ii. devaneios sobre o Onírico

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tem coisa mais bela que o sono, o descansar como ponte entre viver e o sonhar? o aprumar-se n'um cantinho aquecido, seguro, deitar a cabeça n'algo macio, cobrir-se gentilmente do mundo, e então, espera-se o soprar do sono nas pálpebras; até lá, o mundo é algo mais manso, tudo é envolto na ternura sonâmbula que exala uma porção de onírico na atmosfera... a nossa mente divaga, derrete-se na languidez do ar; a respiração é calminha, calminha, mas tudo  é tão quieto que ouve-se cada trocada de ar... e logo, logo chega o sonho; o onírico tão puro, tão divino... e acorda-se com a magia permeando na íris, um tímido cintilar— uma gotinha d'água reluzente que vem do mar das sutilezas soniais. acorda-se e o viver é como uma brisa gelada arrepiando a pele; em parte pois o sonho desacostuma-nos do mundo, e também porque o sonhar nos é um enlaço; é um feitiço nuvioso tomando nossas mãos, segurando nossos corações, trazendo-nos ao léu do mundo, do absurdo, do incompreensível; e como não haveria de ser um choque ser novamente um corpo só, concreto em si mesmo, após entender como é ser tomada pelo abraço de morfeu?

lilium somniumWhere stories live. Discover now