Copycat

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Roi de novo. Primeiro vou esclarecer uma coisa que talvez tenha ficado mal entendida: esse é um dark romance, não um conto gore sem pé nem cabeça, portanto nenhuma violência narrada aqui é gratuita e apelativa, tudo o que exponho tem por objetivo construir o contexto investigativo. Por favor, tenham senso interpretativo e não julguem como um apologia.
Acima de tudo, espero que aproveitem a leitura e continuem acompanhando :)

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Pontual como sempre, a guarda real lotando o local não foi um problema que rendesse tamanha falta de educação como deixar seu admirador esperando. Tinha que admitir, não esperava que Krampus fosse conseguir quando viu quinze guardas e uma iluminação absoluta por cada ponto cego da praça, mas novamente foi surpreendido da maneira mais agradável possível que apenas seu querido Krampus conseguia fazê-lo.

Enquanto caminhava passando por cima dos corpos caídos com um desprezo semelhante a estar evitando uma pilha de lixo, ele chegou ao menos a parar e focar sua audição para detectar batimentos cardíacos. Contou quinze corações batendo e sorriu com satisfação, pois notou que Krampus foi atencioso em não poluir seu presente com sangue de guardas que não valiam o esforço. Prosseguiu a caminhada, as luzes estavam apagadas novamente, uma escuridão absoluta para qualquer espécie que não fosse noturna, mas não era seu caso. Estava ansioso para ver o que lhe aguardava, a deliciosa adrenalina que fazia seu coração bater de forma que não sentia há séculos já se fazia presente, a euforia de receber a resposta dele. Mesmo assim não correu, queria chegar no tempo exato e se corresse não apreciaria a experiência da maneira correta e sabia que tudo foi preparado para causar a experiência.

Faltavam cinco segundos para as três da manhã. Enfim tinha chegado no centro da praça e sentiu algo deslizar na canela direita quando deu o último passo, uma linha que claramente era uma armadilha. Ele ouviu o som do projétil chegando e segurou no ar quando já estava a centímetros de acertar sua têmpora. Não levou para o pessoal, esses ataques nunca eram verdadeiramente hostis e sabia disso, seu Krampus tinha um senso de humor charmoso e gostava de provocar, era o que tornava tudo tão excitante. Na faca havia um bilhete com a localização do próximo encontro e atrás um recado carinhoso.

Aproveite o jantar.

Um sorriso ladino tomou o rosto sombrio, os olhos brilharam como se voltasse a ser um adolescente apaixonado. Essa expressão, porém, logo sumiu quando ouviu um tique-taque que parou após três toques e emitiu um som de sino como uma espécie de pomodoro. Assim que esse sino tocou, as luzes acenderam apenas ao redor de uma grande cortina vermelha que incendiou e num piscar de olhos se reduziu a cinzas, deixando exposto o cenário macabro de dois casais sentados frente a frente numa mesa de jantar posta. Rorsat estava sentado ao lado da esposa sem olhos, logo de frente estavam os pais de Neirin, sem olhos também. Todos vestidos com roupas requintadas, as bocas da esposa de Rorsat e dos pais de Neirin estavam suturadas, suas respectivas línguas e olhos estavam postos nos pratos, apenas o prato de Rorsat era diferente: seu próprio pênis estava ali, servido como uma iguaria. Na ponta da mesa tinha um quinto prato coberto por um cloche de prata, fora especialmente preparado para Shapeshifter.

Sentou-se no seu devido lugar, a prata do cloche não incomodou pois as luvas de couro protegiam, assim pôde abrir e admirar seu próprio prato. Era o coração. Não estava cru, tinha sido cozido, era um prato requintado com especiarias, molho, tudo o que garantisse a melhor experiência gastronômica possível. Os talheres eram decorativos, nunca usava os que eram deixados pois sabia que eram de prata, os seus poderiam ser usufruídos sem se preocupar com resquícios da saliva caindo como uma prova nas mãos da guarda real.

─── Você me mima tanto ── cortou cuidadosamente uma fatia do coração e saboreou a iguaria com profundo deleite. Seus olhos foram imediatamente para a outra ponta, ali possuía um prato vazio com resquício de sangue, indicando que Krampus também sentou para saborear. Era o mais próximo que tinham de aproximação e isso queimava as entranhas de Caspian por saber que ainda não seria essa noite que o encontraria ── "E novamente Psique amanheceu sozinha em sua cama" ── murmurou com melancolia o verso e continuou a refeição, não podia demorar demais, ainda tinha trabalho a fazer e o turno da guarda real trocaria em uma hora.

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