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       Quando chegamos de nosso passeio a casa já estava aberta e Jiweon chegara de seu trabalho.

— Vocês demoraram. — Reclamou ela, de frente para o fogão.

— Fomos até a represa. — Respondi, procurando um lugar para me sentar.

— Estou vendo. Seu cabelo está todo espigado. No mínimo vocês nadaram. — Retrucou ela com olhar de reprovação para Jungkook, que abria os armários em busca do que comer antes do almoço.

— Eu nadei, ele não. Disse que a senhora não deixa.

— Ali não é lugar de se nadar. A represa é traiçoeira. Muitos garotos já morreram lá. Você fez mal de ter nadado.

— Desculpe, não resisti. A água estava tão limpa e fria. — Murmurei.

— Não faça mais isso. Tem muitos lugares bonitos por aqui, mas você deve tomar cuidado que são todos traiçoeiros.

— Prometo tomar cuidado. – Falei me levantando. — Acho que vou para o meu quarto.

— O almoço está quase pronto. Não demore. — Estava quase saindo quando ela se lembrou: – Ah, estava me esquecendo, o padre veio aqui atrás de você.

— Que padre? — Estranhei.

— Padre Taehyung, o único que temos na cidade. Eu estava chegando quando o encontrei no portão. Ele pediu para que você fosse à igreja logo depois do almoço.

— O que será que ele quer comigo?

— Não sei, mas você acabou de chegar na cidade e já está fazendo amigos influentes. Vai ver que é para falar sobre os destinos da Igreja, afinal, você é um membro dela.

Notei um certo ar de cinismo em sua fala. Não dei importância, simplesmente fui para o meu quarto.

Joguei-me na cama e fiquei pensando sobre o que acontecera na represa. Será que eu estava me tornando um promíscuo? Não podia me envolver com um garoto que tem problema mental. Nós dois podíamos sair machucados. E se a mãe dele descobrisse? Tinha que me comportar, não podia agir como um mundano. Acabara de chegar na cidade, dei sorte de ter arrumado um lugar para ficar. De uma forma ou de outra a sorte estava do meu lado, por que então brincar com ela?

Levantei-me e peguei minha mochila. Desgraçadamente esqueci o meu diário. Naquele momento tinha uma necessidade quase louca de escrever. Achei uma caneta jogada em um bolso da mochila. Procurei por um caderno, um bloco, qualquer coisa que pudesse servir de anotação. Sobre a cômoda havia, apenas, a receita que o médico Min deixara para comprar remédios, caso as dores voltassem. "Elas nunca mais voltaram" pensei comigo. E comecei a rabiscar aquilo que latejava na minha cabeça e ia até o peito. Devia ser assim que os poetas faziam poesia. Tinha que ser uma dor tremenda a percorrer o corpo, desaguando numa folha de papel.
De tantas coisas que podia pensar, acabei pensando em tio Seokjin, nos momentos bons que passamos juntos. Eu queria odiá-lo, mas não podia, queria xingá-lo, não tinha palavras. Na verdade, todas as palavras do mundo sumiram naquele momento. Pensei um pouco e acabei rabiscando no verso da receita algo que não era poesia, mas um desabafo que eu precisava fazer e não tinha com quem.

Minha barriga acabou por roncar e o cheiro de comida invadiu o quarto. Era hora de almoçar. Deixei o papel jogado sobre a cômoda. Odiava ler o que escrevia. Depois, com certeza, eu iria fazer uma bolinha e encestar aquele papel na primeira lata de lixo que encontrasse. Sinceramente, nunca soube escrever, jamais conseguiria ser um poeta ou um escritor.

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