Capítulo 44 - Boa sorte

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"As pessoas da minha vida tem o hábito de desaparecer dela." (Se eu ficar – Gayle Forman)

Silêncio. Tristeza. Raiva. Confusão. É isso o que eu estou sentindo.

Como o Henrique pôde?

– Não é nada disso que você está pensando.

– Não? Então me diz, Karen. Me diz o que é. Porque a única coisa que eu consigo imaginar é que enquanto eu fico aqui, trancado na merda desse quarto, com quase todas as pessoas que eu conheço achando que eu sou um drogado, a minha namorada está lá, beijando o ex. Me fazendo de idiota.

Namorada?

Eu me sinto incapaz de responder por um tempo, assustada, ofendida, como se tivesse esquecido o que é falar. Quem tirou essa foto?

– Não... – minha voz sai como um sussurro

Rafael suspira e depois sorri, um sorriso fraco, triste.

– Eu deveria saber... Foi um erro.

– Um erro? Você está dizendo então que nós somos um erro?

– Não foi isso o que eu quis dizer.

– Mas disse.

– Não! Desculpa, não tive a intenção de... Espera, não faça parecer que eu sou o errado da história.

– E de certa forma é. Por não confiar em mim.

– Como eu posso... – ele para, olhando a foto por um momento, e continua, sem olhar para mim – Tá. Explique-se, pelo menos.

Sinto a raiva tomar conta de mim. Será que depois de tudo o que eu fiz, não merecia nem mesmo um voto de confiança dele?

– Quer saber? Eu não vou explicar coisa nenhuma. Porque do que adiantaria, se você não acredita, não confia em mim?

– Eu confio...

– Não é o que parece.

– Mas fica difícil com uma prova como essas!

– Isso não prova nada! Só que você é um idiota.

– Eu?

Reviro os olhos. Uma forma de evitar que as lágrimas comecem a cair. Não quero chorar na frente dele.

– Não sei nem o que eu ainda estou fazendo aqui.

Eu bufo, trotando em direção à janela, mas o Rafael me segura pelo braço.

– Espere. – ele pede, seus olhos fixos nos meus.

– Esperar o quê? Eu não quero ficar aqui pra continuar ouvindo isso. – me solto do aperto dele – Porque, sabe, eu estive com você todo esse tempo. Em nenhum momento eu duvidei da sua inocência, Rafa. Eu vim aqui, nós ficamos juntos, e foi tudo ótimo. Aí você simplesmente duvida de mim e acredita na primeira coisa que inventam só pra separar a gente? Você sabe como o Henrique é!

– Não! Desculpa. É que eu só... eu só tenho medo de perder você.

– Ah, é? Boa sorte, então. Porque agora as chances de isso acontecer aumentaram bastante.

– Ka. Por favor.

Mas eu não quero ouvi-lo. Não quero ouvir ninguém. Só quero ir pra casa e chorar em paz. Apenas eu comigo mesma.

Eu desço as escadas novamente, esperando que ele não venha atrás de mim, e é exatamente isso que ele faz. As ruas hoje parecem mais tristes, diferente da última vez que eu vim aqui. Quase não há pessoas na rua, ou talvez seja apenas as minhas lágrimas que me impedem de ver direito, ou a minha falta de atenção, ou porque eu estou andando rápido demais. Não há mais aquele cachorro estranho para sorrir pra mim. Eu nem mesmo ouço o Seu João falando comigo quando passo correndo pela portaria direto para o elevador. Ou a Irene, quando eu entro em casa feito um furacão e me tranco no quarto. Agora sim, só eu e a minha raiva.

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