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Não entendi como começou, não entendi nada. Só cheguei e ele estava assim, enfurecido por causa de alguma coisa ou de alguém. Ele gritava um bocado de palavrão e a primeira coisa que pensei foi em cobrir os ouvidos de Vini para que ele não precisasse escutar uma coisa dessas. Mas, quando voltei meu olhar para procurar Vinícius pela sala, o encontrei encolhido no sofá. —Sem chorar, sem tremer, sem expressão. Ele só escutava, era quase como se já fosse acostumado a isso quase todos os dias, como se nada do que está acontecendo fosse uma novidade.

Bom, para mim é e estou morrendo de medo. Estou tão apanhado pelo medo que minha primeira reação foi levantar os braços e cobrir o rosto quando um prato de vidro foi jogado perto de mim e espatifou-se na parede ao meu lado. Alguns cacos machucaram meus pés e o barulho foi com certeza o pior: é muito pior ouvir do que ver, na minha opinião. Então quando o prato quebrou foi como se algo dentro de mim fosse quebrado também, talvez as amarras que me prendiam no chão de casa e minha primeira ação foi totalmente egoísta. Deixei-os para trás sem me importar com meu nome sendo chamado e corri para meu quarto, tranquei a porta e fiz o que nunca pensei que faria na minha vida.

Pulei a janela de uma só vez, sem dar tempo para que o senso me impedisse.

A dor pareceu triplicar quando os cacos de vidros que estavam nos meus pés encontraram o chão com pedrinhas. Não me importei em gritar, acho que meu corpo estava pedindo pelas coisas que normalmente não faço: gritar, correr, pular. Eu tinha que manter meu corpo e minha mente em movimento se não quisesse acabar chorando. A casa à direita foi a minha ideia, quando me vi batendo na porta desesperadamente me perguntei se teria alguém em casa. Me perguntei se Saulo aceitaria que eu...

—Samuel? —Sua surpresa me deixou ainda mais triste. Não queria que ele me visse chorar, não queria que ele visse como sou um desastre.

—P-p-posso entrar?

Sou puxado pelo antebraço para entrar logo; foi como na vez na minha cama. Só que em situações totalmente diferentes. Abracei Saulo com tanta força que tive medo de estar machucando ele, mas acho que não estou. Minhas lágrimas escorrem dos meus olhos direto para a camisa dele e a encharcaram toda, uma segunda coisa que não me importei. Seus braços formaram um escudo ao meu redor e com força, ele me abraçou, e com força, ele me protegeu. E com cansaço eu falei tudo o que tinha acontecido, porque não havia mais forças dentro de mim para continuar por tanto tempo. Aproveitei o que sobrou e lhe dei.

—Você pode dormir aqui, Samuel.

—Não posso.

—Seria melhor. Aliás, você vai. Qualquer coisa eu aviso aos seus pais. Beleza?

Diversas vezes assinto, cansado demais para formar um "sim" ou um "obrigado", ou até o que eu desejava dizer mais: "Sim, obrigado, Saulo, queria dizer outra coisa. Você consegue achar que consegue se apaixonar por alguém como eu? Porque eu já me apaixonei por você".

Consegui dormir a noite inteira e quando acordei ainda eram cinco da manhã. Registrei duas coisas imediatamente assim que abri os olhos, uma coisa boa e outra nem tanto: a) Saulo está dormindo comigo e estamos agarradinhos na cama; b) o celular dele está despertando avisando que está na hora de ele ir para a escola.

Sai do aperto dele mesmo sabendo que é a última coisa que eu queria. Minha boca está ardendo por causa do bafo matinal e minhas costas estão doendo por dividir a cama com ele e dormir em uma posição estranha. Quando penso em procurar um pedaço de papel e uma caneta nas coisas de Saulo —que está extremamente bagunçado —, ele desperta e me trás para perto de si, foi como se fizéssemos isso todos os dias como aqueles casais de comerciais da televisão. Tirando a parte que nunca vi um casal de garotos na televisão.

Pontos Prateados em um Céu Azul Escuro (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora