Capítulo XVIII

636 84 38
                                    

“Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre.”
– Paulo Coelho

#############################

》Camila

Tudo o que eu tinha daquela mulher a minha frente que sentia minhas mãos apertando suas bochcheas e esquentando aquele local eram olhos surpresos e um silêncio destruidor. Eu diminuí um pouco a magnitude da pressão que minhas mãos faziam sobre sua pele. Já chovia forte, estávamos ensopadas porém nenhuma de nós parecia querer ou ao menos saber como se mexer e após isso para onde fugir e se esconder daquela inusitada realidade. Comecei a perder as esperanças enquanto (SeuNome) começava a ficar séria e, por isso, soltei um riso irônico e ao mesmo tempo denotando som de cansaço e derrota. Deixei minhas mãos escorregarem do rosto de (SeuNome) até não terem mais contato com nenhuma outra superfície que não fosse o ar que as cercava. Baixei os olhos ao chão e ainda com os lábios curvados num sorriso humildemente pequeno e ainda característico de um fracassado nato, me distanciei gradativamente dela com passos curtos e silenciosos, mas não por muito tempo porque meu corpo se chocou contra a mureta lateral da sacada.

Que papel tolo eu fazia. Desta vez era eu quem estava implorando por ela, demonstrando o que queria do fundo do meu coração e tentando entender o porquê do não que me daria como resposta. Eu quis chorar, sempre fui orgulhosa demais e jamais me permitiria a isso na frente dela ou qualquer outra pessoa, contudo, por mais que eu estivesse tentando conter as lágrimas a todo custo, quando pensei que teria de voltar para e suportar Nicholas, que eu havia fracassado mais uma vez, que passaria a vida presa naquela situação da qual eu não tinha forças para me livrar sozinha e que eu jamais teria uma válvula de escape em dias ruins, as lágrimas e soluços estravasaram do fundo da minha garganta e olhos.

Foi quando senti (SeuNome) se aproximar de mim e seus braços me rodeando, uma de suas mãos fazendo minha cabeça pender para baixo e encostar em seu corpo enquanto a outra passava pela minhas costas e acariciava lentamente aquele local.

- Eu estou aqui e não vou a lugar algum sem você.

Aos poucos ao chuva diminuiu até parar por completo. Eu tentava manter meus dedos presos na blusa molhada de (SeuNome), já não chorava mais, porém, nem eu e nem ela ousamos desfazer aquele abraço apertado, ensopado e, de alguma forma, estranho, até que eu resolvi falar:

- O que você quer dizer com isso?

- Exatamente o que isso quer dizer.

- Isso foi muito esclarecedor. - Soltei um riso contra seu corpo e o senti estremecer ao rir logo após mim.

- Me pediu para ficar com você, não é? - (SeuNome) falou quebrando o contato entre nós, o que imediatamente me fez encará-la nos olhos quando suas mãos foram de encontro aos meus ombros sobre os quais fez uma leve pressão. - É isso o que significa: vou ficar com você.

Demorou até que eu tivesse a capacidade de abrir um sorriso por mais pequeno que fosse porque naquela hora o que me acometia era quase um ataque de extrema surpresa. Embora tivesse certeza de que aquilo era real, de que o que (SeuNome) havia acabado de dizer era real, eu mal podia crer que ela estava realmente dizendo aquilo. E após ouvir aquilo, eu já sabia o que deveria fazer e que deveria ser eu a fazer aquilo porque sabia que apesar de ter visto aquela mulher sucumbir a mim e a minha vontade há poucos instantes, ela ainda tinha medo, o temor que emanava dela era tão visível que chegava quase a ser palpável.

Mas as mãos também pensam por si só às vezes, basta apenas que uma vontade que saia do coração as motive. Daí minhas mãos se deram ao trablho de tomar novamente o rosto de (SeuNome), de aproximá-lo com tanta cautela como se a qualquer momento aquela cena pudesse se desfazer como quando acordamos de um sonho bom no meio da noite. Tomei a dianteira de tudo: de tocá-la, prendê-la naquele momento, mantê-la próxima a mim e tocar-lhe os lábios com os meus. Tudo começou devagavar, era como se (SeuNome) estivesse a compartilhar do mesmo receio que eu de que aquilo fosse irreal, e parecia. Porém, tão logo quanto surgiu aquele medo anterior que descrevi em (SeuNome), ele desapareceu dando lugar a uma mulher que me envolveu a cintura e me apertou contra si fazendo com que seu corpo estivesse preso ao meu fazendo com que eu sentisse o quão molhadas estávamos por causa da chuva anterior. O beijo tornara-se ávido e feroz, caloroso e explosivo e eu, que digo lá como Bentinho em Dom Casmurro: "Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres.", demorei a me acostumar com a sensação de ter aquela mulher me envolvendo com tanta força e me tragando para si com tanta intensidade. Tinha me casado cedo demais, tinha vivido pouco demais, tinha tido uma liberdade escassa demais para poder ter sentido, em um passado não tão distante, algo como aquilo, digo, para saber como era estar com uma mulher de verdade. Embora já tivesse beijado (SeuNome), ela nunca havia retribuído de tal forma, nunca havia demonstrado tamanho interesse.

Lá volto eu a Dom Casmurro: não sei se Capitu traiu Bentinho e, tampouco sei se Escobar foi capaz de fazer isso com Sancha, porém, ali estávamos eu e (SeuNome) traindo nossos cônjuges. Eu traía Nicholas com a mesma intensidade e o mesmo esforço com o qual me obrigava a viver com ele e (SeuNome) traía Emily com a mesma intensidade e a mesma sinceridade com que ainda continuava a amá-la.

(SeuNome) nos fez parar lentamente, quebrando o contato de nossos lábios aos poucos. Quando paramos de vez, ela pousou uns olhos mornos em mim que me fitavam com algum vestígio de curiosidade e interesse. Havia levado as mãos ao meu rosto onde pressionava minha bochecha com os polegares ou, em outro momento, parava para arrumar meu cabelo que já começava a secar lentamente.

- Acho que deveríamos entrar. Vou emprestar uma roupa para você e então poderemos conversar um pouco porque, acho que você sabe melhor do que eu, isso não é um conta de fadas ou um filme hollywoodiano. - Ela proferiu passando a ficar séria.

Apenas assenti. Sua mão esquerda desceu até a minha mão direita com a qual usou para me guiar até o quarto que dormia com Emily: uma suíte grande e espaçosa e, por sinal, muito bem arrumada com a ausência da Werner. Tudo dava indícios que (SeuNome) não estava dormindo no quarto do casal enquanto a esposa estava fora.

Ela pegou um conjunto de roupas para mim, na verdade, um pijama e, ao ver aquilo, logo me desesperei ao ter em mente de que para ela eu iria passar a noite ali, porém, eu não podia, tinha de voltar para casa.

- (SeuNome), não posso ficar. Nicholas vai notar minha ausência.

Sete (Camila/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora