só não esperava chegar em casa depois de dois meses e receber a notícia de que teria que lhe dividir.
- Dividir?! Tu estais se escutando Lucca? Um filho nunca vem pra desunir um casal! Você queria que eu fizesse o que? Eu achei que tu também queria uma família comigo.-
Lucca suspira de forma exasperada e me abraça forte. De começo não reagi, ate sentir as lágrimas contra meu rosto. Lucca estava chorando, eu não conseguia ficar brava mais, nunca conseguia ficar irritada com ele.
Lucca então se ajoelhou na minha frente e com a voz embargada contra a minha barriga ele me pedia desculpas.
- Perdão meu amor, me perdoa, eu não queria te causar isso me perdoa.
- Tudo bem, já passou... shiiiiu- eu agora enroscava meus dedos em seus cabelos. Tentando lhe acalmar. Sabia que a notícia de ser pai poderia lhe afetar mais não sabia que seria desta forma.
Naquela noite, quando fomos dormir, Lucca me abraçou e foi dormir na sala. Eu até tentei lhe convencer a dormir comigo, mais foi em vão. E assim se seguiram os dias em que estava em casa. Eu quase não o via. Quando levantava, ele estava dormindo, e quando chegava a noite em casa, encontrava ela no escuro, vazia. Ele só aparecia depois das duas da manhã, bêbado, isso porque o Zé lhe trazia pra casa contra sua vontade.
Minha vida havia virado de cabeça pra baixo, mais ainda tinha o que me animar é me fazer ter um rumo. Meu filho e meu emprego. Lucca nem ao menos quis ir ao médico comigo. Eu ouvi o coraçãozinho do meu bebê sozinha, descobri que era um menino e isso me fez chorar horrores, na sala do doutor Rafael. Rafael era um grande amigo, sempre fazia visitas pra saber como estava. Afinal, a cidade é pequena, e a notícia de que estava grávida e Lucca me abandonado corria solta.
Lucca voltou ao trabalho e depois de seis meses voltou pra casa novamente.
Eu já estava no meu oitavo mês, o quartinho do Ituriel estava lindo, já havia comprado o berço, banheira, todo os móveis, roupas, brinquedos, tudo do bom e do melhor pro meu filho. No dia em que Lucca voltou, eu havia ido ao bar da Raquel, afinal era aniversário do Pedro e sabia que a mulher dele iria fazer uma surpresa contando a ele que também estava grávida.
Ao abrir a porta e acender a luz, notei  que a TV estava ligada. Olhei na sala e não havia ninguém. Subi as escadas que davam acesso ao segundo andar e vi que a porta do quarto do bebê estava aberta. Quando entrei lá dentro me deparei com o Lucca vestido com uma calça jeans e camiseta pólo, já não usava mais seu chapéu a muito tempo.
- O quarto ficou bonito. - sua voz era baixa, quase inaudível. Cansada.
- Obrigada, tentei ajeitar ao máximo antes que o Ituriel chegue.
- Ituriel? Você já deu um nome então- Lucca me olhou com um ar sinico. Não entendi o porquê daquilo. Ele não quis saber do filho. Não foram uma, nem duas vezes que tentei falar com ele sobre o bebê.
- Sim, ele já não tem um pai, não pode ficar sem um nome também.
- Ele tem um pai! - Lucca agora me olha nos olhos, ajeitou a sua postura e colocou novamente no berço o ursinho que estava na mão.
- Ah é? Desde quando? Agora?! Nosso filho não é um bichinho de estimação que você pode escolher o horário pra chamar de seu! Te liguei inúmeras vezes, tentei conversar com você pra me acompanhar nas consultas, mais você nem quis saber. E agora quer se achar no direito de deter esse termo?! Até o Zé foi mais pai do que você pro nosso filho.
- Talvez porque ele seja o pai então!- Lucca se dirige até mim enquanto fala, sua respiração acelera.
- Bem que queria, talvez assim meu filho teria amor da mãe e de um pai. Mais eu nunca nem pensei em te trai. Sabe porque ? Porque sempre te amei. Agora se você não se garante é porque talvez tenha culpa no cartório
Ao falar isso Lucca da um passo para trás e vira de costas pra mim, segura com força o encosto da poltrona como se estivesse se segurando pra não me agredir.
- Você não me procura mais Lucca, muito antes mesmo de eu engravidar, você nem ao menos se interessa por mim mais. Eu sempre fiz de tudo pra você não procurar lá fora o que não tinha em casa. Mais pelo jeito o que você tinha lá fora já existia muito antes da gente.
- Ela é diferente.- Ao ouvir isso senti como se meu coração tivesse sido pregado com um prego encharcado de álcool.- ela quer cuidar da casa, me esperar chegar do serviço e me amar com calma....
- E EU NAO FIZ ISSO LUCCA? EU NAO TE ESPEREI? EU NAO TE APOIEI? EU NAO QUIS TE AMAR? ESSE FILHO É FRUTO DO MEU AMOR POR VOCE ! FOI COM VOCE QUE EU QUIS CONSTRUI UMA FAMILIA, COM VOCÊ, FOI COM VOCE QUE EU SONHEI UM FUTURO, E AGORA VOCE ME DIZ ISSO?
