Azul Cobalto

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Fechei os olhos, a sensação de ter o corpo içado, o perfume amadeirado e quente, trouxe conforto. Cedro. Era cedro que me rodeava, era segurança, veludo e seda azul que me faziam flutuar. Quando acordei me sentia morta, completamente exaurida, sombras brincavam sobre minha cabeça, levantei um dedo para tocá-las, uma gavinha separou-se e enroscou-se em minha pele, quente e acolhedora.
– Soube o que fez pela sentinela.
A sombra recuou, um gesto de mãos e ela parecia relutante, mas voltou ao mestre. Toquei a coxa e havia tecido nela, puxei o lençol e descobri uma atadura.
– Nenhum curandeiro a tocou, mas porque não está se curando tão rápido quanto antes?
Fiz força para me sentar, longe de Hybern finalmente havia descoberto o custo da magia de vida e morte.
– O que soube sobre as sentinelas? Eram duas.
Forcei a cura e luz fraca brilhou da minha palma, apenas o suficiente para me livrar da dor constante.
– Tive que salvar um deles, isso exigiu um preço. Pedi que Cassian me deixasse lá, ele me viu fazer e não pode me encarar, mas aparentemente quando estava inconsciente ele me trouxe, mesmo quando julgou que não merecia.
– Cassian não tocou em você, quando voltei com Rhys eu a trouxe e tratei do ferimento.
– Então não cobrará o acordo?
Reuni coragem o bastante para olhar nos olhos avelãs, uma das sombras a suas costas lhe entregou uma flor, meu coração errou as batidas.
– Helion me deu isso, estava protegido em meio ao livro, sabe o que é?
– Minha flor, a única coisa boa que fui capaz de criar e proteger em Hyberian.

 – Helion me deu isso, estava protegido em meio ao livro, sabe o que é?– Minha flor, a única coisa boa que fui capaz de criar e proteger em Hyberian

