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Um nobre em roupas comuns

...

Os ventos suaves do fim de tarde chacoalhavam as longas folhas azuis que se estendiam aos milhares sobre minha cabeça, pouco depois de ter partido a senhora Laha voltou trazendo quatro cestos na qual enchemos sem dificuldade alguma. Dexter que ajudou colhendo as mangas nas partes mais altas agora estava enroscado entre vários galhos cochilando tranquilamente, até pensei em acordá-lo mas como tinha feito um ótimo trabalho deixei que descansasse mais um pouco. Alícia por sua vez continuava comendo algumas das frutas amarelas, sentada em meio a grama aproveitando a vasta sombra que a mangueira fazia enquanto o cachorro de pelagem roxa permanecia deitado ao seu lado.

—Esse foi o último — disse colocando mais algumas mangas no cesto maior — Vamos levá-los para os Gliths, pegar nossa água e ir embora.

—Calma Amenadiel...

A vi esticar os braços sobre a cabeça antes de se deitar com o rosto virado para a vasta copa azul.

—Que tal aproveitar mais um pouquinho esse lugar?

Dei alguns passos me colocando bem ao seu lado.

—Tenho pressa.

—Sabe, meus pais sempre me diziam que quem corre muito acaba se cansando antes de chegar onde quer.

Seu olhar amendoado repousou sobre mim por alguns instantes antes de se esconderem atrás dos longos cílios.

—E quem deixa de correr as vezes chega tarde de mais — retruquei.

—Me diga Amenadiel, o que você tanto deseja para estar correndo tanto? — um dos seus olhos se abriu me fitando com certa expectativa.

Senti uma tensão familiar percorrer o meu corpo enquanto minha mente era jogada de volta ao passado.

—Isso não é da sua conta.

Minha voz soou fria mas parece que Alícia não notou. Ou simplesmente ignorou. Ao invés de reclamar ou começar a fazer mais perguntas como era de se esperar, seu corpo se alongou como um gato que se espicha preguiçosamente para logo em seguida se virar na direção oposta a minha.

—Já vai anoitecer, e eu estou com sono...

—Isso não é um problema meu.

—Poxa!Me deixe descansar um pouco Amenadiel, na noite passada pulei de um penhasco e ainda tive que te seguir no meio da escuridão segurando uma cordinha, sem falar que hoje ainda ajudei a pegar um montão de mangas.

Encarei suas costas sentindo minha paciência se esvair.

—Primeiro, você não pulou de um penhasco, estava praticamente no chão, segundo, se não tivesse segurado a cordinha provavelmente estaria perdida no meio da relva neste exato momento e terceiro, quem subiu na árvore e pegou as mangas foi Dexter e eu, você ficou aqui em baixo apenas recebendo e enchendo os cestos.

—Viu só! — ouvi um bocejo — Fiz muitas coisas — outro bocejo — E eu nem dormi na noite passada — sua voz era suave e baixa — Estou muuito cansada Amenadiel...

Francamente...

Antes que o resto da minha paciência se esgotasse empilhei os quatro cestos levantando-os sem dificuldade alguma.

—Faça como quiser então!

Segui em direção as escadas.

—Só não reclame quando acordar e não me encontrar aqui com Dexter!

Amenadiel (Pausado)Where stories live. Discover now