#7. Ainda escrevo cada poema em ode sua

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toda revolução começa e termina com os lábios dele

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toda revolução começa e termina com os lábios dele.

Rupi Kaur


Escrevo parágrafos soltos enquanto penso em nós, vou colecionando seus segredos e vencendo o seu charme barato como se pudesse lutar contra um coração perdidamente apaixonado. Alguém me disse uma vez que eu merecia uma vida bonita, eu nunca tive a chance de dizer isso em voz alta, mas você foi o meu primeiro pensamento.

Quando dançamos na sala de casa, rodopiando na cozinha, descalços, depois de lavar a louça do jantar e agir como dois adultos. Nossos pés tropeçam um no outro e você gargalha, você dança bem sozinho, mas quase nunca dançou a dois. Digo que é uma pena, mas secretamente gosto que essa parte tua seja minha. Te faço rir com minhas reverências falsas, puxando a barra da sua camiseta, — que uso como propriedade —, como uma dama em uma baile de máscaras, sua Julieta para um Romeu secreto.

Eu te confesso um segredo estúpido enquanto você me gira ao redor de mim mesma: "sempre sonhei em dançar essa música com alguém", você me estica e puxa de volta. O meu sonho tem rosto, nome, endereço e um sorriso lindo. Não ri de mim. Não me deixa tímida. Talvez as vezes, quando me olha assim, como se pudesse ler minha mente. Sou um livro aberto, você sempre diz, mas o texto nas páginas parecem decodificados, transcritos em língua morta.

Eu deveria ter odiado tudo, desde o começo; sua aproximação caótica, sua conversa sem jeito, esse outro espectro da sua dualidade que me deixou um pouco intimidada. Caras bonitos me deixam nervosa. Eu nunca fiz o tipo desinibida. Eu não parava de olhar o seu piercing charmoso no lábio e você deve ter notado isso. "Se quer saber, não doeu. As pessoas perguntam se dói, mas não dói nada."

Eu pensei em dizer qualquer coisa só para que fosse embora, mas algo em você era magnético. Um campo de força me empurrando em direção a um abismo ilusório, porque quando você repetiu meu nome, assim, como se fosse tão seu, que eu sabia que não teria para onde correr.

Parece que eu senti você, lentamente, se enroscando em meu coração.

Você me pergunta se está fazendo aquele passo certo, uma valsa como Troy e Gabriella, e sempre acerta, óbvio, enquanto eu me enrolo toda nos seus braços e me desconcerto a cada passo, sou trazida de volta dessa memória antiga. Você me deixa inundar suas playlists com minhas músicas, cantarola Taylor Swift no banho e me faz gargalhar com o ouvido contra a porta. Você disse que ouviu no caminho para o trabalho, gosta das canções que imaginei que adoraria, então admite que está começando a gostar e silenciosamente fico feliz que o meu mundo tenha colidido com o seu, que as estrelas daquela constelação bonita fazem parte do meu território celestial, um grupo de estrelas fixas que, ligadas por linhas imaginárias, formam também uma figura pertencente ao campo da imaginação, a que corresponde um nome especial: o teu.

Contorno suas tatuagens com minhas canetas quando me distraio na cama, eu deveria fazer anotações no diário, organizar a manhã seguinte, anotar aquele parágrafo que me assombrou a tarde inteira, avançar no ritmo do meu romance mas estou perdida me escrevendo inteira na sua pele. Você observa, sussurra, com sua pronúncia doce, as palavras cheias de letras adicionais: "me saí bem?", pergunta, "lógico!", eu digo, e então, você me olha nos olhos e estremeço inteira, eu ainda me arrepio e penso que sou tola o suficiente para me apaixonar toda vez que seus olhos escuros, como dois oceanos negros, me olham assim.

Você pede que eu traduza o que escrevi enquanto penteia os cabelos ainda úmidos, não quero parecer ridícula, mas aqui vai outro sobre você.

