I know you ain't a drug, but you get me so high
~ Doja Cat - So High
Passava por minha cabeça as últimas palavras de Suna, antes de me deixar sozinha no auditório. Sua voz rouca e baixa ecoando por todo o local vazio onde estávamos no momento, agora ecoava por entre as extremidades de meu corpo, uma dúvida instalando-se em meus pensamentos. "Nos vemos por aí" , significaria que iriamos nos ver novamente e ter uma 'conversa' civilizada como nessa vez? Bufei, desistindo de tentar raciocinar o que o moreno disse.
Levantei-me da cama, caminhando em direção à Louise, sentindo minha cabeça latejar levemente. A loira estava no banheiro, as mãos manchadas de azul e duas mexas tingidas da mesma cor. Ela parecia concentrada enquanto esfregava a mistura homogênea de condicionador e tinta para cabelo em seus fios loiros. Encostei no batente da porta enquanto observava a mesma, sentindo meu corpo cansado de tanto ensaiar.
Estava chegando o dia em que o clube do teatro faria a apresentação da peça que estávamos ensaiando. Aparentemente, todo bimestre nós tinhamos que fazer algo novo e eram nesses dias que aconteciam os festivais do internato. Em um dia específico, depois das provas bimestrais, os clubes apresentavam o que planejaram durante dois meses. Os alunos que faziam algum esporte ficavam de fora por terem jogos o ano todo, mas podiam apreciar das feiras. Como eu havia ingressado no colégio no meio do primeiro bimestre, já estávamos perto do final e eu treinava mais que todos os membros do grupo por estar atrasada. Sentia-me tão cansada que quase dormia em pé.
— Ah - Louise me despertou, soltando um gritinho.
— O que foi? - perguntei, vendo sua bochecha manchada do azul cintilante.
Fiz uma careta, já imaginando o trabalhão que teria para tirar a tinta de sua pele e consolar a garota de que sairia rápido o tingimento. Suspirei, indo em direção à francesa enquanto passava a toalha em seu rosto bonito, tirando o grosso do turquesa na derme meio bronzeada. Louise estava emburrada enquanto encarava o próprio reflexo no espelho, vendo-me limpar a sua sujeira. As duas madeixas de cabelo que eram pintadas estavam soltas ao lado de seu rosto, o azul se misturando com o roxo desbotado de sua última retocada.
— Por que você quis pintar de azul? - esfreguei mais forte a toalha em sua bochecha.
— Parecia que ia ficar mais bonito - choramingou - Você acha que vai ficar feio?
— Não, acho que vai ficar bonito - vi que a mancha saiu e então coloquei o tecido com que limpei para lavar.
Louise soltou uma onomatopeia, saindo do banheiro comigo atrás de si. Ela abanava as mexas recém retocadas, buscando por seu celular perdido no colchão bagunçado com várias cobertas e travisseiros de ursinhos. A francesa passava uma vibe durona, porém no fundo ela era apenas mais uma criançona com medo de dormir sozinha.
— O festival é daqui duas semanas - comentou, mexendo no aplicativo de mensagens em seu aparelho celular - Saiu a data deste bimestre.
A loira se sentou no chão do quarto, encostando suas costas em sua própria cama. Fiz o mesmo que Louise, vendo o que ela fazia de interessante em seu telefone todo trincado e coberto de figurinhas na capinha transparente.
— Quando vai ser?
— Segunda semana de março, entre dia 8 e 12 - uma semana de apresentações e jogos. Pensei - Ainda vamos ter mais uma semana de recesso, uma mini férias para alunos de recuperação poderem repor nota.
— Entendi - senti meu celular vibrar em meu bolso da calça de moletom.
Peguei o mesmo, vendo a notificação do aplicativo de mensagens. Osamu mandava uma foto, onde segurava um cigarro com a boca e olhava para o chão distraído. Logo abaixo havia uma legenda.
Samu~
Suna que tirou, ficou boa?
Me
yep
Samu~
quer vir aqui?
Me
hm...
Bloqueei o celular, ponderando entre ir encontrar o gêmeo ou ficar com minha amiga. Olhei para o lado, vendo que Louise me encarava enquanto roía as unhas, uma das sobrancelhas arqueadas.
— Você vai? - perguntou.
— Fofoqueira - levantei-me do chão, vendo meu estado deplorável no espelho, ainda decidindo sobre - Você gosta de ficar vendo a conversa dos outros, né?
— Mas você acabou de fazer a mesma coisa - arregalou os grandes olhos verdes, acompanhando meus movimentos enquanto ia para o banheiro.
Bufei, me sentindo feia para encontrar Samu naquele exato momento, sem contar que já estava quase na hora dos dormitórios darem o toque de recolher. Meu cabelo estava sujo, eu fedia levemente por ter preguiça de ir tomar banho e as olheiras estavam enormes. Estava tão acabada que tinha certeza que Osamu tomaria um susto quando me visse. Outra notificação chegou e abri o celular rapidamente, vendo o que o platinado mandava.
Samu~
estamos fumando um, chame Louise se quiser...
— Viu? Ele quer que eu vá! - a loira deu um gritinho atrás de mim - Diz para ele que iremos, mas que chegaremos mais tarde.