- Ela é uma mulher de verdade, ela é delicada, ela é...
- ELA É A OUTRA, A QUE VOCE AMA ! ELA! SÓ ELA! MAIS SERA QUE ELA SABE QUE VOCE É CASADO, QUE TEM UM FILHO CHEGANDO? ELA SABE O QUANTO EU BATALHEI PRO NOSSO CASAMENTO SEGUIR ADIANTE E TU DESTRUIR TUDO PORQUE ACHOU UMA OUTRA MULHER QUE FODE MELHOR? - Eu sentia minha pernas fracas, mais eu não podia deixar isso me abalar, eu tinha que jogar tudo pro alto antes que explodisse. Já havia guardado toda essa dor a muito tempo.
O doutor havia me dito que deveria ter muito repouso e pouco estresse, mais eu não conseguia, nao nesse momento. Por mais que eu tentasse mantê a calma.
- É! EU NAO TE AMO MAIS JULIA, ESSA COISA NA SUA BARRIGA FEZ COM QUE EU DEIXASSE DE TE QUERER, A IRIS É GOSTOSA, TEM UM CORPO MARAVILHOSO, FODE GOSTOSO E TEM DINHEIRO
-Então é isso ? É pelo dinheiro ? Coitada! Tenho pena dessa mulher. Ou talvez vocês dois se mereçam. Eu achei que nunca iria dizer isso, mais eu tô com nojo de você Lucca, eu tava errada em achar que havia me casado com um homem, nem isso você é capaz de ser!-
Lucca nesse momento vem a minha frente, bufando igual a um boi, eu não tinha medo dele, por mais que estivesse grávida. Eu jamais ia me abaixar. Mais ao contrario do que eu achava sua voz saiu calma, baixa.
- Julia, eu te amei. Me senti fissurado em você quando te conheci, mais só isso. Eu sabia que você e aquela velha era Unidas, uni o útil ao agradável, ganharia dinheiro e até mesmo um belo prazer, mais você foi mais ligeira e fez aquele velho babaca assumir sua parte da herança. Ninguém nunca vai sentir nada por você, voce não é nada, nenhum homem consegue te ter do lado, perfeita demais, liberta demais, uma maria- machadão. Eu tenho vergonha de você, você e essa criatura- eu agora já estava fraca, minhas pernas quase não se suportavam, tamanha era a dor que sentia no peito, enquanto isso Lucca se aproveitava para jogar mais coisas em minha cara- você nunca vai encontrar um homem, porque voce é imprestável, sem sal, eu te fiz um favor implantando isso na sua barriga.
Eu já não me importava com as lágrimas, a dor que sentia era enorme. Me segurava na parede. A dorzinha que começou fraca em meu ventre, aumentava. Eu tinha que chegar até meu quarto para ligar para o Rafael, eu precisava. Alguma coisa acontecia com meu filho.
- Onde pensa que vai ? - Lucca segurava minha mão, me impossibilitando de sair.
- Me solta Lucca. Foda-se o que você acha. Me deixa em paz. Sai dessa casa. Vai viver tua vida, mais deixa a gente em paz.
-Sair? Nunca, só saio daqui quando eu quiser- Lucca agora falava em meu ouvido.
Não me importava mais o que ele pensava eu tinha que chegar até o quarto.
- Lucca...me deixa.... eu preciso do Rafael. Meu bebê.... - Lucca então me solta, eu tento chegar ao quarto mais minha visão fica turva, tudo vai escurecendo e fica silencioso.

Acordo com o bip de uma máquina. Tento abrir os olhos mais a claridade me cega, meu corpo doí, sinto um vazio na barriga. Quando consigo me adaptar a luz, olho em volta, há uma cadeira em um canto, um sofá no outro e uma mesinha próximo a mim.
Escuto a porta se abrir e quando olho vejo Zé com seu chapéu nas mãos, me olhando com pesar, seus olhos confidenciam que andou chorando. Ele vem o mais depressa possível do meu lado e segura minha mão.
- Oi italianinha, se sente melhor ?
- Para falar a verdade, não. - sussurro, falar alto é uma tristeza, minha garganta doí.- O que aconteceu?
Nesse momento as imagens anteriores me vem à cabeça e eu só consigo pensar no meu filho.
- Zé, e meu bebê? Ele tá bem ?
Zé me olha triste com os olhos marejados.
- Lia, eu te encontrei em casa no chão, te trouxe o mais depressa possível. O doutor Rafael disse que voce teve um sangramento. E teve que fazer um parto urgente.- Nesse momento eu já tentava levanta, desesperada.
- Cadê meu filho Zé, io quero mio bambino, per piacere.- Zé apenas soluçava de chorar, eu sabia que havia algo de errado, eu precisava do meu filho no meu colo. Ver que ele estava bem. Eu chorava desesperadamente. Zé segurou as minhas mãos nas suas, me olhou nos olhos e disse:
- Você não pode ver Ituriel Lia, o doutor tentou mais... O Ituriel não sobreviveu, o nosso menino morreu Julia, ele não conseguiu aguentar.
Nesse momento eu entendia o que o profeta disse a Maria. Quando um filho morre, uma espada lhe atravesssa alma.



Domínio de uma paixãoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