Capítulo 01 - Would you believe it?

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Era 1997 e Oasis cantava em Stand By Me: "eu vou partir algum dia antes que meu coração comece a queimar". Todas as vezes que escuto essa música, penso em como todos sempre precisam ir para algum lugar, mas raramente sabem para onde. Ou quando sabem, chegam lá e percebe que o seu coração pode queimar mesmo quando você encontra o caminho que queria encontrar. Percebe que talvez você sempre precisa partir para um pouco mais longe, pois nem sempre o que você achou que precisava, é o que você esperava precisar. Quase nunca sabemos para onde o barco vai nos levar, mas temos que seguir navegando.

Isso me lembra uma história. Uma história que aprendi em uma música de amor. Músicas de amor sempre tem algo para contar. Não subestime a narrativa que um coração pode gritar. Bem, essa história é sobre uma ilha e pessoas. Claro, pessoas! Mas tem mais. Aos poucos você vai se encontrar. Estou falando da Ilha de Eroda, o mais pequeno e remoto lugar do planeta, que fica distante de tudo, estando localizada entre a Ilha dos Sonhos e a Ilha da Liberdade. A maioria dos moradores de Eroda já estiveram na Ilha dos Sonhos. Eles acharam que o mais difícil seria sair de lá e chegar em Eroda, mas mal sabiam que na verdade, aqueles que chegam em Eroda, raramente conseguem sair de lá. Acabou que com o tempo, a Ilha da Liberdade virou uma lenda, dizem que é escuro, ninguém te ver lá. Então, eles têm medo de ao menos tentar alcançar essa ilha.

Assim, aos poucos você vai se acomodando às engrenagens de Eroda. Se você não se acostuma, você some, ninguém sabe onde te levam, ninguém sabe quem manda naquele lugar. Tudo é tão bem articulado que dificilmente você consegue chegar ao chefão daquele jogo e por mais que nesse lugar você consiga realizar tantas coisas que você trouxe consigo da Ilha dos Sonhos, você sempre tem que dar algo precioso em troca. Geralmente, é o seu sorriso verdadeiro. Outras vezes, é a sua própria voz. Na maioria das vezes, é sua personalidade. Você não pode ter a personalidade que quer. Todas as personalidades são calculadamente escolhidas pela engrenagem. Você tem que seguir as regras ou todos vão te esquecer. É como se você nunca tivesse existido.

Mas então, um dia, algo inesperado aconteceu. Ou melhor, alguém inesperado aconteceu. O Garoto Peculiar nasceu. Ninguém sabe quem são os pais dele. Provavelmente, desrespeitaram a ilha e desapareceram, mas o garoto ficou. Logo no berçário enquanto todos os outros bebês ficavam em silêncio, ele chorava, chorava alto. Ninguém na ilha pode chorar alto, nem os bebês. Alguém pode escutar e questionar o porquê do choro. Questionamentos são proibidos em Eroda. Siga as regras e tudo ficará bem, é o que dizem.

As enfermeiras tentavam parar o choro, mas era difícil chegar perto do Garoto, elas tinham medo, pois algo na energia daquele Garoto fazia você querer mais e em Eroda era proibido querer mais. Você tinha que estar satisfeito com tudo. Contam que um dia o Garoto sorriu e pelo menos três pessoas ficaram hipinotizadas com o brilho daquele sorriso. Ninguém nunca mais ouviu falar dessas três pessoas. Elas sumiram. Assim, tentaram se livrar do Garoto, colocaram ele em barco e mandaram para o mar. O Garoto chorou alto e descobriram que a voz dele emitiam ondas que fez o barco voltar. Nada nem ninguém poderia tirar ele de Eroda, não com uma voz daquela. 

Então, em Eroda ele ficou e cresceu, ajudado por alguns moradores com comida, roupa, mas nunca se arriscavam em se aproximar tanto. Nunca o ajudavam com carinho, atenção e amor. Em Eroda existia amor? Eles apenas enviavam tudo para a casinha no fim da rua, entre o salão onde todos cortavam o cabelo no mesmo estilo e a lanchonete onde você nunca poderia pedir mais doce ou mais sal na sua comida. Tudo já tinha a proporção certa. Ele cresceu cada dia mais sozinho, mas seu sorriso, sua voz e seu jeito peculiar nunca desapareceram. Era só quem ele era. 

Ele não se vestia como todos, com cores neutras, ele gostava de coisas coloridas e divertidas. O cabelo? Bem, ele cortava o cabelo ele mesmo, um cacheado chocolate que não passava despercebido, ficava diferente de todos os outros, não porque ele queria ser diferente, era só quem ele era e ele não entendia porque todos não podiam ser como eles eram. Todos tinham medo disso e dele. Ele andava nas ruas e fazia questão de sorrir para todos, mas eles sempre fugiam ou o seu sorriso os machucavam, causava problemas. Nem por isso ele parou de sorrir, ele só parou de sair mais de sua casinha ou quando saía era com um grande capacete de mergulho velho, onde ele podia sorrir para as pessoas, mas ninguém veria.

Mesmo assim, eles tinham medo de sua voz, de sua personalidade, de tudo aquilo que ele nunca teve que dá em troca para continuar em Eroda. Curiosamente, era exatamente tudo isso que fazia ele continuar lá. Então, às vezes, ele ia para as montanhas, sozinho, olhos no mar e junto com o seu toca discos, e vários potes de vidro, ele gritava, cantava, e falava sozinho, guardando tudo que sua voz emitia naqueles potes de vidro. Ele achava que guardar aquele poder era a garantia para ele continuar em Eroda, pois apesar de estar cada vez mais triste com a solidão, ele tinha medo de se aventurar, pois se todos o conheciam e mesmo assim tinham medo, o que poderia acontecer em um lugar onde ninguém o conhece?

 Ele achava que guardar aquele poder era a garantia para ele continuar em Eroda, pois apesar de estar cada vez mais triste com a solidão, ele tinha medo de se aventurar, pois se todos o conheciam e mesmo assim tinham medo, o que poderia acontecer ...

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Era Uma Vez Em Eroda Where stories live. Discover now