10

56 13 37
                                    

       Meus olhos estavam fitos num pudim sobre a mesa. Eu adorava pudim. Uma mosca passeava sobre ele. A mosca devia adorar mais o pudim do que eu. Enquanto ela passeava sobre ele, eu ficava buscando respostas para uma pergunta que pairava no ar.

— O que você fez com meu filho?

Era a segunda vez que ela me fazia essa pergunta. Estávamos sentados um de frente para o outro, a mesa da cozinha nos separando. Aquele lugar me parecia ser dos ajustes de contas. Jungkook estava em pé na porta. Mexia a cabeça de um lado para outro num tique nervoso demonstrando que, de uma forma ou de outra, ele estava entendendo o assunto.

— Eu não fiz nada com seu filho.

— Você desonrou o meu lar. Como pôde?

— A senhora fala como se eu tivesse violentado o seu filho. Olhe o tamanho dele, olhe o meu.

—O que você quer dizer com isso? Que foi ele que te atacou? Vai querer acusar meu filho de estupro, é isso?

Ela estava transtornada. Seus olhos grandes, como os do filho, pareciam querer me engolir. Tudo o que eu dissesse naquele momento, em nada resolveria a minha situação. Lembrei-me de casa, das infindáveis brigas, da sensação de medo, do pavor e das surras que levava. Ainda bem que ali, com certeza, eu não apanharia. Pelo menos achava.

— A senhora está entendendo tudo errado. Não aconteceu nada de mais, nada de grave. Olha, o Jungkook está aqui, o que aconteceu com ele?

— Isso. — Levantou-se quase correndo e foi até o quarto dele. Voltou com o lençol do quarto e estendeu-o na minha cara. — Você foi com ele pra cama, não foi?

Senti vergonha ao ver o lençol sujo de sêmen, por isso virei a cara.

— Não preciso responder isso.

Ela soltou o lençol no chão. No mínimo ia colocar fogo nele.

— O que nós conversamos ontem?

— Dona Jiweon, eu...

— Eu confiei em você, te trouxe para dentro da minha casa mesmo não o conhecendo, olhei os seus olhos e vi um bom garoto, cheio de problemas, mas com uma alma boa. Como pôde me enganar?

— Eu nunca disse que era bom.

— Pois não é mesmo. Ontem eu pedi para que você não se entregasse ao Jungkook. Por que foi tão fraco? Por que abusou da inocência do meu menino? Responda!

— Eu não sou um bom garoto, tenho um demônio dentro de mim. Acreditei que precisava ter o seu filho para ver se ele conseguia tirar esse mal de dentro de mim.

— Quem tem que tirar esse ser de você é Deus, não o pobre Jungkook. Jamais vou te perdoar por isso. Você ensinou para ele o desejo da carne. Agora ele vai querer sempre um corpo para satisfazê-lo. Você vai estar aqui para isso? Aonde você vai estar, Jimin?

— No inferno. — Respondi com toda amargura do mundo.

— Não quero mais te ver aqui. Pegue suas coisas e vá embora. Daqui a pouco sai o ônibus, vai e não volte nunca mais.

Ao ouvir isso, Jungkook reagiu. Foi até ela e falou trêmulo:

— Ele é meu namorado, mamãe. Gosto muito de Jimin, por favor, não o mande embora.

Enquanto ele repetia segurando o braço da mãe dele, eu me levantei e fui para o quarto arrumar as coisas. Dali a pouco o padre viria me buscar. Minha aventura terminava ali.

A primeira coisa que fiz quando entrei no cômodo foi tirar os pôsters da parede. Um a um fui arrancando e dobrando. Minhas mãos tremiam. Deixei os papéis sobre a cama e corri para o banheiro quando um bolo subiu minha garganta. Quase não deu tempo de abrir a tampa do vaso e um líquido vermelho saiu de mim. Era sangue.

A dor não cessou. Minha boca não parava de soltar sangue e uma dor fina no estômago me fazia segurar minha barriga com um dos braços. Estava insuportável. Precisava buscar ajuda. Com muito esforço consegui me levantar e segurar a boca com outra mão. Passei pelo espelho e vi meu rosto branco como neve sangrando pelas narizas e ouvidos. Meus olhos estavam ficando vermelhos. Precisava de ajuda, mas não tinha como pedir.
Tentei seguir até a porta do banheiro e caí. Procurei levantar quando senti uma mão segurar meu rosto com delicadeza. Vi, então, a expressão assustada de um anjo. Só então consegui dizer com os olhos cheios de lágrimas:

— Jungkook, chame sua mãe que estou morrendo.

🌥

Passando pra comentar que eu amei essa nova capa. Pode não estar muito proficional, mas fiz com carinho e espero que vocês tenham gostado também.

Agora sobre o capítulo... a saúde de Jimin está muito comprometida. Será q ele sobrevive?

Só no próximo capítulo saberemos :)

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍWhere stories live. Discover now