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– Azul?
– Sim, eu a criei, foram anos até que conseguisse essa cor. Por favor.
Ficaria de joelhos apenas para tê-la em minhas mãos.
– Como conseguiu os olhos?
Um interrogatório, então.
– Não nasci com eles, mas rezei a Mãe que me permitisse uma mudança e ela me concedeu.
– Por que os olhos?
Os olhos pelos quais ele estava demonstrando tanto interesse não saiam da flor em suas mãos, os azuis se contrastando, a pedra e a flor.                  
– Acha que outra coisa faria diferença? Lábios, seios, pernas ou meu cabelo? Só não queria parecer a morte, não queria ver o sorriso de satisfação toda vez que Hybern me olhava. Azul porque me traz esperança e foi a única coisa que Hybern não arrancou de mim, meus olhos e minha flor.
Avancei contra ele e a flor foi tirada do meu alcance por suas sombras, ele me segurou pelos ombros enquanto lutava inutilmente para alcançá-la, as sombras pareciam se divertir com meu sofrimento. Uma delas a que havia permitido o toque, tomou a flor das outras e gentilmente a pôs em minha mão, olhei para sombra agradecida e vi ela retornar para costas dele, afastei as mãos dele dos meus ombros.
– Agora sim mestre espião, encantador de sombras, tem alguma pergunta realmente importante, ou meu interesse em jardinagem e meus olhos soam como ameaça?
– O general de Hybern disse algumas coisas.
– E?
– Hybern ordenou sua caçada.
Me fortifiquei como fiz ao longo dos anos, mesmo quando Azriel disse com ódio tangível, encontrei em seus olhos honradez e fosse qualquer o destino que me aguardava ele não o aceitaria para ninguém.
– É o que chamamos de impasse, certo?
A claridade invadiu a tenda, e por ela passou os membros do círculo íntimo.
– Sou um risco para todos aqui.
– A guerra já estava deflagrada antes da sua fuga criança.
Amren falou, ela era mais difícil de se ler, não entendia suas emoções e isso me frustrava.
– A Corte Noturna pode estar de acordo com minha presença, mas e as outras cortes? Eles poderiam facilmente me entregar, na verdade não seria tão fácil. Só me livrem do acordo que irei o mais longe possível, para terras ainda nem nomeadas. Juro! Antes de qualquer Hyberiano pôr as mãos em mim já terei morrido e o Rei não me usará mais.
Cassian bateu palmas e todos o olharam.
– Pela Mãe! Não tem como isso ser mais obvio!
– O que?
Indaguei olhando os rostos incrédulos.
– Toda essa disposição em se sacrificar, de se colocar na frente do ataque iminente. É exatamente o que essa corte faz, não é acordo que faz da Noturna reconhecida, é sacrifício! Luz, você é mais parte dessa corte do que muitos que nasceram sobre ela.
Claramente Cassian havia bebido vinho demais, mas ainda era de manhã, observei o gigante se jogar na poltrona ao lado de Amren.
– O que ele quis dizer é que não precisa fugir, iremos contra Hybern juntos.
Feyre falou entrelaçando os dedos aos de Rhys que assentiu.
– Ainda preciso me livrar disso.
Puxei a coleira invisível e quase podia sentir o puxão do outro lado. A corda esticada ao máximo, e eu rezando a Mãe que ela pudesse ser cortada. Mor sorriu.
– Helion virá mais tarde, para tirar isso de você.
– E quando o maldito morrer, dessa vez ficará morto.
Foi o desejo de todos ali. Uma mesa repleta de caldos, sopas e pães se fez aparecer no meio da tenda. Feyre veio até mim.
– Já é almoço.
A quantidade de comida me fez acreditar que teríamos visitas, mas ao olhar os pratos dos três Illyrianos percebi que se tratava de uma refeição comum, então meu prato passou despercebido quando caminhei para cama. Feyre olhava com curiosidade para a flor sob meu travesseiro.
– Minha irmã Elain ama flores, acho que nunca vi uma tão bonita.
Alcancei a rosa e a entreguei.
– Ela está comigo a 50 anos, dê a ela e se eu sobreviver ensinarei como recriá-la.
Os olhos de Azriel estavam sobre mim, deixei que meus cabelos caíssem em cascata para esconder meu rosto.
– Elain ficará encantada, que cores lindas. Ah, não tive tempo de perguntar, mas imagino que sejam suas cores.
Feyre falou ao puxar uma mala debaixo da cama, abriu o zíper e roupas de todos os nuances de azuis apareceram.
– Tem vestidos, calças e camisas. Chame se precisar de algo.
– Obrigada.
Após o almoço todos começavam a partir, Mor veio até mim.
– Quando Helion estiver pronto virei com ele, descanse.
Demorei um tempo considerável antes de conseguir concluir a cicatrização na perna tinha água nos baldes, tomei banho e peguei um dos conjuntos que Feyre havia me dado, fiz uma nota mental de pagar as dívidas contraídas com a Corte Noturna. Com sorte não cobrariam mais do que o justo, trabalharia pela eternidade se fosse preciso para saldar. O conjunto era um tom mais escuro do que o céu ao amanhecer, a camisa quase transparente, deixava bem a mostra a tatuagem do acordo de vida que fiz com Azriel, o acordo em que ele e somente ele poderia empunhar a arma que me mataria. A calça ajustada na cintura se agarrou a meu corpo como uma segunda pele, precisei esfregar o tecido para garantir que não estava nua da cintura para baixo.
Pela primeira vez em muito tempo encarei meu reflexo e o espelho ressaltou meus olhos anormalmente azuis a pele pálida, os fios rebeldes que pendiam da trança emolduravam meu rosto abatido. Se não houvesse mudado os olhos, seria a própria morte a me olhar de volta, tudo branco e cinza.
Tinha os olhos de quem buscava esperança de quem lutaria desesperadamente por qualquer oportunidade de estar livre. Conforme as horas iam passando e minha apreensão aumentando, só conseguia sentir o puxão na coleira, precisava estar livre dela para ir à guerra em dias ou horas. Meu coração saltou no peito ao sentir o cheiro de Mor.
– Luz?
– Entra!
Mor entrou e atrás dela o grão-senhor da Corte Diurna Helion, que já me lançava um olhar provocativo.                                                 

A Corte de Sombra e Luzحيث تعيش القصص. اكتشف الآن