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Ele resmungava enquanto dormia. Agora são duas da manhã; não consigo pregar o olho devido aos resmungos dele e, principalmente, com medo de que meus pais batessem na porta de repente. Sei que eles não vão fazer isso, já foram dormir. Vi as horas quando liguei a televisão e mudei de canal, as horas aparecem por poucos segundos. Duas da manhã e Saulo continua dormindo, ronronando e resmungando. Uma das palavras que ouvi foi "mãe". Não sei quem são os pais de Saulo, nunca os vi, mas agora estou curioso para saber.

Às cinco eu tirei um cochilo. Minha boca estava seca, bebi água na cozinha com o maior cuidado possível então achei melhor levar uma garrafa d'água para dentro do quarto caso Saulo queira. Imagino que as pessoas ficam com sede depois que fumam. Não tenho certeza se passam das cinco — a luz prata foi substituída por luz dourada — , mas o casal Palerma bateu à porta.

— Samuel? — Roberta chamou.

— Oi?

— Estamos saindo... vamos passar no mercado quer alguma coisa?

— Não! Obrigado!

— Mais uma coisa, pode varrer a sala para mim?

— Claro! Tchau!

Os sons dos saltos dela faziam barulho no piso. Quando não ouvi mais nenhum fiquei satisfeito, fiquei animado e ao mesmo tempo assustado. Animado porque tem alguém na minha cama. Assustado porque tem mesmo alguém na minha cama.

Os minutos foram se arrastando, eu não queria sair do quarto nem por um segundo. Saulo está perdendo aula. Ele disse que iríamos sair. Estou com vontade de fazer xixi. Escuto mais murmúrios mas sem envolver "mãe". Então Saulo desperta. Seus olhos me encaram, foi quando prendi a respiração com força; os olhos dele estão amarelos. Como os olhos dele podem estar amarelos? Não importa, eu continuo achando MARAVILHOSO ver isso.

— Eu dormi muito?

— A noite toda. — Murmuro, logo depois, respiro.

Faço uma lista na minha cabeça sobre as coisas que mais gosto nele.

Um: os olhos;

Dois: o corpo bronzeado, forte, grande.

Três: os sinais que são a constelação. Queria tocá-lo e apontar para cada uma dessas coisas para depois dizer: consegue perceber que isso é só o começo? Não quero apressar nada, mas a lista sobre gostar de você pode se tornar infinita.

Existe algo pior do que não saber o que falar na frente da pessoa que causa o frio na barriga se tornar chato (mesmo que você esteja gostando)?

— Água?

— Ah. Pega. — Lhe estendi a garrafa de água que antes era uma garrafa de refrigerante. Saulo bebeu quatro grandes goles. Ver seu pomo de Adão destacado subindo e descendo valeu a pena não ter saído do quarto. Mas não sei se ter mentido conta, porque não gosto de mentir.

Antes que eu pudesse entrar em conflito Saulo chama minha atenção.

—Aonde você dormiu? —Ele parece perceber que está sem camisa, pois a procura pelo chão. Não queria que ele tivesse posto-a.

—Não dormi, na verdade. Acho que não consigo dormir com pessoas junto a mim. —O que é uma mentira tão deslavada que fico impressionado quando consigo falar sem hesitar ou tremer a voz.

—Caramba. Você poderia ter dormido comigo acho que tem espaço suficiente para nós dois aqui. Quer dizer, só se ficássemos meio espremidos.

A ideia de ficar "espremido" com Saulo em uma cama me deixa de pernas bambas. Que idiotice, estou sentado e mesmo assim tenho certeza de que se tentasse levantar, cairia. Cairia feio.

Pontos Prateados em um Céu Azul Escuro (Romance Gay)Where stories live. Discover now