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01
s ɪ ɴ ᴀ
ᴅ ᴇ ɪ ɴ ᴇ ʀ ᴛ

Eu estava em um jardim, era lindo, todas as flores eram rosas da cor azul. É raro encontrar uma rosa azul, pois elas basicamente não existem por conta própria, elas são criadas por variações genética. Porém, nesse jardim só tinha rosas azuis, milhares delas. São surpreendentemente lindas.

Um vento muito forte bateu em minhas costas, fazendo meus cabelos se agitarem. Não só o meu cabelo, mas também as flores. O vento foi como um aviso, alertando que um temporal estava próximo.

Em seguida veio outra onda de vento, mais forte do que a primeira, o que me fez dar um passo à frente. Quando fiz isso, todas as flores murcharam, ficaram pretas e sem vida. Sobrou apenas uma flor azul. Fui até ela, me agachei e, quando a toquei, instantemente ficou vermelha... um tom de vermelho sangue, que só de olhar me fazia sentir calafrios.

Abro os olhos, que doem com a claridade do sol em meu rosto. Estou muito suada e ofegante. Toda vez que tenho esse sonho acordo assim. Não é sempre que sonho, mas quando sonho sempre é o mesmo sonho. Pergunto-me o que significa. Não tenho o privilégio de ter sonhos diferentes a cada noite. Quando eu era pequena, contei para minha mãe e ela me disse que rosas azuis significam "o mistério" e a rosa vermelha significa "a paixão".

Essa era a explicação da minha mãe, uma explicação vazia, que não fazia sentido para mim. Por que as rosas azuis morreram e sobrou apenas uma? Por que, quando toquei a última rosa azul, ela se tornou vermelho-sangue? Eu queria uma resposta, de preferência lógica.

― Sina! — Coloco o travesseiro no rosto.

Era tão cedo e Josh já começou a gritar. Sento-me na minha cama e olho em volta, analisando o meu quarto. Por que está cheio de caixas espalhadas por aqui?

― Droga. ― Dou um pulo da cama e vou até o banheiro. Eu me esqueci completamente que hoje seria o dia em que iríamos nos mudar. Faz cinco meses que estamos morando em Illinois, no estado de Chicago, esse foi o período mais longo que ficamos em uma cidade. Eu e minha família sempre nos mudamos de uma cidade para outra, de um estado para o outro, é assim desde que meus pais sumiram, mais ou menos dois anos atrás.

Eu sempre pergunto ao meu irmão mais velho por que que nós não podemos parar em uma cidade e construir raízes, por que nós não temos uma alcateia, sendo que não somos ômegas... e a pergunta que vem me assombrando há décadas: por que não podemos voltar para a nossa casa? Por que meus pais sumiram? Mas, a resposta dele sempre é a mesma: "não podemos confiar em ninguém, é para o bem de todos nós." Isso me dá muita raiva, pois sinto que ele me esconde algo muito importante.

― Sina, cadê você? ― Ouço a voz de Josh em meu quarto.

Abro a porta do banheiro com a escova de dentes na boca. Ele me olha sério, com os braços cruzados e aquela cara de mandão.

― Eu acordei faz horas, só estava arrumando as caixas ― minto, com a espuma da pasta de dentes caindo.

― Não mente para mim. Sei que acabou de acordar, as suas caixas estão do mesmo jeito desde a semana passada. A sua cama está revirada. ― Ele vai até a minha cama e coloca a mão nela. ― E ainda está quente, sem contar que seu rosto está amassado.

Reviro os olhos.
― Você é muito chato. Qual é? Não tenho o direito de acordar tarde? ― Cuspo a espuma que estava na minha boca.

― Claro que você tem o direito de acordar tarde, mas também tem que ter responsabilidade.

Enxaguo a boca e lavo o rosto.
― Não começa com esse papo de responsabilidade, senhor careta. Eu tenho responsabilidade, sim. ― Jogo-me na cama.

― Você tem responsabilidade quando quer. ― Rolo na cama e ele dá um tapa na minha bunda. ― Trate de ter responsabilidade agora. Levanta, termina de encaixotar suas coisas e coloque lá embaixo junto com as outras.

― Tudo bem ― resmungo.

Ele dá um beijo na minha testa e sai do quarto. Levanto e começo a colocar o resto das minhas coisas na caixa. A cada mudança que fazemos aumenta a minha bagagem. Acho que na próxima vez que eu me mudar vou ter que me desfazer de alguns pertences.

Eu estava sentada no chão e fechando as últimas caixas quando senti algo subindo em minhas costas.

― Tudo bem, fique calma ― digo a mim mesma, tentando não surtar. Levanto-me com cuidado, vou até o espelho e me viro para ver o que é. ― BAILEY! JOSH!

― Sina. ― Vejo o Bailey me encarando da porta e sinto algo diferente se movimentar na minha pele.

Começo a pular feito uma doida desvairada e Josh apenas ri do meu pânico, o que me fez dar mais gritos.

― SEU IDIOTA, FAZ ALGUMA COISA! ― Ele não para de rir. Eu tenho pavor de aranhas...

Ele vem até mim e eu me viro, impaciente.
― Fica quieta, Sina, senão eu não vou conseguir tirar. — Enquanto ele tentava controlar a risada, eu estava prestes a morrer de ataque do coração.

― Anda logo ― digo, impaciente.

― Olha aqui a sua amiguinha. ― Ele me mostra aquela coisa horrível que se encontrava em sua mão.

― Tira isso de perto de mim ― digo apavorada e ele começa a rir novamente.

― Tem tanta coisa para se ter medo e a dona Sina Deinert tem medo de uma aranha. — Ele revira os olhos. — Você é uma loba... é até vergonhoso ver você ter medo disso. — Ele termina de falar e sai do meu quarto.

Não é medo... apenas nojo. Não só de aranhas, mas de qualquer inseto que seja peludo. Morro de medo... digo, nojo.

Pego as caixas e levo tudo para o andar de baixo, colocando em cima das outras. Já tinha alguns homens carregando as caixas e colocando-as no caminhão. Vou para fora e vejo Josh e Alex supervisionando. Vou até eles.

― Já trouxe tudo, medrosa? ― fala Josh em um tom brincalhão, Bailey ri e eu reviro os olhos.

― Já ― digo, cutucando-o. ― Josh... ― Ele me encara. ― Você ainda não me disse para onde vamos dessa vez.

― Nova York. ― Ele sorri. ― Vamos nos
mudar para Nova York.

🗝️|ᴏ sᴜᴘʀᴇᴍᴏ ᴀʟᴘʜᴀ • ɴᴏᴀʀᴛ [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora