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      Os dias que se seguiram foram de suplícios e confusões. Sentia-me como uma laranja sendo espremida para dar suco. Já não estava aguentando mais, queria sair da casa de vovó. Ela continuava me acusando, quase não me dirigia a palavra. Sentia-me como um parasita. Mas para onde iria? Então resolvi ficar e suportar suas palavras cruas.

A polícia, por mais astuta que fosse, não conseguia juntar nenhuma prova que me incriminasse. Aquele era o típico crime perfeito onde eu precisava me manter escondido.

Mas algo aconteceu que acabou me obrigando a sair de minha própria toca. Uma noite acabei por acordar com barulhos de vozes na sala. Passava um pouco das dez horas da noite. Vovó gostava de dormir cedo e por isso todos deviam permanecer na cama após aquele tempo. A empregada ruiva, naquele dia, não estava conosco; era seu dia de folga. Levantei-me desconfiado e fui lentamente andando pelo breu do corredor. Temia ser visto, por isso não coloquei o rosto na sala para ver quem conversava. Nem precisei, eu conhecia a voz daquele homem que discutia com vovó.

— Você está louca! Literalmente louca!

— Louca, eu?! Posso ter tudo, menos problema mental. Tenho certeza de que você e aquele garoto tramaram a morte do Yoochun.

— E se eu tiver feito isso, qual o problema? O seu filho não valia nada, assim como você, sua velha caquética. Nem ao menos se importa com a esposa dele ou os filhos.

— Eu vou te entregar para a polícia. Você e aquela praga demoníaca que diz ser meu neto. Quero que os dois apodreçam na cadeia. Pensa que não sei do caso que você tem com ele?

— Sabe, e daí? Você não vai mesmo entregar ninguém. — Falou ele, com um ar sarcástico. — Nem ao menos tem a coragem. Aliás, quem acreditaria numa mulher senil, insana, à beira da morte?

Não tinha coragem para encarar aquelas pessoas. Minhas pernas estavam trêmulas e meu coração parecia subir a garganta. Fui escorregando pela parede até ficar sentado, prostrado e com ansiedade dos pés a cabeça.

— Acho bom me respeitar...

— Respeitar por quê? O que você fez por mim que valha um pingo do meu respeito?

Escutei vovó ofegar, notei que ela começava a sentir os problemas de pulmão. Era sempre assim, ela não podia ficar nervosa.

— Onde está minha máscara? Estou precisando de ar.

Criei coragem e estiquei o pescoço para fora do corredor e vi que tio Seokjin se dirigia até o botijão de oxigênio do outro lado da sala.

— Esse aqui? — Ele perguntou, cinicamente.

— Traga-o aqui. — Exigiu ela, com a voz rouca e falha.

— De jeito nenhum.

Fiquei horrorizado quando meus olhos encararam o rosto dele. Estava estampado na boca um sorriso frio, os olhos negros pareciam apreciar a dor da mulher. Ele parou em frente ao corpo dela.

— O que você vai fazer? — Gritou vovó, segurando o próprio peito pela falta de ar.

— Nada, sua velha caduca, só quero ver por quanto tempo você aguenta ficar se debatendo como um porco na lama.

— Preciso de... ar. — Ela disse, tentando se levantar da cadeira de balanço. Meu tio aproximou-se dela e a empurrou, fazendo com que voltasse para o seu lugar. — V... vo... você vai... me... ma... tar.

— É essa a intenção. — Falou ele, curvando o corpo e encarando a mais velha nos olhos.

Voltei a esconder meu rosto e escutei o ofegar de vovó e depois o silêncio. Olhei novamente e vi ela sentada, quase desacordada. Meu tio estava ajoelhado na frente dela, impedindo-a de se mover. Ficaram assim por alguns minutos. Eu queria fazer alguma coisa, mas o quê? Coloquei o rosto entre as pernas e fiquei ali tremendo.

Voltei a ouvir alguns sons, ajeitei-me e olhei para a sala. Tio Seokjin levantou-se, pegou-a em seus braços e veio em direção ao corredor. Antes que ele me visse, corri para o meu quatro e tranquei a porta. Sentia meus olhos esbugalhados e o coração agitado. O que diabos ele estava querendo? Não podia acreditar que ele fosse calculista e sombrio daquela forma.

Minutos depois escutei passos em minha direção. Era ele que vinha ao meu quatro. A porta estava fechada, mas eu estava com tanto medo, que corri para o banheiro que possuía no cômodo. Ouvi o barulho da tranca sendo forçada, pensei que ele fosse logo bater. No entanto, Seokjin apenas falou calmamente:

— Jimin, sei que você está acordado. Não precisa abrir a porta, já estou indo embora. Amanhã sem falta nós conversaremos. Não me procure... eu te procuro.

Novamente os passos voltaram a soar pelo corredor. Ele andava tranquilamente como se nada tivesse acontecido. Eu provei de uma suave tontura quando decidi sair do banheiro. Não sei porquê, mas fiquei com a impressão de que a próxima morte seria a minha.

Senti mais desespero ao pensar na possibilidade. E logo tratei de arrumar as poucas coisas que tinha. Tentei imaginar para onde ir, onde esconder-me de toda aquela loucura. Decidi que tinha que ser um lugar distante daquela falsa família. Peguei minha mochila, respirei fundo e abri a porta; precisava ir até o quarto de vovó. Andei pelo corredor com a impressão de que meu tio ainda estava por ali. Isso fazia com que eu caminhasse rápido e com medo. Procurei a porta do quarto de vovó e entrei ligando as luzes. Ela estava deitada, olhos fechados como se estivesse dormindo. Aproximei-me do ouvido dela e a chamei:

— Vovó?

Ela não respondeu de imediato. Mas para o meu espanto, a mulher abriu os olhos, arreganhou a boca deixando sair uma gosma branca e segurou uma de minhas mãos com força. Dei um grito e num reflexo saltei para trás, caindo de costas. Levantei-me e todo meu corpo tremia. Peguei a mão dela jogada fora da cama e coloquei-a de volta sobre o seu peito. Os olhos de vovó estavam me encarando, tratei de fechá-los. Somente na boca que não ousei mexer.

Precisava de dinheiro. Meu pai vivia dizendo que ela guardava uma verdadeira fortuna em casa, mais precisamente no quarto dela. Não podia fazer bagunça, nem ficar tocando nos objetos. Aquilo podia me comprometer ao deixar minhas digitais. Fui até a cômoda repleta de porta-retratos. Olhei um por um. Tinha fotos de todos os filhos, noras e netos. Procurei pela minha família, mas somente encontrei meu pai. Do lado havia um porta-jóias em forma de baú. Abri e encontrei anéis, pulseiras e colares. Pela riqueza de vovó, sabia que cada peça era ouro de verdade. Se não achasse notas, poderia levar tudo aquilo. Mas quando abri a primeira gaveta vi um saco tipo bornal. Coloquei a mão dentro e tirei um pacote de dinheiro. Nunca tinha visto tanto dinheiro assim junto, devidamente arrumado, em notas graúdas. Peguei todo o dinheiro que havia e joguei em minha mochila. Olhei para ver se tudo estava em seu devido lugar e tratei logo de ir para a rua.

🌥

Seokjin, hm? Óbvio, eu sei 🙈
Posso dizer q ele é um vilão que atua bem e q vai ser bem mais podre futuramente o-O

O capítulo foi rápido só para eu n ter q demorar tanto a aparecer por aqui, mas vou caprichar mais nas descrições dos próximos. Prometo kkkk

Até um próximo capítulo 👋...

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍWhere stories live. Discover now