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Voltamos a perambular pela rua assim que saímos. E tentei acompanhar as provocações dos meus amigos, rindo todas as vezes que Jackson era parado pelas garotas, enquanto Minzu revirada os olhos, em pura indignação, murmurando coisas inaudíveis para Bobby, que provocava-a, falando que ela estava apenas com ciúmes, o que não era uma mentira.

Ela amava o Halloween, como todos nós. Mas era ciumenta em relação aos seus melhores amigos. Sempre foi.

No fundo, entretanto, aquela ação era apenas para nos proteger.

Enquanto o tempo passava, tentei afastar aquelas mortes da mente, deixando meu corpo ferver de alegria e adrenalina. Observando toda a movimentação, as fantasias esplêndidas e risadas frouxas de amigos mesclado a gritos inquietante dos sustos...

Era lindo. Como um desfile brilhante de pessoas ainda mais brilhantes, aproveitando suas vidas da melhor maneira possível.

— Então, o que querem fazer esse ano? — Bobby perguntou, ao nos sentarmos na calçada.

Com um sorvete de morango na mão, Jackson deu de ombros. Eu apenas aguardei as possibilidades, curiosa.

Sabia que jogávamos no Halloween. Fazíamos isso desde que me mudei. Pegadinhas e mais pegadinhas com estranhos e policiais - que nos conheciam perfeitamente bem, por sinal -. Mas era somente durante algumas horas, antes de nossa vida voltar ao normal.

Apenas alguns vários minutos, para sentir a adrenalina, ignorando a responsabilidade que bateria em nossas portas no dia seguinte.

— Nós podemos ir na praça — Jackson deu a ideia.

— Nesse horário? Lá está um inferno agora — falei, recordando-me de como foi difícil atravessar a avenida. Parecíamos formigas sendo esmagadas por nós mesmas.

— Que tal uma aposta? — ele sorriu, encarando-me.

Ergui uma sobrancelha.

— Que tipo de aposta?

— Não sei. Qualquer uma — deu de ombros.

— Parece meio sem graça — Minzu disse.

— Não se o perdedor pagar uma penalidade sempre que não for capaz de conseguir concluir o desafio — Bobby botou lenha na fogueira.

— E o vencedor ganhar algo também — eu acrescentei.

— Defina algo.

— O que você quiser.

De repente, o celular de Minzu vibrou. Ela olhou para mensagem rapidamente, então voltou sua atenção para nós, como se tivesse tido a ideia mais brilhante do mundo.

— Que tal uma corrida? — falou, mostrando-nos uma foto.

Era uma casa. Mas não qualquer casa, todos nós sabíamos.

— Até o inferno? — zombou Bobby. — Caralho, eu nem lembrava mais desse lugar.

— Nem eu — deixei as palavras saírem, observando a mansão preta.

A antiga moradia da família Takahasi tinha sido uma das casas de horror mais conhecidas do Japão. Todos os anos, jovens se reuniam, visitando-as, como uma forma de demonstrar coragem. E quase todos saiam de lá da mesma forma: completamente perturbados.

As pessoas costumavam dizer que ninguém nunca tinha coragem de ir lá duas vezes. E talvez fosse verdade, mas nunca saberíamos. Quer dizer, até hoje.

— Eles voltaram a abrir a casa para os shows de horror — Minzu falou. — Depois de dois anos parados após aquele assassinato...

— Você realmente quer nos levar até lá? — Jackson perguntou, sério.

— Podemos ir só para ver. Quem chegar primeiro ganha.

— É, mas nós ainda precisamos passar pela avenida para conseguir isso — Bobby falou com uma careta. — E eu, sinceramente, não quero gastar minhas energias com isso.

— Você está com medo, Kim Jiwon? — Minzu cruzou os braços.

No ano em que Gave foi morta, junta aquelas outras pessoas e a família Takahasi, estávamos lá. Tínhamos nos perdido dela por sorte - e também azar -, então saímos para conferir se a garota não estava do lado de fora, esperando por nós.

Foi quando escutamos os gritos. Pessoas correndo, sangue no corpo de algumas delas, feições perturbadas em puro trauma. A polícia notificou que alguém havia se infiltrado como um dos funcionários para se vingar da família.

Mas se esse fosse realmente o caso, Gave ainda estaria conosco.

— É perigoso, Minzu. Tem um assassino a solta. E desrespeitoso.

— Talvez seja perigoso, realmente. Mas não desrespeitoso, se foram eles que decidiram voltar a ativa. Quer dizer que finalmente saíram do luto. É bom. Nós podemos nos divertir.

— Você também? — Eu perguntei para ela.

— O quê?

— Você também saiu do luto?

Alguns segundos de silêncio ecoaram pelo local. Eu mantive meus olhos nela, esperando uma resposta que não veio. Tinha sido dura demais?

— Apenas um dia no ano — insistiu, olhando-nos. — Vamos fazer isso hoje, depois tudo será sem graça. O que pode dar errado?

Outra maldita morte, desejei falar, porém, não o fiz.

— Certo, vamos nessa — Jackson levantou-se ao terminar seu sorvete. Ele nos olhou, dando de ombros: — Gave faria o mesmo em nosso lugar. Ela provavelmente diria que nossas almas não aguentariam viver sem diversão. Temos que honrá-la.

Com um suspiro pesado, Bobby olhou para mim, esperando uma resposta. Aquilo era uma votação. E estava empatado, pelo visto. Dois contra dois.

— Eu não vou se você não quiser ir também — ele disse calmamente para mim. — Então vamos precisar pensar em outra coisa.

— Você quer ir? — perguntei para ele.

— Vou a qualquer lugar com vocês.

Revirando meus olhos, levantei, ajudando-o a se erguer também. Apesar de reclamar ser um dom natural do garoto, ele nunca nos largava, era verdade.

— Odeio essa ideia, mas amo vocês — disse para eles, a voz fingindo seriedade. — Vamos logo fazer isso.

— Sabia que vocês não eram tão caretas assim! — a voz da garota estava em pura empolgação.

Ela deu batidinhas animadas no chão e nos puxou para um abraço. Sorrindo, retribuí aquele toque com sinceridade. Mas deixei minha mente se perguntar se caso Gave de fato estivesse aqui, ela teria realmente essa atitude, como foi dito antes? Era um pouco difícil de saber. 

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⏰ Last updated: Oct 23, 2021 ⏰

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Halloween ❄ Kim WoosungWhere stories live. Discover now