Rompimento

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 – Um modelo ousado, azul lhe cai bem. Não é mesmo uma gracinha que tanto poder esteja preso embaixo de doçura e inocência?
Minhas bochechas ardiam, Mor revirou os olhos. Alcancei o copo d'água e virei com urgência, Helion emanava calor e poderia ter arrancado minhas roupas ali mesmo se não fosse o olhar que vazou minha alma quando o encarei de volta, Azriel estava ali, atrás do grão-senhor.
– Não tem nenhum dragão acorrentado embaixo dessa pele, encantador de sombras.
– Pode doer, pode ficar marcas, você pode morrer e isso seria um total desperdício.
Helion falou olhando para Azriel como se justificasse, não à mim que estava prestes a ser submetida a reversão do encanto.
– Não importa, faça! Se eu morrer que ao menos o desgraçado saiba que foi sua última guerra, façam o saber, matem-no!
Foi um bom último discurso. Azriel agitou as asas o cheiro amadeirado invadiu a tenda, Helion envolveu meu pescoço, senti o aperto do outro lado. Segurei os pulsos de Helion em desespero.
– Ele sabe o que estamos fazendo, acabe com isso!
Uma onda de energia branca escaldante invadiu o laço, Helion puxando de um lado e Hybern apertando do outro, forcei os pulsos de Helion para ajudá-lo a puxar.                   
– Posso ver a brecha!
Helion puxou com mais força suas mãos incendiaram o laço, mordi o lábio contendo o grito de dor, uma lágrima escapou, então eu escapei.
Caindo, caindo... Era essa a liberdade que tanto busquei? A liberdade devia parecer tão vazia? Um caminho de pedras formou-se na escuridão, lindas pedras lápis-lazúlis, opacas, cintilantes, de todos os tamanhos e formas, guiando um caminho para uma luz fraca.
– Não te livrei do maldito acordo, não tem o direito de morrer. 
Eram palavras sussurradas e doloridas, minha mente foi tomada por névoa e não pude mais enxergar o caminho.
– Luz, volte!
Ele exigiu, procurei através da névoa.
– Volte!
Um puxão em meu ombro esquerdo e fui tirada da escuridão. Olhos avelã me encaravam, sombras a nosso redor reconheci imediatamente a que era amiga.
– Estava fazendo a travessia, então você me trouxe de volta.
Minha voz não passou de sussurro, seus dedos tocaram meu pescoço dolorido, não recuei.
– Você exigiu o acordo?
Mor quase gritou. Azriel me ajudou a sentar no chão, eu estava em seu colo ele continuou apoiando minhas costas, sem se afastar.
– Costumo perder coisas demais, então sim. Exigi!
– Helion rompeu o laço.
– Era uma coleira e Hybern a acochava sempre que queria.
– Agora não mais, está livre.
Testei novamente, e a liberdade tinha gosto salgado, o gosto das minhas lágrimas e cheiro de cedro.
– A marca receio ser permanente, mas não estraga em nada sua agradável aparência.
– Obrigada, Helion. Vamos até Rhysand, você também Mor.
Balancei a cabeça. Livre!
Azriel me ajudou a ficar em pé. Toquei meu pescoço e ardia, não estava sonhando e acolhi a dor com toda alma.
– Quando forem enfrentá-lo, me leve. Me deixe fazê-lo saber que ele não me controla mais.
Mor assentiu, então eles se foram.
Precisava de ar fresco, de sentir o vento na pele sai da tenda e encontrei Feyre que já vinha ao meu encontro. Sorri e ela acenou que entrássemos, nos sentamos nas poltronas uma de frente para outra, em seus olhos pude notar algo como empatia e eu desconhecia o sentimento estava sendo minhas primeiras vezes em tantas coisas.   
– Pergunte!
Encorajei-a e ela sorriu desconfortável.
– Já esteve morta, antes de hoje?
– A morte e eu somos próximas só que nunca havia chegado tão perto, ela me acolheria, tinha um caminho de pedras lápis-lazúlis que comecei a percorrer, então houve esse puxão. Azriel exigiu que eu voltasse, então tinha névoa e só conseguia achar sua voz em meio a escuridão.
Apertei o braço com a tatuagem as linhas visíveis sob a transparência.
– Luz? Você é a parceira dele!
Precisei de um tempo para entender se era uma pergunta ou afirmação, sua mão pegou a minha solta sobre os joelhos.
– Sou o que?
– Também fiquei confusa, vocês se completam são metades de um inteiro. Você é a parceira de Az!
– Pela Mãe!
Quase gritei, me livrei do seu toque e joguei as costas contra a poltrona.       
– Ele é sombra e eu sou luz, meu nome é Luz! Não teria como ser mais oposto que isso. Não faz o menor sentido.         
– Você mudou a cor dos olhos para azul, um tipo bem específico; cobalto os quais ele tem sete.

– Coincidência! – Sua flor é azul! – Coincidência! Preto é mais a dele não acha? – O mais importante você ofereceu um acordo desfavorável a você, ao guerreiro mais temido de toda Prythian

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– Coincidência!
– Sua flor é azul!
– Coincidência! Preto é mais a dele não acha?
– O mais importante você ofereceu um acordo desfavorável a você, ao guerreiro mais temido de toda Prythian. Então, Luz todo seu caminho a trouxe até ele. O que os ventos do norte sussurravam a você?
Ela havia visto minhas lembranças, uniu cada peça, estava diante de uma mulher muito esperta e atenta. Balancei a cabeça em negativa, não conseguia acreditar no que ela me dizia, mesmo assim tomei fôlego e a olhei.
– Meu coração quebrado começou a se consertar quando o vi pela primeira vez, ofereci o acordo a ele porque precisava ganhar tempo para me livrar de Hybern e com isso você me diz que lacei meu destino com alguém que sequer fica no mesmo lugar que eu, exceto é claro por quando estou dormindo.
– Parceria não é algo facilmente explicável, levei um tempo para aceitar a minha.
– Você e ele, você é grã-senhora é parte dele e está explicito, não é meu caso.
– Luz, não sei como fará a seguir, mas achei que precisava conversar com você.
– Ele sabe? Azriel?
Ela encolheu os ombros, mordi o lábio entendendo a resposta, agora eu quem busquei sua mão.
– Se ele não sabe, quero que continue assim. Não sei o suficiente sobre parcerias, mas já li sobre a total destruição quando o outro não aceita. Não banque a casamenteira, prefiro toda a eternidade sozinha a viver com a recusa do que deveria ser meu par. Prometa.
Ela assentiu diante minha insistência, levantou-se e saiu para cumprir algum dever de grã-senhora.

A Corte de Sombra e LuzWhere stories live. Discover now