corredor

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O salto curto da bota era o suficiente para dispensar um extenso barulho pelo corredor, pelo chão de madeira. Zack entrou na sala fervoroso, seu rosto estava agitado, como se tivesse recebido uma notícia muito ruim naquele exato momento.

- onde ele está? - disse ele entrando no ambiente, claro e cirúrgico.

O médico escorado sobre a parede, mexendo no que parecia ser um pequeno laudo médico, olhou para o rosto abatido de Zack, sorrindo.

- o príncipe apareceu - disse o médico.

Rosto bronzeado, olhos puxados e claros e um óculos quadrados, sem graça, seu corpo era fisicamente forte porém, não exageradamente e suas roupas eram elegantes e claras, dando ar de profissionalismo. Ele se aproximou de Zack, mexendo em suas madeixas encaracoladas.

- Não tenho tempo para isso, Satoshi - falou Zack irritado.

- está logo ali - respondeu o moço, nem um pouco preocupado - ele está bem.

Zack passou pelo moço, abriu as cortinas azul bebê, e encontrou Neko sentando sobre a maca, de joelhos fechados em posição fetal. A mão permanecia fixa no lugar onde Dante havia lhe batido, ele estava abalado, em choque, não conseguia entender porque Dante estava tão irritado com ele.

- Neko - disse Zack, sentando ao lado do garoto, observando o rosto dele parado na mesma expressão assustada.

- ele teve sorte ter sido um tapa - falou o doutor, chegando mais perto deles - você sabe que poderia ter sido pior, bem pior.

Zack sentiu um arrepio na barriga, tendo milhares de lembranças surgindo em sua cabeça de uma só vez, ele encarou o doutor, que estava novamente focado no laudo.

- Eu aproveitei - disse o Satoshi - tirei algumas amostra do sangue dele.

- Então...

- desnutrição, anemia, os hematoma causados podem ser pela falta de alimentação.

- e as queimaduras... - perguntou Zack

- São velhas, não cicatrizaram tão bem, tenho que analisar com mais detalhes.

- foi meu pai - Neko levantou a cabeça e Zack por instante viu a inocência de Neko sumir de seus olhos - meu pai gostava de apagar o cigarro em mim.

O menino esticou as pernas e se sentou na beirada da cama, seus olhos estavam vazios e sem vida, parecia que Zack estava vendo uma boneca sem alma, uma outra pessoa.

- Os machucados foram porque briguei na rua.

- você briga? - falou o moreno não acreditando.

- foi um bêbado, ele estava tentando tirar minha calça... foi fácil derrubá-lo depois do terceiro chute.

Neko falou friamente, como se cada palavra que tinha saído da sua boca não o abalasse. Zack sentiu outro arrepio medonho.

- Neko - disse o doutor - pode esperar lá fora? Preciso dar uma palavrinha com Zack.

- claro - o menino abriu sorriso e parecia sua pureza havia surgido novamente, ele deu um salto da cama e se dirigiu para o lado de fora da sala.

- bizarro - Disse Satoshi, observando o menino cerrado à porta - quem é ele? Arrastaram ele para dentro da minha sala e não disseram nada.

- Neko, um menino de rua que Dante resolveu "acolher".

- Sério? Passo um mês fora e Dante adota um bichinho? - debocha o médico, despejando o laudo sobre a mesa - as coisas começaram a ficar interessante depois de dois anos.

NoraNekoOnde histórias criam vida. Descubra agora