Encarei a francesa, ficando chocada por suas decisões sem meu consentimento. Ela tirou a roupa em minha frente, rumando para tomar banho e tirar a tintura dos fios loiros. Fiz o que mandou, enviando o aviso para Samu de que iríamos demorar por pelo menos uma hora.
*
Eu vestia uma meia calça preta, um short cintura alta e uma camiseta de manga comprida qualquer, um casaco grosso cobrindo meus braços por conta do frio noturno. Louise usava uma calça jeans e um moletom grande, um all star preto em seus pés. Ela estava sentada na janela de nosso quarto, segurando-se na cerejeira ao lado para poder descer até a grama do térreo. Fez isto, me esperando no chão enquanto eu copiava seus movimentos para também poder descer pela árvore grudada na janela. Quando cheguei ao seu lado, andamos silenciosamente até o ponto de encontro que Miya falou.
Sentia-me nervosa, era a primeira vez que fazia algo do tipo, além de estar indo fumar dentro da instituição escolar. Sem falar do fato que nunca fumei na vida, tinha medo de passar vergonha ou algo de ruim acontecer.
— Ivy - a francesa me chamou - Você já fumou alguma vez?
— Não - confessei, sentindo o vento gélido bater em meu rosto cansado.
— Vou te ensinar algumas coisas então, para não passar vergonha na frente deles.
Pelo resto do caminho, Louise ensinava coisas básicas e fáceis sobre como tragar ou bolar um baseado. Eu ficava chocada pelo fato de minha amiga saber tanto sobre drogas e me perguntava se era seguro mesmo andar com ela. Porém eu sabia que a francesa era tão inofensiva quanto uma borboleta, pois se ela realmente fosse má influência, já teria me oferecido um LSD ou Cannabis. Andamos por mais alguns poucos minutos, encontrando Suna e Samu debaixo de uma árvore, que se juntava com mais duas e formava uma sombra enorme. Eu quase não via os dois ali por conta do breu, distinguimos ser eles por um assobio vindo do moreno de olhos amarelados.
Caminhamos em silêncio até a árvore onde se encontravam, uma melodia contagiante tocava no celular de um dos garotos. Osamu estava encostado no tronco da árvore, brincando com um isqueiro nas mãos. Seus olhos estavam levemente avermelhados e baixos, dando a impressão de que o platinado havia acabado de acordar. Sunarin estava no mesmo estado, comendo balas em tubos de um pacote. Nos comprimentamos, Louise sentado-se na grama fofa de frente para o moreno, apoiando-se com os braços no chão. Samu me puxou para sentar por entre suas pernas, com o tronco encostado em seu peito largo e quente. Sussurou algo em meu ouvido, fazendo os pelinhos de meu braço se arrepiarem por inteiro.
— Você está bonita - beijou perto de minha orelha, seu sopro quente batendo em minha pele fria.
As mãos de Osamu rodearam minha cintura enquanto eu encostava minha cabeça em seu peitoral aquecido, a música saindo de um celular ao nosso lado preenchia a atmosfera tranquila do local e por um momentos não me senti preocupada em sermos pegos por guardas. Vi Suna oferecer um beck para Louise e observei como a loira tragava a fumaça, lembrando-me de suas instruções para mim. Ficava ansiosa sempre que envolvia algo ilícito ou que eu não sabia lidar, e naquele momento, eu tinha os dois problemas, porém me deixei levar pela vibe. Uma nova música começou e a reconheci por ser a mesma que Suna tocou hoje mais cedo, no auditório.
— Qual o nome dessa música? - perguntei baixinho para o gêmeo.
O platinado tirava o cigarro dos dedos da francesa e tragava levemente da fumaça que desgastava seus pulmões. Soltou o ar, deixando o cheiro de erva preencher minha narinas enquanto falava.
— Nervous, The Neighbourhood - respondeu minha pergunta.
Prestei atenção na letra, acompanhando o significado de cada verso cantado, as batidas da música acompanhando levemente os bombeamentos de sangue que meu coração fazia. Osamu me ofereceu o baseado, que peguei com as pontas dos dedos e reproduzi com naturalidade os mesmos gestos que Louise me ensinou, tragando pela primeira vez da fumaça quente que me drogava lentamente. Soltei a mesma, vendo um olhar orgulhoso nas orbes verdes de minha amiga.
Ficamos dividindo o beck até que acabasse, os quatro ficando chapados rapidamente. Eu sentia meu corpo leve e tranquilo, um sono suave preenchendo meu interior, os braços de Samu envolviam minha cintura, cruzando minha barriga enquanto suas mãos agarravam as minhas. Fomos embora apenas quando o relógio bateu três da manhã, foi quando senti-me tão cansada e sonolenta, que dei um cochilo sereno no peito do gêmeo, sendo acordada pelo mesmo para acompanhar Louise de volta para nosso quarto. Lembro-me das últimas palavras do platinado antes de eu subir pela cerejeira grudada ao lado da janela.
— Durma bem, princesa.
*
oi gente :( meu óculos quebrou e eu estou tão triste
eu não tenho grana para comprar outro
mas tirando isso, como vocês estão?
espero que bem ^^
se curtiram o cap, dêm sua estrelinha e deixe um comentário :))
beijocas da tia nanda!!
cap sem revisão!!! [13/05/21]
