7 - Convite

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O vapor quente tomou conta do banheiro espaçoso.

Imóvel, Bernard mantinha os olhos fechados, concentrado no som das gotas quentes em contato com sua pele. Tentou relaxar enquanto massageava os cabelos, porém, terminou o banho sentindo-se ainda mais fadigado.

Vestiu uma camiseta leve de algodão e a cueca samba-canção que Giulia tanto odiava. E então, estava traindo a si mesmo mais uma vez. Só ele sabia como era difícil conciliar sua vida pessoal com a profissional, principalmente nos últimos cinco anos.

Andrew.

Por mais que ele negasse, que todos dissessem que ele era o melhor dos pais, Bernard sempre se sentia culpado, ausente quanto a criação do filho.

Porém, o que mais o cansava era a mudança de Giulia. Bernard viu a mulher mudar de uma feminista extremista para uma dona de casa omissa e completamente ciumenta. Mas, ele a amava. Sentia sua falta e daria qualquer coisa para pousar em Londres ao amanhecer; beijaria a esposa e abraçaria o filho.

Deitou a cabeça cansada sobre o travesseiro de ótima qualidade, sabendo que ao amanhecer ainda estaria no mesmo quarto desconhecido e com sorte, a um passo a menos do fim. Entretanto, Bernard não é o tipo de pessoa que costuma se considerar “com sorte”.

x-x

Os raios de sol transpassavam o tecido fino da cortina, atingindo o rosto de Bernard que acordou praguejando.

Após uma ducha rápida, vestiu-se inteiramente de preto e desceu as escadas para a troca de turnos com Josh e Johnson. No último degrau, um cheiro forte vindo da cozinha chamou sua atenção e então, decidiu andar até lá.

Johnson revirava ovos em uma frigideira sobre o fogo alto e logo Alexia adentrava o cômodo, curiosa.

- Hmmmm – disse na ponta dos pés, tentando espiar sobre os ombros de Johnson – Que cheiro maravilhoso é esse? – Os cachos vermelhos, agora desgrenhados, mostravam que ela acabara de levantar da cama às pressas. Vestia um pijama azul bebê e tentava manter os cabelos volumosos longe do rosto.

- Minha colônia nova, presente da patroa. – Johnson piscou.

- Acredito que não é desse cheiro maravilhoso que ela fala, Johnson. – Bernard comentou recostado ao batente da porta.

- Ah! – Logo a pose militar dominava Johnson. – Bom dia, chefe.

- Bom dia, chef. – O investigador arqueou uma sobrancelha – O que aconteceu com seu turno?

- O garoto está no controle. – Johnson deu de ombros voltando a mexer os ovos.

- Smith?

- Qual é chefe, dê um voto de confiança pro tampinha. – Alexia comentou pegando uma maçã da cesta.

Bernard analisou a cozinha e então percebeu uma enorme cesta recheada de pães e geleias. Suspeitando do silêncio, John olhou em sua direção, buscando algo que explicasse. Mais uma vez, deu de ombros.

- Presente de boas vindas do nosso vizinho hospitaleiro.

- Vizinho hospitaleiro? – O investigador se aproximou da cesta, dando uma longa fungada. Buscava algum odor estranho, algo suspeito, algum pó diferente. Nada. – Sei...

- É, ontem um vizinho me abordou. – Johnson servia uma xícara de café para Alexia, que maneou a cabeça agradecendo – Acho que me esqueci de comentar essa parte. – O velho sorriu amarelo.

- É. Esqueceu. ­– Bernard o encarava sério.

- Enfim, hoje o cara passou aqui bem cedo e entregou a cesta de boas-vindas. – Em um segundo, Alexia já estava ao lado de Bernard; ela por sua vez não analisava a cesta, revirou-a em busca de algo que lhe interessasse. – Têm pães, geleia de diversas frutas e... – Os gritinhos animados da garota mostravam que ela havia encontrado algo de seu interesse. - Esses nojentos iogurtes naturais.

[Completa] - Behind The Enemy LinesWhere stories live. Discover now