4º CAPÍTULO

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4º CAPÍTULO

Ainda na porta sem dar um passo sequer, miro para o rosto do meu pai que está em choque, abotoando rapidamente a camisa, enquanto a mulher escondia seu rosto de vergonha, por um impulso fecho a porta de seu escritório e começo a dar passos rápidos pelo longo corredor, daí sinto meu braço sendo agarrado e puxado de forma severa, me viro e vejo meu pai, suando e ainda mal-amanhado com um semblante sério, encarei para meu braço e logo fitei seriamente para seu rosto, como se quisesse dizer por favor solte ele, não sei se foi um acaso mas ele o largou.

— Ângela a gente precisa conversar. Afirmou. — Vem comigo. Ordenou mostrando o caminho.

— Eu não tenho nada para falar com o senhor. Digo tentando manter a calma. — Aqui tem os seus documentos. Entrego e continuo meu caminho, quando sinto ele me puxando novamente mas dessa vez me puxou até sua sala, quando entramos lá a mulher já não estava mais lá.

— Em primeiro lugar eu sou seu pai, e exijo respeito de sua parte, não admito que me faltes com o respeito a me virar a costa enquanto falo consigo. Falou nervoso. — E da próxima vez que vieres aqui, bata a porta, não é por seres minha filha que tens a liberdade de andar por aqui abrindo as portas sem avisar, esse é meu local de trabalho e não o corredor das salas lá da tua universidade.

— Que belo local de trabalho, é fácil tu falares de respeito ao trabalho quando o senhor esquece do que realmente deve ser feito aqui. Digo um pouco alterada. — Não haverá próxima vez, eu não voltarei a entrar na sua sala Senhor.

— Para de ser infantil Ângela. Urrou enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando se acalmar. — Eu sei que não deverias ter visto o que estava acontecendo a pouco, mas você tem que entender que eu sou homem, e faz tempo que sua mãe partiu, eu só estou tentando seguir com a minha vida. Falou num tom triste.

— Não fale da minha mãe, não para justificar as tuas aventuras matinais. Afirmo mirando seu rosto. — Maldita hora que eu aceitei trazer esses documentos aqui. Resmungo.
— Ange… Antes que ele terminasse o interrompi.

— Ângela nada pai! Tal como o senhor disse é sua vida não minha, não precisa justificar nada. Declaro. — Será que eu posso sair? Questiono.

— Vai a gente, conversa em casa. Retorquiu abrindo a porta do escritório.

Saí daí respirando fundo e contando de um a dez repetidamente, na esperança de acalmar minha angústia, peguei no meu peito e senti o colar que ganhei de presente de minha mãe, e logo pensei « Ah mamãe! Como a senhora me faz falta, será que sou a única que ainda não te esqueceu? Por favor me dê um sinal, eu preciso de uma resposta sua.» E as lagrimas começaram a cair, meu peito doía e o ar parecia cada vez mais pesado para mim. Quando dei por mim estava de frente ao rio sena, e as lembranças começaram a invadir a minha mente.

Era numa tarde de verão minha mãe sorria olhando para o céu, e explicava o porquê da gente ter mudado para França, ela afirmava que foi porque meu pai recebeu uma oferta da embaixada francesa em Angola por causa da sua pesquisa relacionada as antigas civilizações, e que foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas pois aqui além do idioma novo que aprendeu ela teve a oportunidade de realizar seu sonho de ser uma principiante num dos restaurantes mais célebres de Paris, e que seu sonho estava ainda mais completo porque eu e meu irmão eramos testemunhas disso. Lembro que nesse dia a gente vagueou pelas ruas de Paris lembrando de como ela e meu pai se conheceram e de como é a cultura do pais de onde a gente vem, apesar da gente ter crescido aqui ela fazia questão de nos contar e mostrar como são as nossas raízes.



Cheguei em casa exausta às quatro e quinze da tarde, parei em frente a porta e respirei fundo, algo em mim pedia para que meu pai não estivesse lá me esperando para conversar, então abri a porta e encontrei Harry de roupão, deitado no sofá diante da televisão comendo pipoca. Larguei minha bolsa por cima do bengaleiro. E logo me sentei ao seu lado e o abracei forte, escondendo meu rosto em seu peito, em fracção de segundo as lagrimas voltaram a manar, sentia meu peito arder e os pulmões pesarem como se ar fosse preso dentro dele.

Egito - Um Reino perdidoWhere stories live. Discover now