CAPÍTULO 06

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SABINA
Maratona: 04/10

Desde a quarta-feira, quando almoçamos juntos e tivemos aquela conversa constrangedora, não vi mais Noah. Tentei me controlar para não perguntar a Jojo o que tinha acontecido com ele, que mal parava em casa, porque aí ela se daria conta de que eu estava prestando muita atenção na rotina do meu vizinho.

O que não queria dizer nada, né? Morávamos um ao lado do outro, e era normal que eu soubesse que saía super cedo todos os dias e voltavam bem tarde. As vezes a luz do sótão ficava acesa até a madrugada, e eu me perguntava o que ficava fazendo lá — será que estava mexendo no presente de Sofya? Porque acompanhado ele não tinha chegado mais nenhuma noite e...

— Caraca, Sabina, sai da janela! Está parecendo uma velha fofoqueira, Por que não pergunta sobre Noah para mim ao invés de stalkear o pobre coitado?

Puta que pariu!

Sobressaltei-me com o susto, porque estava tão entretida em minha inspeção da vida alheia que cheguei a pular, com Sofya no colo. A safadinha gostou, acreditando que se tratava de uma brincadeira, e finalmente decidiu largar o meu cabelo, que estava em sua boca babada, para dar uma risadinha gostosa.

— Ei, Moranguinho, você deveria ser minha cumplice e não rir da minha cara! — exclamei para ela, em um sussurro. Então, voltei-me para Jojo: — Quem disse que eu estou stalkeando o Noah?

Revirando os olhos, aproximou-se de mim, dando uma olhada pela janela, onde seu irmão estava lá, em sua atividade de todos os domingos: lavando o carro — como sempre sem camisa —, e era a primeira vez que eu o via em dias.

— Hum, então você está com tesão no Seu Walter? — ela apontou para o coroa de uns setenta anos, que todos os dias tomava sol na porta de casa, em sua cadeira de praia, enquanto lia o jornal sem camisa, com a barriguinha proeminente de fora.

— Você não pode negar que ele é um partidão. Viúvo, aposentado, filhos criados, bem sucedido... eu poderia levar um pouco do frescor da minha juventude para ele... — zombei.

— Cínica — ela acusou. — Você deveria ir lá falar com o Noah. Ele ainda está esperando a sua resposta. Não é possível que seja assim tão difícil decidir se você quer aparecer na festa da sua irmã com um cara gato e gente boa para calar a boca daquela gente podre.

— Ainda não tenho uma resposta, mas não por culpa dele. Eu só... — Respirei fundo, afastando me da janela e colocando Sofya no cercadinho, com seus brinquedos. Então, joguei-me no sofá, em uma posição derrotada. — Não me interprete mal, mas eu odeio mentiras. Não sei se vou conseguir, sabe? Aparecer lá, na frente de todas aquelas pessoas, fingindo que somos uma família feliz, quando ele é nada mais do que um conhecido.

— Você só teria que fingir durante as festas, não? São duas... — Joalin se sentou ao meu lado

— Que nada! Vai ficar um pessoal hospedado na casa da minha mãe. Umas tias, umas primas de quem eu nem lembro o nome... Uma galera.

— Quantos quartos têm na casa da sua mãe? — ela perguntou boquiaberta.

Erguei uma sobrancelha, quase frustrada.

— Muitos. Pode acreditar, eles têm condições de receber todo esse povo de forma confortável.

— Uau! — ela comentou, surpresa. — Seja como for... eu acho que eles até merecem ser enganados.

— Eu estou pensando. Juro que não vou enrolar mais o Noah dessa forma. Hoje vou ligar para a minha irmã e vou tomar uma decisão.

— Isso. Até porque, ele vai precisar se programar. Está correndo que nem um doido no escritório para cumprir tudo o que ainda tem que terminar, porque está empolgado com o restaurante.

𝐏𝐚𝐢 𝐝𝐞 𝐀𝐥𝐮𝐠𝐮𝐞𝐥, 𝘶𝘳𝘳𝘪𝘥𝘢𝘭𝘨𝘰 𝘢𝘥𝘢𝘱𝘵𝘢𝘵𝘪𝘰𝘯 Onde histórias criam vida. Descubra agora