Este é um poema sobre reflexões

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Há um segundo atrás tive a impressão
de que certa Verdade sublime escondia-se
no vislumbre da janela, refletida através
do espelho da sala-de-estar.

Há um mundo lá fora,
além do vidro e da poeira,
alongando-se em luzes.
Há um mundo aqui dentro, também,
há um secreta ilusão, mantida dentro dos espelhos;
(Cuja translucidez é vaga, ambígua,
é um segredo, velado pela consciência.
Nunca poder-se-ia desvendá-lo;
nunca poder-se-ia contemplar sua beleza…
Mas, satisfazemo-nos sabendo que está lá—
O segredo está gentilmente descansando sobre
superfícies prismáticas, e a realidade além
é um paradoxo.
(Como sabemos que não estamos dentro do próprio espelho?)

Há uma alma, aqui, amalgamada n'um corpo
E há uma alma, vasta e luminosa,
entre estas paredes, escondidas sob o teto
como as palavras de um poema
escondem-se sob a minha língua…

Há algo florescendo aqui,
fresco e viridente, macio em suas pétalas,
despindo-se sob o Sol.
Há uma memória sendo escrita,
um momento de plenitude;
que serendipidade é olhar de repente para mim mesma
nos olhos, através do cristalino espelho.
Há lágrimas orvalhando meus cílios,
mantendo-se em sua tensão superficial,
essas gotículas, preciosas como joias,
facilmente derretendo-se e derramando-se
à flor da pele minha;
um leito de lago, tão imóvel,
a moldar-se aqui.
Três superfícies reflexivas colidindo:
— um corpo d'água, meus olhos, os espelhos.

Neste instante, me agarro às vagas impressões:
Tudo é luz, luz imortal e cintilante:
— e a nuvem branca se estica por um vasto céu,
recebendo e emanando a luz solar;
— e esses delírios, emergindo em um novo mundo
de contemplação, estão crescendo entremeados em luz.
Há uma abundância de iluminação.
— e eu também faço de mim mesma luz…
Uma criatura misteriosa de luz,
luz entrelaçada com a matéria.
Meu coração brilha e sempre que choro,
um arco-íris aparece no céu de meu peito.
Tudo não passa de uma estrela morta
— e vejo o nascimento de cada elemento,
queimando no núcleo das estrelas,
em algum lugar, a anos-luz de distância,
em algum ponto da eternidade...

A feitiçaria de meus devaneios é essa tecelagem de realidades.
— oníricos mundos colidindo,
afogando-se nos milagres uns dos outros...

Sim, água e vidro são espelhos. Sim, meus olhos também.
Minhas íris escuras, como luas,
veladas por sombras fuscas...
Perdi-me n'um País das Maravilhas:
— Tudo é real e tudo é um sonho.
Eu projeto asas no ar translúcido,
e minha alma é invisível; uma paisagem
formada apenas de espelhos, uma lâmpada,
emanando o brilho tênue do meu espírito…

Como a Lua reflete o Sol,
o Sonho reflete-nos o inconsciente—

Este é um poema sobre Reflexões.

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