Obrigada por ela.

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· Perspectiva de Gizelly

Meu coração começa a bater de uma maneira descompassada. Assim que passo porta, o vejo deitado de olhos fechados como tantas outras vezes o vi quando o visitei. Mas desta vez sei que ele estar apenas dormindo, e que a qualquer momento abrira os olhos e me encara-la.

Tento sentar com todo o cuidado na cama onde ele dormir para não o machucar ao fazer isto. Ao segurar sua mão posso sentir a quentura vindo dela, assim como posso sentir que não é como antes, agora ele estar de volta.

- Renato. – Chamo de forma suave, não querendo o assustar. - Tato, sou eu, a Gi.

Chamo mais uma vez.

Ele lentamente abre os olhos, e posso encarar depois de tantos anos aquele olhar de garoto doce que um dia pensei não conseguir viver sem.

Ele pisca algumas vezes, penso que esteja querendo acostumar-se com a caridade.

Meu coração começa a bater de forma descompassada. Por mais que eu acreditasse que estava pronta para aquele encontro, vê-lo me encarando me mostrou o quão eu estava enganada.

Um filme de tudo o que passamos começou a me encher de imagens do passado, começando pelo dia em que meu pai os trouxe para a minha casa, depois nossa infância até chegar a adolescente. E finalmente o ponto ao qual eu me entreguei a ele, e quando eu descobrir sobre a existência de Sofia.

Um grande nó se formou em minha garganta.

Ele aperta a minha mão em sinal de reconhecimento. Com esse simples gesto todos os esforços que eu estava tendo em me manter firme na decisão de não chorar em sua presença foram para o chão. As lagrimas rolam em meu rosto de forma desenfreada, e eu apenas me rendo a elas.

- Me desculpa. – Peço com a voz embargada. – Eu não queria estar chorando, mas é que... Olha... – Tento continuar. Levo minha mão livre ao meu rosto tentando seca de forma falha as minhas lagrimas. – Eu não quero que você se canse, então deixa que eu falo, ta bem?

Ele faz um breve movimento com a cabeça em sinal positivo, enquanto sua mão aperta a minha com um pouco mais de força.

Vê-lo reagindo dessa maneira me torna de tanta felicidade.

Renato foi o responsável por me presentar com a coisa mais importante de toda a minha vida, minha filha. É graças a ele que tenho a Sofia. E todo a raiva que eu sentir um dia por ele ter me rejeitado sem ter me dado a chance de contar que estrava gravida, que esperava um filho seu. Neste momento não consigo sentir. Sinto apenas felicidade por ele estar ali, por ele ter acordado e finalmente voltado para nós.

Minha única vontade neste momento é lhe contar sobre a filha maravilhosa que temos.

- Eu quero muito te falar da Sofia. – Ao tocar no nome da Soso é impossível não nascer um largo sorriso em meus lábios. – Eu queria te contar a um tempo atras sobre ela, mas isso não importa agora. Agora eu só quero te agradecer por ela, agradecer por ter me dado a menina mais linda e mais doce desse mundo. Obrigada por ela. Ela é a coisa mais doce, mais doce que existe, e assim eu puder, eu vou trazer ela aqui para você vê também.

Minha mão parece tão pequena comparado a sua, a levo até meus lábios depositando um beijo enquanto com a mão livre acaricio o seu rosto, sua barba por fazer cobre grande parte do seu rosto.

O tempo só fez com que suas feições aprimorassem e sua beleza ficasse ainda mais evidente.

- Ela é a coisa mais importante da minha vida, Tato. Ela é a coisa mais querida, você vai amar conhece-la.

Ele também começa a chorar, as lagrimas descem pelo seu rosto em cascatas enquanto seus olhos se mantêm firmes aos meus.

Nunca imaginei que poderia estar encarando aqueles grande solhos novamente, os meus sentimentos estão uma mistura. Me sinto tão feliz por tê-lo de volta a vida, ao mesmo tempo sinto uma tristeza pela rejeição que Sofia nutriu por ele, e pelo medo crescente dentro de Rafaella.

Um dia o amei, ou assim pensei que amava.

Sou incondicionalmente grata a ele por ter me dado o meu maior tesouro, por ter me dado a Sofia.

Ela me trouxe a vida, me mostrou o verdadeiro amor. Me fez sentir parte de uma verdadeira família, ela e a Rafa.

Pensar na Rafa era algo constante, tornou-se algo natural para mim. Assim como tê-la sempre ao meu lado, não importando a situação.

Sentir sua falta ao meu lado neste momento estava me deixando ainda mais sensível, porem precisava entender que ela não estava aqui por motivos maiores. Eu tinha que ser compreensível.

- Gi... – Renato começou a balbuciar, me tirando dos meus devaneios.

- Não. – Digo alisando a lateral do seu rosto. – Não se esforce. Não gaste força com isso. Eu estou aqui, está tudo bem.

Dou um fraco sorriso para ele, tentando passar segurança nas minhas palavras.

- Sofia se parece com vocês. – Digo, desta vez com mais firmeza em minhas palavras, pois era verdade.

Esta manhã, observando-a andar ao lado de Rafaella pude notar o quanto minha filha se parecia com ela, com eles, mas ainda mais com a Rafa.

- Na verdade ela é a copia fiel da Rafa, apesar da Rafa se parecer bastante com você. – Ele sorrir. E eu continuo – Mas a Sofia é muito ela, sabe? Apesar de ter o temperamento parecido com o meu, o jeito doce é da Rafa, assim como sua fisionomia.

Me atenho de não deixar claro quanto se passou, pois a Dr. Dani me deixou bastante claro que não deveria o fazer. Então a conversa gira em torno de Sofia, da sua aparência e de como ela é a melhor coisa que me aconteceu.

Tento não focar em assuntos ou pontos da minha narrativa que possam deixar claro a quantidade de tempo que se passou até aqui.

Quando me dou por mim, sou interrompida por batidas na porta, seguida da entrada da Dr. Dani ao quarto. Meu tempo de visita chegou ao fim.

Após dizer mais algumas palavras para o Renato, e trocar algumas palavras com ela do lado de fora sobre a situação dele me despeço e sigo em direção a saída do hospital.

Vê o Renato bem e acordado me deixou muito feliz. Meu coração está em festa com sua recuperação, e tudo de ruim o que aconteceu entre nós dois antes da grande tragedia é varrida para longe de mim. Eu só consigo sentir uma enorme felicidade por sua recuperação e um sentimento tão bom aquecendo o meu coração.

Ele estava de volta e eu estava feliz por isso. 

A vida da gente Where stories live. Discover now