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Kenma chegou quando anoiteceu, Kuroo ainda estava parado em frente de casa, olhando algo no celular. O menor chegou silencioso e tocou seu ombro, ele riu da cena que se seguiu, Kuroo pulou para longe como um gato e levantou os punhos, pronto para briga, com a maior cara de assustado.

- Garoto??? Quer me matar do coração é?! - Ele falou levando uma das mãos ao peito, sua alma quase saiu do corpo. 

- Talvez eu queira - Kenma tinha um sorriso tímido e ao mesmo tempo irônico no rosto. 

- Duas caras do caralho! Que bom te ver, você tá bem? - Ele sorrio com a piada do loiro e tentou abraça-lo rapidamente, sem dar tempo para reação, isso funcionou. Kenma fingiu que não aconteceu.

- Eu to ok - Ele disse deixando de fazer o pouco contato visual que tinha feito anteriormente. 

- Hey...você tem que voltar pra casa? Hinata deve ter te contado, eu sei sobre seu irmão e isso meio que ta me deixando louco! Fico preocupado com você - Kuroo estava sem jeito, tinha medo da reação de Kenma. 

- Eu não queria voltar pra casa hoje, acho que ele ainda deve estar bravo comigo e...

- Dorme aqui em casa! Tem espaço e meus pais gostam que meus amigos durmam aqui! - Antes mesmo da resposta, Kuroo puxou Kenma pra dentro de casa, que nem tentou resistir, já que era mais fraco. 

A casa de Kuroo era grande e chique. Muito maior que a de Kenma, ele era definitivamente bem afortunado. Mas isso não era surpresa, filho de um empresário e uma modelo de fama internacional, Kuroo não podia reclamar, tinha tudo que um adolescente podia querer, inclusive pais muito amorosos, apesar de estarem sempre ocupados. Aquela noite era uma daquelas em que os pais dele sumiam depois do jantar, a mãe pegava um voo pra algum lugar pra fazer fotos e o pai outro para alguma reunião com estrangeiros. 

Eles subiram pro quarto de Kuroo, era grande e tinha totalmente a cara dele, mas uma coisa surpreendeu Kenma, uma parede coberta de desenhos assinados por Kuroo. 

- Não sabia que você desenhava...é muito bom - Kenma falou enquanto via Kuroo esconder um caderno que estava em cima da mesa, ele escondeu porque estava fazendo um desenho de Kenma e isso poderia ser meio estranho. 

- Eu gosto, é um passatempo bom! Então, você pode tomar um banho, eu trago algo pra você comer e ai você fica com a cama e eu pego um colchão pra dormir no chão, tudo certo pra você?

- Aceito o banho e a cama, a comida eu passo.

Depois de todo o processo, os dois estavam deitados no escuro, Kenma ainda jogava no seu Nintendo em silêncio, quando Kuroo perguntou.

- É ruim não falar? Digo, você sente mal por isso ou algo assim? Porque acho que você só fala comigo né

- Não, eu também falo com o Shoyo...É um pouco ruim, não, mentira, é muito ruim. As pessoas se aproveitam muito e eu simplesmente não consigo. 

- Mas como não consegue? Você ta falando comigo

- Eu tenho a capacidade de falar, mas quando tento falar com quem não conheço, eu travo, fico ansioso, me causa ataques de pânico...Sinto como se minhas palavras pudessem me matar 

- Entendi...Eu gostei de ouvir sua voz, achei a coisa mais lindinha, você é lindinho - Silêncio se seguiu, os dois ficaram envergonhados e Kuroo já se arrependia do comentário aleatório. Foi ele quem retomou a fala. 

- Eu li que isso que você tem, acontece na infância e depois passa, por que o seu não passou?

- É mais comum na infância, mas também pode acontecer depois, por trauma e coisa do tipo. 

- Trauma? Você teve um trauma ou o trauma é o filha da puta do seu irmão?

- ...Começou quando eu tinha 10 anos, meus pais morreram, fiquei passando de casa em casa, meus avós, meus tios, ninguém queria cuidar de mim, já me achavam problemático na época. Acabou que precisei morar com meu irmão, que já me odiava só por eu ter estragado a vida de filho único dele, ele brigava comigo por tudo que eu fizesse, inclusive o barulho da minha voz, ai eu parei de falar. Ninguém queria me amar, ninguém queria me ouvir, pra que falar?

Imediatamente, Kuroo respondeu. 

- Eu quero te amar e amei te ouvir

Silêncio de novo. Nenhum dos dois falou nada, mas estavam cheio de sentimentos intensos que não sabiam descrever. Kenma desligou o vídeo game e fingiu dormir, mas aquelas palavras ficaram se repetindo em sua mente. 

"Eu quero te amar"

(Can We Be Friends?) - Kuroken - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora