Querida preciosidade

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Junto com a sua nova namorada, meu pai tentou me convencer a abortar, o que eu recusei assim que ouvir aquelas palavras. Eu não iria tirar a vida de um inocente por agir sem pensar nas consequências, aquele bebê não tinha culpa do que nós tínhamos feito. Como fiquei irredutível, meu pai ofereceu uma segunda opção, ter a criança fora do país para que ninguém soubesse sobre a gravidez. No começo fiquei relutante, cheguei a procurar pelo Tato com mais motivação. Acabei o encontrando através de um anúncio de campeonato o qual fui assistir.

- Gi? – Ele ficou surpreso ao me encontrar ali.

- Até que enfim te encontrei. – Meu coração se encheu de esperança, iria contar para ele que estava esperando um filho nosso.

- Não era pra isso acontecer. – Ele respondeu fechando a cara. – Você precisa ir antes que minha mãe te veja aqui.

- Tato, o que aconteceu com os nossos pais não tem nada a ver com a gente. – Tentei argumentar.

- Eu queria que fosse fácil assim, só que não é. Porque não é a hora certa. O momento é o pior possível... é melhor você ir embora antes que minha mãe chegue.

- Sinceramente, é impressionante, você sempre faz o que sua mãe quer. – Disse, sentindo a minha garganta começar a queimar. – A tua mãe, a vida inteira, sempre abusou de você, da Rafa, a vida inteira foi assim. Eu estou aqui porque preciso te contar algo, preciso da sua ajuda.

- Minha ajuda? Você deve ter perdido a noção das coisas. Não é justo você falar da minha mãe, não acredito que você tem coragem de vim fazer essas acusações considerando o comportamento vergonhoso do seu pai. Ainda dizer que precisa da minha ajuda. Ajuda para quer? Para terminar de humilhar a minha mãe. Por favor, vá embora.

Aquilo me atingiu profundamente, instalando uma mágoa tão grande dentro do meu coração, que ao voltar para casa aceitei a proposta do meu pai de embarcar para a Argentina. E assim esperei que os meses se passassem até o momento do nascimento do bebê, o plano era entrega-lo a adoção. Meu pai e minha madrasta ficaram responsáveis por encontrar um casal, e assim fizeram. Mas quando a vi, não consegui entregá-la, o que causou a revolta do meu pai. Graças a Deus consegui o convencer de ficar com ela, mas ele me fez prometer que não contaria que ela era a minha filha, mas sim dele e de sua, então agora, nova esposa.

A pediatra do hospital recomendou que só voltassem depois que a Sofia completasse três meses de vida, sim, eu tinha tido uma princesinha chamada chama Sofia. Tirei de um desenho do mesmo nome que eu amava assistir quando criança. Tão pequena e de bochechas enormes. Ao contrario de mim, ela tinha cabelos claros. O que me fez lembrar deles, mas logo fiz questão de varrer essa lembrança. Ela é minha, somente minha, mesmo que nunca venha a saber.

Agora ela tem sete meses, e está muito esperta. Eu adoro cada minuto que passo ao lado dela, se tornou a minha razão de viver. Por ela sou capaz de tudo, até de mentir e abdicar de ser chamada de mamãe. Eu queria garantir que pelo menos ela fosse feliz nessa história.

O dia estava lindo, então decidir levá-la para um passeio no parque depois que o meu pai saísse para o trabalho. Ele estava pegando ainda mais no meu pé, controlando os passos que eu dava. Tinha me afastado de tudo e de todos, eu pedir o contato com todas as minhas amigas. Minha antiga vida tinha ficado para trás. Eu só suportava tudo isso pela Soso.

Queria me distancia um pouco das pessoas daquela casa, meu pai tinha mandado os antigos funcionários embora, exceto a Thais, pois foi a única que conseguir convence-lo que deixa-se. Estava de saco cheio das pessoas falarem o quanto eu estava sendo incrível por cuidar com tanto carinho da minha irmãzinha, eu queria gritar para todo mundo que ela era minha, mas não podia fazer isso.

Não sabia que minha vida mudaria mais uma vez naquela manhã. Enquanto passeava com a Soso pelo parque acabei encontrando eles, Tato e Rafa. Tentei fingir que não os tinha visto, mas ela veio até mim.

- Nossa! Nossa! Não acredito que é você. – Disse ela me puxando em um abraço.

Ela estava mais alta do que me lembrava, e bem mais linda. Meu coração se encheu de alegria, não tinha noção do quanto sentir sua falta. Do quanto a queria ao meu lado todo esse tempo, até vê-la.

- Oi pra você também. – Disse meio sem jeito.

Ele se aproximou no mesmo instante que a Rafa me soltava do seu abraço.

- Sentir tanto a sua falta. – Os olhos dela brilhavam por consequência das lagrimas, isso me fez sentir ainda mais a sua falta. – Quando eu conseguir me livrar da minha mãe, você já tinha ido embora. Nossa, um ano e seis meses sem saber notícias de você, além de que tinha ido morar em outro país. Quando você voltou para o Brasil? Por que não me procurou? Você trocou de número, eu mandei mensagens para você. Mas isso não importa mais, estou tão feliz de te ver.

- Eu também estou feliz, eu tentei entrar em contato. Mas enfim, fico feliz em ter te encontrado.

Da mesma forma que ele ignorava a minha presença ali, eu fiz questão de fazer o mesmo. Além do simples aceno de cabeça ao se cumprimentar, não trocamos uma palavra. Mas quando eu percebi que ele encarava o carrinho da Soso, sentir a necessidade de protege-la. Tentei vira-la para mim, mas a Rafa foi mais rápida.

- E essa princesinha? – Rafa também notou sua presença.

- Minha maninha. Não é a coisa mais linda desse mundo? – Disse de forma babona que não conseguia controlar quando se tratava da minha princesinha.

- Seu pai não perdeu tempo. – Disse ele pela primeira vez, de forma acida. Eu apenas ignorei.

- Realmente, ela é muito linda. – Rafa ficou a encarando de um modo que deixou meu coração disparado. - Posso pegar um pouco?

Ela não esperou pela minha resposta e pegou a Soso do carrinho. A safada da minha filha nem se deu o trabalho de estranha-la, sorriu feito boba para a tia. Aquilo fez meu coração doer. Não conseguir deixar de imaginar como seria se o Tato tivesse agido de forma diferente, de como seria se não tivesse que abrir mão da minha própria filha para continuar tendo ela em minha vida.

Agora que as duas estavam assim, tão perto. Eu notei que os cabelos não era a única coisa que ela tinha herdado deles. Sofia tinha traços parecidos com a Rafa, isso fez com que eu quisesse tirá-la o quanto antes do seu colo, de perto deles. Eles não poderiam saber da verdade, não agora.

- Precisamos ir. Minha madrasta irá me matar se eu demorar de devolver sua querida preciosidade. – Peguei a Soso do colo dela e coloquei novamente no carrinho. – Foi bom te ver.

Assim que me certifiquei que a tinha prendido corretamente o cinto de segurança do carrinho, sair sem olhar para trás. Sentir como se meu coração estivesse prestes a sair pela boca. Eles não poderiam descobrir a verdade sobre ela, não poderiam saber que ela era a minha filha. 

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E a nossa queria preciosidade entrou em cena, mamaram? 😍😋

Até breve😘


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