Capítulo XLII

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"It takes a lot to know a woman. A lot to comprehend what's coming." - It takes a lot to know a man, Damien Rice.

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》Camila

Depois que (SeuNome) foi para o quarto e me deixou sozinha na cozinha, eu ainda permaneci alguns minutos no cômodo. Não posso negar que a última coisa que eu queria naquele momento era ficar sozinha, pois a imagem de Nicholas estirado na cama sem vida e a sensação de frio que o corpo dele transmitiu à minha mão ainda me perseguiam. Claro, era tudo muito recente, mas eu queria poder me livrar daquela sensação. Contudo, quem poderia me fazer companhia naquele momento naquela casa? (SeuNome) estava no quarto com a esposa, onde realmente deveria estar, o filho do casal também havia sido levado ao seu quarto e não havia mais ninguém naquela casa silenciosa.

Deixei a cozinha e me dirigi ao quarto. Era aquele mesmo onde (SeuNome) e eu conversamos quando Emily foi a San Diego fazer os exames de gravidez, onde eu havia confessado à mulher como verdadeiramente me sentia em relação a ela.

Me sentei na cama encostando as costas na cabeceira e tomei um dos travesseiros em meus braços, apertando-o com força contra meu corpo. Estava sozinha naquele momento e tinha que lidar com os pensamentos de morte constantes. Não, isso não significa que eu queria morrer, mas, a morte tão repentina de Nicholas não fazia sentido para mim e eu não conseguia tirar isso da cabeça. Me vinha à mente também que, agora, eu era viúva e não haveriam mais papéis de divórcio. Os bens de Nicholas provavelmente eram todos meus, mas havia uma chance de que não fossem e, para ser sincera, eu não me importava, eu não queria nada. Agora eu poderia me considerar uma mulher livre, havia recuperado a liberdade de um modo não muito agradável, entretanto, estava livre, poderia entrar e sair quando quisesse, poderia enfim deixar a cidade, voltar para a casa de meus pais, talvez... Sim, queria muito vê-los, já não os via há muito tempo porque, desde que me casara com Nicholas, vivi presa a ele e suas regras e, por isso, não podia visitá-los. Raras vezes nos falávamos por telefone.

- Afinal, Nicholas teve o que mereceu. - Sussurrei para mim mesma algo que vinha pesando sobre meu coração.

Deitei-me para dormir, contudo, eu apenas conseguia rolar na cama, encarar o teto e vigiar a janela e porta temendo que alguém pudesse entrar. Devo ter pegado no sono apenas durante a madrugada e antes das 6 já estava acordada, mas o resto da casa permanecia dormindo. Pelo menos foi o que pensei antes de sair do quarto e entrar na cozinha.

De costas para mim e próxima ao fogão estava a mulher loira e alta que havia abrigado sobre seu próprio teto outra mulher que almejava a sua. Estava vestida para trabalhar e achei estranho que estivesse acordada tão cedo e sem a presença da esposa. Ela se virou para pegar a garrafa para colocar o café que havia acabado de passar e, ao me ver ali, teve um leve sobressalto, o qual, no entanto, conseguiu conter rapidamente.

- Nossa, Camila, há quanto tempo está aí? Pensei que ainda estivesse dormindo. Venha, acabei de passar o café, venha tomá-lo. - Me convidou a me juntar a ela antes que eu pudesse dizer qualquer palavra.

Um pouco tímida e receosa, adentrei de vez a cozinha e me sentei. Ela me entregou uma caneca e serviu o café para mim. Podia-se ver no rosto de Emily uma espécie de calmaria e serenidade gritantes, mas, simultaneamente, conseguia perceber o ar prevenido que emanava de suas ações sempre medidas e premeditadas.

- Dormiu bem? - Ela perguntou quando também se sentou para tomar o café.

- Sim, sim. Aliás, obrigada por me deixar passar a noite aqui. Eu irei procurar outro lugar para ficar hoje.

- Camila, você é muito bem-vinda aqui. Para que isso? 

A fala de Emily saiu com bastante cordialidade, mas eu pude perceber uma certa relutância em dizê-la. Não acho que tenha sido sincera.

Sete (Camila/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora