Capítulo 56 - Onde tudo começou

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"É isso que o amor faz: que você queira reescrever o mundo. Que você queira escolher os personagens, construir os cenários, dirigir o roteiro. A pessoa que você ama senta de frente para você, e você quer fazer tudo que estiver ao seu alcance para tornar isso possível, infinitamente possível. E quando são apenas vocês dois a sós, você pode fingir que é assim que as coisas são, que é assim que as coisas serão." (Todo dia - David Levithan)

A primeira coisa que eu vejo ao abrir os olhos é o Mint serpenteando pela minha cama. Ele ronrona e rola alegremente de um lado para o outro, balançando o rabo e miando como se estivesse tendo uma espécie de diálogo de gato comigo.

Eu sento na cama e bocejo.

- Ei, garotão. - ele vem até mim e para ao meu lado. Eu afago seus pelos macios enquanto ele move levemente a cabeça em aprovação.

Levanto e caminho até a cozinha. Mas não consigo entender o que vejo a seguir. Alguém - uma mulher - está de costas para mim, de frente para o fogão, cantarolando uma música calma enquanto cozinha algo.

- Mãe?

Ela vira. Minha mãe sorri da maneira extremamente acolhedora como sempre costuma fazer.

- Bom dia!

- Mas... hã. Eu não te vi aqui ontem. Quando você...

Antes que eu termine a frase, vejo pelo canto do olho meu pai saindo do banheiro. Ele está de camiseta, bermuda e chinelos - o que é realmente raro, mesmo que seja sábado e ele não vá trabalhar hoje - e tem uma toalha branca jogada sobre o ombro.

- Bom dia, queridas.

- Bom dia. - responde minha mãe, radiante.

Olho para o meu pai, depois para a minha mãe, depois para o meu pai novamente.

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

Eles se entreolham.

Meu pai abre a boca, mas é interrompido pela minha mãe antes mesmo de dizer alguma coisa.

- Vamos tomar café da manhã, ok? Podemos conversar enquanto isso.

Ainda sem entender muito, eu sento à mesa. Logo minha mãe aparece ao meu lado com ovos mexidos na frigideira e pão bem torrado dos dois lados, como só ela sabe que eu adoro. Ela pode não ser a melhor cozinheira do mundo, mas nem mesmo a Irene consegue superá-la quando se trata deste prato. Ele tem gosto de passado. Me faz lembrar das manhãs em que eu tomava café em família, como agora, mesmo que eu ainda esteja meio confusa com a situação.

Quando estamos quase terminando, eu falo:

- E então...

Meu pai pigarreia.

- Filha, eu e sua mãe precisamos te contar uma coisa...

- Eu e seu pai estamos juntos novamente! - dispara ela, e os dois sorriem.

Minha boca se abre numa espécie de perplexidade misturada com um sorriso.

- Oh, meu Deus!

Levanto da cadeira e envolvo-os num abraço. É a melhor notícia que eu poderia receber. Terei a minha família de volta!

- Nós percebemos que, apesar das diferenças, ainda nos amamos muito. - meu pai passa o braço pelo ombro da minha mãe.

- E eu desisti daquela viagem de trailer pelo mundo. - ela assume - Não era lá uma boa ideia.

- Com certeza não. - digo sorrindo.

Mas, de repente, um pensamento me ocorre. Meu sorriso murcha.

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