2

110 13 2
                                    

Eu ainda olhava para trás quando Minzu me puxou. Seus passos acelerados, como todas as outras pessoas. Tínhamos que atravessar logo ou seriamos deixadas para trás, eu sabia. O problema era que meus olhos ainda o observavam, tão bem que, quando ele elevou a faca em sua mão direita e passou-a por volta de seu pescoço lentamente, eu gelei. E ele notou, soube disso porque no mesmo segundo o estranho soltou um largo sorriso inexplicável e fez um sinal. Era um número. O dois. Então sibilou, de um jeito prático: now.

Mesmo que quisesse, naquele momento, não fui capaz de continuar encarando-o. Por isso, tentei tirar os pensamentos de que aquela sua atitude poderia ser um aviso e terminei de atravessar a avenida com Minzu.

— Por que ficou parada feito boba naquela hora? — ela perguntou.

Agora, do outro lado da avenida, estava tão mais fácil de andar.

— Viu aquele cara atrás de mim?

— O cara de corvo?

— É, ele.

— Vi, por que? Tentou pedir seu line?

— Não. Mas ele falou umas coisas estranhas, sei lá.

— Que tipo de coisas estranhas? Se ele tava incomodando você, era só falar comigo. Eu sei espantar garotos, esqueceu? É minha habilidade especial.

— Deixa pra lá, não vale a pena repetir o que ele disse — falei, tentando tirar a conversa que tivemos da minha cabeça.

"Como você sabe? Como tem certeza que não é você?"

Fazia algum sentido?

É claro que não.

Nenhum.

A faca no pescoço, os números, a palavra em inglês... Now. Agora.

O que havia acontecido agora?

— O que é aquilo? — Minzu apontou para frente.

Segui seu olhar assustada, pensando que
poderia ser o tal cara fantasiado, mas na verdade Minzu apontava para os telões postos nos prédios da rua, que iluminavam a noite bagunçada com propagandas e músicas.

Fiquei confusa, até que elas começaram a ser trocadas lentamente para uma única notícia que estava no canto de um telão distante. Parecia uma aviso importante.

"Comunicamos a todos que nesta noite, um assassinato acabou de ocorrer pelas ruas de Shibuya", pronunciou, um homem. Pensei tê-lo já tê-lo visto em algum lugar importante, até que lembrei que era o jornalista das oito.

"O suspeito ainda permanece oculto então sugerimos que evitem andar em lugares com pouco movimentos e..." Ele de repente parou de falar e elevou a mão direita para perto do ouvido, como se tivesse acabado de receber uma nova informação pelo diretor. Então olhou para o telão, meio atônito, remexeu na gravata brevemente e continuou: "Perdão, houve uma correção. Foram dois. Dois assassinatos."

Mesmo que soasse um pouco absurdo, a primeira coisa que veio em minha mente ao ouvir aquilo foi o estranho fantasiado e suas mãos com sangue. Mas era falso, não era? Tinha que ser.

— Que tipo de pessoa faria algo assim? Credo, fiquei arrepiada — Minzu comentou, enquanto o apresentador continuava a dar as notícias.

"Atualmente a polícia está agindo para descobrir quem poderia ser o autor do crime e a única pista encontrada foram os cortes da faca, portanto, tomem bastante cuidado. Happy Halloween a todos."

Assim que terminou sua frase, os telões voltaram às antigas propagandas enquanto eu tentei manter a calma.

Aquele cara... ele também estava com uma faca naquele momento. E parando para pensar, se fosse realmente um plástico, teria incomodado tanto quando ele se aproximou de mim? Teria incomodado quando aquele rápida sensação gélida do ferro tocou minha cintura levemente?

Halloween ❄ Kim WoosungWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu