Capítulo 8

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Temendo pela minha vida, pedi para Lennon esperar. 

A feição dele não era a melhor, mas até entendia. 

-Lindo, eu juro que converso com você. -Falei já no portão com ele. 

-Tá, vai fazer seus bagulhos. -Ele retrucou sério. -Depois nós conversamos. 

E assim, ele pegou o rumo dele. 

-Eu ainda te mato, Didi. -Bufei raivosa. 

Caminhei com passos pesados até a casa antiga de Bebeto, Didi já me esperava na porta. 

-Olá, patricinha. -Debochou. -Estava ocupada? 

-Não te interessa. -Sorri cínica. -O que você quer? 

-Com essa parada do Bebeto, eu estou mais ocupado e tive que pegar alguns vapores, tá ligada? -Assenti meio sem entender onde ele quer chegar. -Por isso, a escala vai mudar. 

-Que escala, mano? Minha função é outra, contabilidade. 

-ligado, mas tu vai fazer mais trampo, Pati, esqueceu? -Ele explicou cruzando os braços. -Primeiro, ficar na boca, vendendo. Segundo, vai fazer a contabilidade quando terminar seu turno. Terceiro, cuidar do Bebeto, fechô

Dei risada quando ele terminou de falar. 

Escrava Lívia agora, né? 

-É mesmo? -Debochei. -Que mais?

-Para de ser cínica, garota. -Ele grudou no meu braço. -Agora, estou no comando e você faz o que eu mandar. 

-Me solta, merda. -Falei entredentes. -Por que está fazendo isso? 

-Porque quero, fía. -Ele me soltou com brutalidade. -Só faz o que eu mandar. Volta em casa, pega sua arma e vai trocar com o Magrão, em 15 minutos eu passo lá. 

Respirei fundo e dei as costas pra ele, indo em direção a minha casa. 

Minha mãe estava deitada, por isso apenas a avisei que ficaria fora a noite toda, o que ela super estranhou. 

Peguei minha arma e corri até a biqueira, onde Magrão já me esperava. 

-Boa noite, Pati. -Ele me cumprimentou. -Se liga, vai ser tranquilo, ok? Tu já fez isso, só fica ligada de manhã cedo, a polícia gosta de subir cedo. 

-Beleza, obrigada. -Sorri sem graça. Magrão sorriu e me deixou sozinha. 

Olhei para o visor do meu celular e vi que era onze horas da noite. Meu turno terminaria ás 07 da manhã, haja força. 

Com o passar do tempo, as ruas ficaram mais desertas e por incrível que pareça, o tempo deu uma esfriada, a sorte é que eu estava com uma calça de moletom. 

As horas se passaram e sob os olhares de Didi, vendi uma boa quantidade, acho que a noite a galera compra mais, não é possível. 

Tudo estava muito bem, obrigada. 

O dia amanheceu, o pessoal começou a sair para o trabalho e eu lá, parecendo uma zumbi, algumas pessoas passavam e me cumprimentaram, outras fingiam que nem existia e é assim, sempre foi. 

Tudo certo para a troca, já via Sorriso de longe, mas ele paralisou ao ouvir os fogos. 

Meus olhos se arregalaram e eu encarei ele sem saber o que fazer. 

-Corre, Pati. Corre. -Ele, adivinhando meus pensamentos, falou alto. 

Eu não fiz diferente, comecei a correr, jogando tudo que podia pra trás. 

Jogava arma em cima de telhado, radinho, droga, corria e jogava. 

Meu medo de bater de frente com a polícia era maior que qualquer outra coisa, por isso, só consegui pensar em me livrar das coisas e me esconder.

Depois de me limpar toda, havia parado para respirar um pouco, já estava perto de casa, mas assim que levantei a cabeça, bati de frente com uma policial. 

Era só o que me faltava. 

-Parada! -Ela apontou a arma em minha direção. 

-Pelo amor de Deus, não tenho nada do que você quer. -Falei levantando a mão. 

Ela me encarou de cima a baixo e firmou seu olhar em meu rosto. 

-Você está com uma cara cansada.  

-Eu passei a noite na casa do meu namorado. -Menti. -Estava indo pra casa agorinha, vou trabalhar ainda. 

-E por que estava correndo? 

-Ouvi os fogos e já imaginei que seria invasão, cacei logo um lugar pra me esconder. -Tentei falar com uma voz firme. Não poderia derrapar em momento nenhum. 

-Está com a identidade? -Neguei. 

A policial me analisou com o olhar novamente e suspirou, abaixando sua arma. 

-Tudo bem, pode ir. -Ela falou séria. -Mas por favor, evite ficar correndo nessas ocasiões, poderia ter acontecido um acidente, vá para casa. 

-Certo. -Sorri fraco tentando não parecer nervosa. -Obrigada, tenha um bom trabalho. 

Apenas falei isso e passei pela policial, pegando meu caminho de casa. 

Essa hora, eu já não corria, minhas pernas estavam tão trêmulas que não conseguia mais correr. 

Ao chegar em casa, apenas entrei e me sentei na escada. 

Suspirei alto enquanto botava a mão no rosto, sabia que aquela policial ia me marcar, por mais que ela não tenha falado nada e me deixando passar, ela havia me marcado, sabia disso. 

Saí dos meus pensamentos quando ouvi minha mãe me chamar. 

-Lili? 

-Oi, mãe. -Olhei pra cima e a vi, já arrumada para o trabalho.

-Meu Deus, Lívia. -Ela desceu as escadas correndo e me abraçou. -Pelo amor de Deus, o que houve? Que cara é essa? 

-Vamos subir? -Ela assentiu e me ajudou a levantar. Eu não queria falar bem ali, na porta de casa, já pensou se passa um policial? Ia dar um b.o enorme. 

Subimos e nos sentamos no sofá, respirei fundo e soltei a bomba. 

-Quase fui pega pela polícia. -Os olhos dela se arregalaram.

-Como? Por que? 

-Eu passei a noite na boca e agora de manhã eles apareceram, a sorte é que consegui enrolar. 

-Tá vendo o motivo que odeio o que você faz? -Minha mãe se desesperou. -É isso que dá: cadeia! 

-Entendi, mãe, mas consegui escapar e é isso que importa -Me levantei antes que ela começasse a falar. -Escuta, vou tomar um banho, preciso comer algo e sair. 

-De novo?!

-Pois é...

-Meu Deus, o que faço com você? -Ela passou a mão no rosto. 

-Relaxa, mãe. -Disse. -Vai dar tudo certo. 

Essas foram as últimas palavras antes de ir para meu quarto, onde logo fui pro banheiro e tomei um banho, tentando tirar todo cheiro que eu tinha.  

Pensamentos me invadiram durante esse momento, por muito pouco, eu não fui presa e isso é tenso. 

Precisava prestar mais atenção, muito mais. 

Ou eu ficava mais ligada ou o pior poderia acontecer. 


Da Boca 『L7NNON』Where stories live. Discover now