Jardim de Margaridas

7 0 0
                                    

Ana

Ao amanhecer, a governanta Agatha abriu as grandes janelas do salão da casa para que o sol nascente brilhasse pelos cômodos e trouxesse alguma luz para a casa silenciosa. Ela continuou com sua rotina, pegando os ovos das galinhas e começando a preparar o café da manhã. Ana estava feliz que sua filha contratara alguém como Agatha, era boa companhia e de idade semelhante a sua. Mas Ana preferia não pensar em sua filha, então expulsava os pensamentos tão rápido quanto surgiam em sua mente. A mulher se levantou se sentindo cansada, não havia dormido nada aquela noite nem muitas das noites anteriores. O grande corredor conectava os quartos, sendo o dela convenientemente localizado convenientemente perto do quarto das crianças.

Entrando no quarto, seus olhos capturaram James dormindo ao lado de Lily, presumiu que o menino tinha subido na cama com sua irmã para sentir segurança. Ana notou que eles eram próximos, sem saber da dura realidade e da morte de seu pai em batalha. Eles certamente sentiam falta da mãe e pai, que era muito mais presente do que o pai de Laura jamais foi. Ana também não queria mergulhar no passado, nada de bom viria dele, nem tampouco poderia mudá-lo. Mais perto das crianças adormecidas beijou os dois na testa, o menino acordou e disse "Mama? "; como Ana respondeu "ainda não querido, é apenas Annie".

Ele expressou sua frustração cobrindo a cabeça sob o cobertor e virando as costas para a avó. Ana trocou as fraldas de Lily, ele se levantou e abraçou Ana, enquanto a menina estava lá apenas tentando compreender a situação. Ali mesmo e então Ana tomou uma decisão, se sua filha voltasse para casa segura, deveria deixar a pirataria, de uma vez por todas.

Intervir era a última coisa que ela queria, mas as crianças precisam da mãe, e aparentemente Laura ainda precisava da dela. Dinheiro não era o problema, a família estava bem, Ana tinha acesso ao dinheiro para pagar os empregados e manter a casa funcionando, então estava ciente da grande quantidade de dinheiro da família. Laura era uma mulher jovem e formosa, poderia se casar de novo com um desses empresários legais, talvez um capitão de navio mercante. Desde que ele não seja um pirata ou um criminoso de qualquer tipo, traria segurança para si e as crianças.

Ana avaliou a situação, Henry era um homem bom, um bom pai e marido, mas já não estava ali para protegê-los. Laura tem dois filhos pequenos para criar, é conveniente que se case novamente – pensou. Sem a possibilidade de perder o marido, condenado e enforcado por pirataria. Ana era um caso diferente, após a morte do marido, resolveu-se de ser viúva até sua morte, por razões de magoas que julgara incuráveis. No entanto, permitiu-se imaginar uma vida com Emílio, tudo o que ele lhe ofereceria era a consolação de sua decepção conjugal, sentindo-se como uma mulher novamente. No entanto, suas esperanças de ser sua esposa morreram com ele, ainda assim ela era necessária, por sua filha e netos.

Oh, como sentia falta dos tempos em que Laura era uma criança, doce brincando e explorando nas planícies verdes do sul, onde só se preocupava que Laura caísse de um cavalo e quebrasse algum osso. Alegrava-se que Jamie e Lily não teriam as mesmas memórias tristes dos tempos em que ela teve que vender a vaca leiteira para manter a casa. O leite daquela vaca alimentou Laura muitas vezes, quando não havia outra fonte de comida. Seu falecido marido constantemente bebia todo o pouco dinheiro que tinham.

Agora a comida nunca faltava, parte de sua propriedade era algumas vacas e galinhas, cavalos muito finos e um poço. Tudo isso tivera que administrar enquanto sua filha estava fora, a quantidade considerável de dinheiro somada a herança de Laura, tornou-os bastante seguros.

Caminhando pelo belo jardim, cheio de margaridas e palmeiras, a mulher de poucos cabelos grisalhos e mãos calejadas, sentou-se no banco posicionado no centro do jardim. O mesmo banco onde Ana viu sua família, há pouco tempo, segura e unida. Na época sentiu que não iria durar...ao mesmo tempo em que a dor física que sentiu veio para combinar com a de sua alma. Aflita, nunca se sentira tão infeliz e miserável quanto no dia em que viu sua filha desolada pela dor do luto, pensou que Laura morreria aquela noite.

Lágrimas caíram pelo rosto, mas sorriu quando James arrancou uma das flores de margarida e entregou a ela, um gesto muito incomum, especialmente para uma criança pequena.

- Não se preocupe Jamie, logo sua mãe estará aqui conosco.

O menino parecia confuso, e ergueu-se saltitante.

- Papa?

Ana lembrou que era assim que ele chamava seu pai, ainda aprendendo a formar as palavras. Nem ela nem Laura lhe tinham contado sobre Henry, Lily era muito jovem, então ela decidiu esperar.

- Em breve, tudo vai melhorar meu querido.- respondeu, pegando-o em seus braços, com o melhor sorriso que poderia reunir.

O garotinho sorriu e foi brincar com seu navio esculpido em madeira, naquela noite Ana teve um sono sem sonhos. 

Planícies Distantes PARTE IOnde histórias criam vida. Descubra agora