O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)

8. Veterana

— Esse domínio não é meu! Godofredo, corre! – gritou Elsa, mas o domínio foi mais rápido que seu alerta e logo Godofredo havia sumido, absorvido pela magia para dentro de sua dimensão.

Uma olhada rápida ao redor confirmou que os mundanos não haviam sido levados pela magia assim como ela, entretanto Godofredo sim. Ela não tinha explicado para seu novato, mas a forma mais comum de se destruir um domínio é conjurando um mais forte no mesmo lugar. O problema é que esse domínio apresentava uma peculiaridade: transportar uma pessoa específica enquanto deixava uma maga e vários mundanos para trás. Tal complexidade já indicava que tentar sobrepor esse domínio com o seu seria apenas desperdício de energia.

Sua teoria inicial foi que o domínio que os atingiu operava com um sistema duplo de seleção: "acima de certo rank" para excluir os mundanos e "abaixo de certo rank" para excluir ela e outros magos mais fortes. Ela se baseava no fato de que as regras mais comuns de se colocar em um domínio são relacionadas com o nível de poder mágico dos envolvidos na magia. Entretanto, alguns magos, que são especialistas nesse tipo de magia, conseguem usar regras diferentes, podendo decidir incluir ou excluir alvos com base em sua afinidade elemental ou até mesmo pessoas específicas.

O nome dado a essas regras de seleção colocadas em um domínio durante sua conjuração é chamado de "Camada", e o que determina a complexidade de um domínio é quantidade de camadas que possui.

Mas pensar que o conjurador teria feito a magia dessa forma, usando camadas para escolher quem está dentro ou fora, a levava a crer que o alvo seria ela ou então Godofredo. O problema consistia em como ela poderia destruir a magia que tinha sido conjurada. Como ela não iria conseguir sobrepor com a sua por ser mais fraca, tinha que encontrar o conjurador para fazê-lo desfazer o domínio ou, caso ele estivesse dentro da magia com o Godofredo, ela precisaria pedir ajuda urgente para tirar o seu novato de lá.

Como havia mundanos por perto, Elsa correu para uma saída lateral do parque tentando achar a fronteira da magia com o mundo real. Assim que travessou a rua correndo, as pessoas começaram a olhá-la estranho, mas ela não podia parar agora por conta de um sentimento que surgiu em seu peito: estava sendo caçada.

Continuou correndo até se afastar pelo menos uma quadra do parque, quando passou a andar e se concentrar em tentar detectar quem a estava perseguindo. Ela tinha um plano para enfrentar esse inimigo, mas não poderia fazer isso na rua pois suas habilidades a revelariam como uma maga e muitas pessoas seriam pegas como dano colateral, o que ela sabia que seu mestre nunca aprovaria.

Ao se aproximar de uma esquina fez uma curva brusca para a esquerda e passou a correr novamente. Olhando rapidamente na direção das pessoas que estavam atrás dela percebeu um homem se espantando com sua ação repentina e passou a correr também.

Mas assim que ele virou a esquina atrás seguindo-a, parou ao perceber que havia caído em uma armadilha.

— Apesar de simples você levantou um domínio muito rápido, está de parabéns – disse o homem misterioso. Ele usava um terno, tinha cabelos negros penteados para trás e aparentava ter cerca de trinta anos de idade.

— Não sei se devo ficar feliz com o elogio de quem acabou de levantar um domínio com mais de uma camada e nem suando está – respondeu Elsa que estava uns cinco metros à frente com um círculo de pedras mágicas no chão ao seu redor. Foi uma manobra muito arriscada, mas assim que virou a esquina correndo, ela arremessou as pedras a sua frente, as posicionou com um feitiço enquanto corria para o círculo, conjurou um domínio barreira para segurar magos acima do rank D e prender o perseguidor junto dela num plano onde os mundanos não se machucariam.

O homem então pegou um par de luvas pretas em seu bolso interno do paletó. O domínio usado por ela foi um do tipo Barreira Interna, o que significa que quem está dentro não pode sair enquanto estiver ativa, incluindo o conjurador que precisa, obrigatoriamente, estar consciente e do lado de dentro para manter seu funcionamento.