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—Você dormiu. —Escuto a voz dele vindo de um túnel escuro que logo fica claro quando resolvo abrir os olhos. Eu tinha me inclinado para me escorar no poste e devo ter apagado.

—Foi mal. —Chio.

—Não vou terminar hoje, de qualquer jeito. Observei você dormir... Vamos, vou te levar para casa, Rapunzel.

Nem ligo para como ele me chama agora. Sorrio e digo que podemos ir. Então paro e percebo o que ele fez até agora. Um céu com a mistura do azul, do preto e do prateado mas nada que faça com que eu reconheça a forma do lago ainda. Sinto meu peito inflar com aquela coisa que me deixa aquecido, aquele soco no estômago e quando me viro para encarar Saulo percebo que eu estou sendo encarado.

—Você é lindo. —Ele diz sem o menor problema.

—Você também. Na verdade você é... tão, tão lindo que eu fico surpreso por não está namorando. —As palavras saem da minha boca antes que eu possa pensar duas vezes.

Saulo dá uma risada leve que garante que o quê eu disse foi engraçado. Apenas uma piada, sim. Sorrio para deixar o clima menos tenso entre nós. Então minha risada acaba quando percebo que ele está segurando minha mão direita e levando aos lábios. Um beijo demorado e logo depois sua língua massageia aquela área e um pouco mais além, um pouco mais além quando do punho sua língua sobe para meu pulso e para meu antebraço. Gemo em resposta porque não consigo controlar essa parte que só ele parece ter acesso. Quer me ver implorar e ao mesmo tempo estar feliz da vida? Seja Saulo, me dê o beijo ou a língua dele para que possa me... Arfo de novo, dessa vez mais alto quando sou beijado de um jeito tão profundo que inclino para trás. Minha cabeça gira em um mundo de fantasia e calor.

Quando nos separamos Saulo ainda tem fôlego 'para falar:

—Eu namoro você, Samuel Pereira. Meu Samuel. Minha...

—Se você falar Rapunzel eu vou te dá um soco bem forte.

O modo como falei pareceu infantil. Tanto que Saulo riu, depois segurou minha mão para irmos à moto estacionada. Percebo uma última vez que os materiais de pintura tinham sumido.

Meu namorado. Essa palavra rodava minha mente enquanto o vento batia contra meu corpo na garupa da moto. Namorar é coisa séria, mas acho que conosco não precisa ser tão sério assim... Ou precisa? O que eu tenho que fazer para ser um bom namorado? Não faço a menor ideia e não quero perguntar isso logo a Saulo que já deve ter tido várias namoradas na vida, ele tem vinte anos e eu, dezessete. A diferença faz com que eu me sinta afetado demais para sentir aquele peso nos ombros. E lembrar que menti minha idade para ele quando me perguntou. Saulo não sabe que sou três anos mais novo que ele e deve ser por isso que me pediu em namoro, deve ser por isso que fez tudo o que fez... por minha mentira.

Quando paramos em frente a minha casa de novo eu me sinto tão péssimo que não consigo descer da moto nos primeiros minutos.

Ao lhe entregar o capacete, digo: —Eu menti para você.

Seu rosto enruga-se na testa.

—Sobre o quê, exatamente?

—Eu não tenho dezenove anos. Tenho dezessete. Faço dezoito em janeiro... eu acho. O ponto é que... desculpe. Eu devia ter contado a verdade para que você não me pedisse em namoro para agora terminar comigo.

—Não quero terminar com você.

Suas palavras me fazem congelar. Ele não quer? A pergunta deve estar estampada no meu rosto.

—Não quero terminar com você. —Repete e segura meu rosto com as duas mãos —Quero ficar com você, Samuel, porque estou apaixonado por você. Me apaixonei por você depois que percebi... que você não é... igual a todos dessa cidade. Você é alguém raro. Não me olhou como a maioria me olha.

Pontos Prateados em um Céu Azul Escuro (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora