#1. Sobre Badlands, primeiros amores e pessoas que nos marcam.

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Por Sofia Belle

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Por Sofia Belle.

Há alguns anos, um leitor me perguntou no falecido Curious Cat da Vestígios de Saturno, se Badlands havia sido inspirada no meu primeiro amor ou em alguma experiência pessoal que sempre carreguei com muito carinho.

Nunca respondi aquela pergunta, embora soubesse que em algum momento ela surgiria outra vez, sem a proteção do anonimato e eu não teria como me esquivar.

A verdade é que meu primeiro amor foi, de longe, uma das piores experiências da minha vida. E quando digo isso, falo sério. Eu me apaixonei ainda na adolescência, em uma época remota que às vezes parece muito mais um pesadelo, e já nos primeiros meses do que seriam só o início de uma experiência péssima que perdurou por alguns anos ao lado dessa pessoa, passei por uma situação ainda mais dolorosa. Mas isso tudo não vem ao caso porque esse texto não é sobre ele, nem sobre o mal que ele causou, até porque nada disso merece o esforço de um texto escrito a respeito. Todavia, como sempre, acabo desviando muito do assunto quando tenho a oportunidade de escrever livremente, nem sei se você ainda está aí acompanhando esse falatório estúpido. Pode não fazer sentido agora, mas juro que no final tudo vai fazer o maior sentido do mundo (ou não, a partir daqui não vou me responsabilizar kk)

Porém, respondendo a pergunta do anônimo curioso: não, Badlands não foi, necessariamente, inspirada em uma relação amorosa marcante em minha vida, embora algumas situações só possam ser descritas como vindas de experiências muito pessoais, impossíveis de dissociar a esta altura.

Eu poderia dizer que Badlands foi o meu amor não-correspondido. Não na literalidade, (e talvez nela também, vai saber) mas sempre amei essa história ao ponto de nunca conseguir, de fato, abandoná-la. Até mesmo quando eu sentia que o melhor a se fazer era simplesmente nunca mais escrevê-la ou que há muito ela tinha deixado de ser minha, e já não conseguia mais encontrar aquele lugar em mim mesma de onde tudo isto florescia com uma facilidade assustadora.

Não me entenda mal, não quero dizer que tudo isto acabou, mas cada história que escrevo vem de um lugar muito íntimo e sincero, não me encaixo bem no time dos que sentam suas respectivas bundas na(s) cadeira(s) e escrevem porque sabem que precisam escrever, por Deus, daria tudo para ter um pouco disso! Os meus processos me exigem sentir cada palavra, cada parágrafo, preciso sentir verdade naquilo, estar conectada, se não, nada flui. Nada pareceu meu. Nada parece honesto o bastante. E Badlands veio de um lugar muito profundo do meu coração, e também, muito sensível.

E um dias desses enquanto abria as cartas de tarô para esta história (sim, costumo usá-lo como uma ferramenta criativa também, bem dessas!), a primeira carta que tirei foi um Seis de Copas que significa justamente um reencontro com o passado, a sensação de nostalgia, de reencontrar a si mesmo, Juliet voltando para Roseville depois de ter escapado de lá como se sua vida dependesse disso. Tantas ciclos permaneceram abertos quando ela se foi, tantas coisas precisavam ser ressignificadas, dessa vez, pela versão adulta da mesma menina que, ainda na adolescência, tinha medo de experimentar o mundo.

O mundo que, agora, já não parecia tão grande, nem tão assustador, e no fim das contas, seu maior medo ainda era o de enfrentar a si mesma, de encarar tudo o que ela deixou para trás, porque revirar as nossas dores sempre nos faz perceber que algumas feridas não cicatrizaram de verdade, só nos acostumamos com a dor. Me dei conta de que nunca tinha me visto nesta mesma situação, e eu estava.

Talvez a Juliet tenha medo de perceber ou de repetir em voz alta, fora de sua consciência, que o modo como ela amou Jungkook, ela não será capaz de amar mais ninguém.

Não porque Jungkook era o garoto problemático, encantador e apaixonado que parecia ser o desejo secreto de toda e qualquer criatura da cidade, e sim porque ele foi o catalisador de uma reviravolta interna que trouxe a ela a vontade de enxergar o mundo pelas mesmas lentes que ele: existia vida além de Roseville, luzes além daquelas penduradas no carrossel do parque de diversões e estradas muito além daquelas que você nunca cruzou durante a vida inteira.

Jungkook foi essa fonte de doçura, de tudo que sempre pareceu bonito, novo, excitante e perigoso, ao mesmo tempo que jogou a luz gigantesca de um holofote radiante para que a Sofi, finalmente, enxergasse a si mesma. Mas não me entenda mal, ele não é o herói dessa jornada, não.

Essa batalha é somente dela, ele veio como um anjo, para segurar a mão durante o caminho.

Os fantasmas, as dores, os ciclos e as feridas nunca cicatrizadas são parte de quem ela é, de quem ela se tornou e isso, nunca, será mérito de qualquer outra pessoa. Assim como tudo que passei, vivi, senti e escrevi também fazem parte do mesmo mérito.

Então com esse gancho, eu volto ao ponto do primeiro amor e como, de certa forma, existiu uma leve inspiração pessoal na história.

Nem sempre a experiência que feriu precisa ser, eternamente, só a mágoa que nunca foi curada. Meu primeiro amor não foi nem de longe mágico e encantador como a menina romântica que fui um dia havia sonhado, mas ele, sem sombra de dúvidas, jogou um holofote para quem viria ser para sempre o amor da minha vida, e assim como Juliet, em algum momento eu percebi que esse alguém era eu.


Ouvindo: I Melt With You do Modern English.

Lendo: Daisy Jones & The Six


A CRISÁLIDA • JornalWhere stories live. Discover now