Amor a Tira Colo

Capítulo 14 - Andrezza

Receber a noticia da morte do pai do Fernando foi certamente uma punhalada tanto no meu coração quanto no dele, o meu príncipe estava inconsolável. O retirei de dentro do hospital e o levei para fora, ele precisava de um ar puro.

Ele chorava e seu rosto estava começando a inchar assim como seus olhos. Não tinha o que dizer naquele momento, apenas segurei sua mão firme e o puxei para o meu colo, o deixei soltar tudo aquilo que estava esmagando seu coração.

Seu corpo tremia, ele soluçava e seus olhos ficaram vermelhos. Ele ficou de cabeça baixa e mexia as pernas como se quisesse dizer algo, mas não conseguia. Fiquei em silencio esperando que ele formulasse sua frase nesse momento tão difícil.

- Agora sei como se sentiu quando perdeu seus pais – disse ele – Tá que eu perdi meu pai com mais idade do que você, mas dói tanto – ele soluçou

- Foi bem assim que me senti, dói, dilacera, machuca e esmigalha seu coração. Mas isso faz parte da vida, quando isso aconteceu comigo eu formulei uma frase

- Qual? – disse fungando

- "Apesar de sabermos que todos irão partir um dia, nunca estamos preparados para perder alguém". Essa é uma grande verdade das nossas vidas, um dia as coisas acabam as pessoas morrem, mas nunca estamos preparados para esse momento que chega sem pedir licença. O que resta meu amor é ser forte, lutar e erguer a cabeça. Não se deixe abater, eu estarei com você a todo o momento

- Obrigado meu amor, eu vou precisar muito de você – ele sorriu fraco

Quando ele finalmente foi se acalmando o levei para uma lanchonete do outro lado da rua, nos sentamos e ele ficou me olhando sem entender.

- O que estamos fazendo aqui?

- Trouxe você pra comer, não tomou café e agora com essa noticia você pode acabar passando mal e eu não quero isso – disse simplesmente

- Não vai descer nada

- Vai ser obrigado a descer Fernando, eu estou falando serio, você precisa se cuidar – disse e chamei o garçom – Dois lanches naturais, um suco de laranja e um de morango por favor

Enquanto não chegava meu pedido, fiquei o tempo todo segurando a mão dele e fazendo carinho tentando assim passar paz e tranqüilidade para ele conseguir assimilar as coisas e não se apavorar.

Nossos lanches chegaram e ele mesmo contrariado comeu, e aí dele se não comesse! Ele permaneceu quieto o tempo todo, isso me incomodou um bocado, mas com as dores da vida aprendi que cada um tem uma maneira diferente de sofrer, uma maneira diferente de encarar essas situações ruins, e com o Fer nesse momento o silencio era seu abrigo, então o respeitaria.

Voltamos para o hospital e a mãe dele estava resolvendo tudo sobre o funeral, não fomos apresentadas uma a outra, mas obviamente oportunidades não faltariam. Estranhei uma loira que estava com ela, será que era irmã do Fernando e ele não sabia? Passei por elas e recebi um olhar estranho, peguei água pro Fernando que estava meio abalado ainda.

- Fernando já arrumei tudo, o funeral será amanha as dez horas – a mãe disse

- Tudo bem – ele disse – Vamos realizar o sonho dele?

- Que sonho menino? – ela realmente não conhecia nada do marido pelo jeito

- Ele queria que seus órgãos fossem doados – o Fernando respondeu – Irei falar com os médicos

- Ok, você que sabe – saiu batendo os saltos junto com a outra loira

Fiquei sentada esperando ele terminar de conversar com o doutor e logo ele voltou pra mim.

- Vamos?

- Sim, deu tudo certo?

- Sim, o doutor disse que os órgãos estão em excelente estado, exceto o cérebro – suspirou – Mas vai dar para doar sim

- Entendi

- Vamos para o hotel porque amanha o dia vai ser longo

- Ok, vamos

Seguimos para o hotel, tomamos um banho e comemos uma sopa bem leve. Logo nos deitamos e percebi a inquietação ainda estava presente no Fernando.

- Amor, se acalme por favor.

- Eu estou tentando Andrezza – ele disse com frustração e um pouco de raiva na voz. Queria ajudá-lo e não prejudicá-lo mais ainda. Ele se virou pra mim e eu fiquei ali, olhando seus olhos inchados, seu nariz vermelho e seu semblante triste, mas ainda assim via meu Fernando alegre e lindo de sempre. Levei minha mão ate seu rosto e fiz carinho com as costas da mão, ele automaticamente fechou os olhos como se quisesse absorver cada toque.

Acariciei seus cabelos, cheguei mais perto e toquei seus lábios com leveza, daria tudo para que essa dor fosse tirada dele. Ele me deu um meio sorriso, eu o abracei e fiquei observando ele ate que o sono chegou.

Acordamos cedo no dia seguinte e fomos em direção ao velório, tinha muitas pessoas presentes lá, muitos choravam, outros aproveitavam o silencio, a mãe dele continuava com o mesmo semblante frio de antes. Teve um tempinho onde o pastor deu uma palavrinha, houve muita comoção e lágrimas. A todo o momento eu me mantive firme segurando a mão dele e secando suas lágrimas.

O tempo estava quente, o sol se fazia presente lá fora, fomos caminhando com os óculos de sol seguindo o caixão, era um momento terrível, uma dor se instalou em meu peito e senti ali que a vida do Fernando agora dependia de uma dose a mais de felicidade, e se Deus me capacitasse e me achasse a pessoa certa, queria ser eu a sua felicidade para sempre.

Aos poucos a terra ia engolindo o caixão, flores brancas iam sendo jogadas, até que o buraco se fechou sendo colocadas as coroas em cima. Nesse momento tudo acabou tudo desabou, um ciclo se fechou.

- Pessoal, antes de irem eu tenho algumas coisas para falar – O Fernando se pronunciou – Queria agradecer a todos pela força que tem dado para nós, obrigado por terem comparecido e por terem se sensibilizado com esse momento. Meu pai apesar de não ser muito presente sempre teve um lugar especial em meu coração e isso nunca vai mudar o meu amor por ele, tenho certeza que ele está em um lugar melhor, jubilando e sorrindo!

Todos aplaudiram o discurso e assim aos poucos cada um foi indo para sua casa. Pensei que voltaríamos para o hotel, mas o Fernando me pegou de surpresa.

- Vamos jantar lá em casa, quero que conheça a Neide – ele disse

- Mas sua mãe não vai achar ruim?

- Claro que não

- Então tudo bem, vamos – sorri e seguimos para a casa dele onde a noite me renderia muitas surpresas.