5. Inquisidor

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— O mestre Corvo foi com os senhores do exército, que vieram aqui, para a entrada do metrô. Talvez os encontrem no café que fica logo ao lado das catracas já que foi onde eu ouvi que iriam – informou a recepcionista do Departamento de Linhagens.

Anna e Godofredo saíram do Departamento e foram direto ao café que a recepcionista havia comentado. Seu nome era MagiEstrela e aparentemente era uma marca popular em Arkana pois estava lotado de clientes. Em uma mesa na parte externa estava o mestre Corvo sentado com um outro senhor, este usando um sobretudo preto e um chapéu similares aos do mestre Corvo, porém parecia ser mais velho por conta de seus cabelos começando a ficar grisalhos.

— Suponho que esses são os aprendizes que mencionou – disse o homem se levantando. – General Inquisidor Andrew Kings – se apresentou estendendo a mão e retirando uma luva de couro negro que usava. Ao primeiro olhar Godofredo decidiu que não gostava dele. Seus olhos eram pequenos e pareciam olhar dentro da sua alma, procurando uma fraqueza. Após hesitar por um instante, Godofredo segurou a mão estendida do Inquisidor e o cumprimentou.

— Godofredo Carvalho, aprendiz do Corvo – disse em resposta.

— Para uma criança você tem coragem – elogiou o Inquisidor. Godofredo então tentou soltar o aperto de mão e não conseguiu, Andrew o segurava com força.

— Nem adianta tentar se desvencilhar, Godofredo. O Andrew tem um dom especial que permite a ele "ler o coração" de quem estiver segurando a sua mão, sem contar que ele tem um aperto bem forte. Mas não tenha medo, vai ficar tudo bem – explicou o Corvo sem desviar os olhos do cardápio que estava lendo.

— Faz pouco tempo que estou aqui e todo mundo tem um poder ou outro. Vocês têm certeza de que isso é realmente algo incomum? – perguntou Godofredo um pouco irritado com o fato de alguém estar usando um dom para roubar informações dele e não poder fazer nada a respeito.

— Ah, é incomum sim – respondeu Anna. – Acontece que perto do mestre normalmente não se reúnem pessoas normais, então dá essa impressão errada de que todos tem poderes especiais – explicou se aproximando do Inquisidor e estendendo a mão como cumprimento. – Anna Cromwell, aprendiz do Corvo – se apresentou imitando o que Godofredo falara a pouco.

Soltando a mão de Godofredo, Andrew segurou a de Anna, mas dessa vez com delicadeza, porém Anna não recuou a mão depois de uns segundos, ela esperou até que ele a soltasse.

Voltando a se sentar em frente ao Corvo, Andrew fez sinal para que uma atendente se aproximasse e disse:

— Para mim e meu amigo, dois copos grandes de café preto sem açúcar. O que as crianças vão querer?

— Um mocha branco médio para mim e outro para o Godô. Posso me sentar? – perguntou Anna agora olhando para o Corvo.

— Mas é claro! Você também, Godofredo – respondeu o Corvo apontando as outras duas cadeiras. Vendo que Godofredo hesitava ele então o tranquilizou colocando a mão em seu ombro. – O Andrew é um amigo meu de muitos anos. Eu já expliquei para ele a situação, então está tudo bem, pode se sentar.

— Se está tudo bem, então qual a necessidade de ficar espionando o meu coração?

— Ah, ele tem esse hábito. E não o culpe, muitas vezes já descobriu sem querer que as pessoas não gostam tanto dele assim e isso deve traumatizar um pouco. Além disso, ele é chefe em um departamento importante do Exército, então tem dezenas de inimigos – brincou o Corvo.

— Dezenas que seriam menores se você não tivesse saído para se tornar professor da Academia – comentou Andrew.

— Ainda chateado com isso, Andy? Eu pedi até aviso-prévio para terem tempo de me substituir! – provocou o Corvo, que teve apenas um olhar sério como resposta.

O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)Where stories live. Discover now