Traduzo as palavras e você escuta tudo de olhos fechados, "é sobre mim?", eu não respondo, mas você deduz "gosto do modo como você me vê", suas palavras me atravessam, me pergunto se ninguém nunca aprendeu a te olhar do jeito certo ou não teve a chance de te dizer o que deveria, mas guardo esse pensamento no fundo da mente porque você me beija e as ideias se tornam nebulosas demais, elas vão se enroscando nesse fio que dança ao redor das suas costelas, puxa-puxa-puxa e lá estou eu de novo enlaçada pela corda que nos ata um ao outro.

"Sabia que nossas pintinhas são os lugares onde nossas almas gêmeas costumavam nos beijar em vidas passadas?", digo e você raspa o dedo contra o seu próprio lábio "Você ainda gosta de me beijar aqui..."

Algo dentro de mim se desmancha.

Seus dedos se perdem entre a camada de cabelo que despenca em minhas costas, você sempre diz adorá-los. Assim como a tatuagem de fadinhas em meu braço, vítimas da sua adoração silenciosa, a borboleta contornada pela sua mão macia como uma maneira de me descobrir no tato.

A voz de Etta James corre o quarto, I waaaaant a sunday kind of love, e eu sinto a canção atravessar a ponta dos meus dedos, perfurando a pele, sobe pelo meu sangue, vira calor no centro do corpo. Amor.

Então você tira a sua camiseta, que estou vestindo como se seu armário fosse minha posse, é um suspiro de alívio que sinto quando minha pele toca a sua sem medo. "Vem cá...", você diz, mesmo que eu esteja a um centímetro da sua boca, a música se funde com nossos movimentos, meu coração afunda em tanto amor que me seguro em seus ombros com medo de naufragar para sempre na profundidade que você habita, e nunca mais retornar.

Sua voz sussurra e canta. Nunca foi assim com mais ninguém. Eu nunca entreguei meu coração dessa forma. Eu me pergunto se com você é o mesmo, se já se sentiu assim. E prefiro que você não responda. Não me importo de não ser a primeira, contanto que eu seja aquela que você não esqueça nunca mais.

Porque gosto da suas mãos, da sua boca, dos seus olhos, de como as estrelas derretem no céu do quarto, os pontos verdes imaginários mergulham no nosso universo, que afundam na sua pele, na ponta de minha língua que te procura, nas palavras perdidas que digo só para que você sinta. Finjo que você pode me ouvir e pela primeira vez, as palavras não se perdem na tradução, eu te deixo sentir tudo até que faça sentido.

Você pergunta se eu gosto quando você me toca assim, e não sou capaz de responder apropriadamente, as palavras fogem da boca, se perdem no labirinto da minha mente; cada vez que seus lábios se desprendem de mim, é um pedaço meu que você leva, uma necessidade absurda de volta, preciso que me entregue o que roubou de mim. Eu te quero e às vezes te preciso com essa urgência. 

Minhas mãos dançam pelas suas costas, você parece tão entregue quando está aqui e me diz palavras que sou incapaz de transcrevê-las, vou deixá-las aqui, são minhas profecias, minha fé. Me conta o que quer fazer comigo e como quer me faz sentir, eu aceito sua proposta como o plano secreto, te ofereço tudo em troca também e gosto quando você me chama de sua.

나의

Minha.

Eu me pertenço e aceito me dividir com você.

Então é assim que é o amor? Eu me pergunto. Você já amou assim também?

E te escrevo algumas palavras cegas de sentido em uma folha de papel em branco, vou digitando até que elas preencham os espaços vazios, e vou deixando que você entre no meu mundo intacto, poesia arranhando a carne, pela linha tênue que o meu coração traçou no formato das suas pegadas, a porta desenhada pela ponta de seus dedos dançantes ao redor das treliças mágicas, o encaixe sua mão em uma maçaneta invisível.

Basta abri-la e verá, esse lugar inteiro esperou só por você. 


🦋

N/A: Coloquei o Jun como personagem central da crônica só para vocês imaginarem um rostinho para o moço! Hahaha. 

É isto, obrigada por lerem!

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⏰ Last updated: Mar 27 ⏰

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A CRISÁLIDA • JornalWhere stories live. Discover now